4 mitos sobre a Esclerose Múltiplas e a alimentação

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Muitas pessoas com Esclerose Múltipla (EM) podem ficar em dúvida quanto à sua alimentação, ao tentar ou eliminar um determinado grupo de alimentos do consumo. As questões geralmente versam sobre a capacidade de cada alimento ajudar a evitar sintomas de EM, como fadiga ou declínio cognitivo, ou até mesmo mudar completamente o curso da doença.

Não é de admirar: alimentação especial, suplementos e até testes de sensibilidade alimentar são rotineiramente divulgados on-line como formas de diminuir substancialmente os sintomas da Esclerose Múltipla ou até mesmo “vencer” ou “curar” a patologia. 

Às vezes, essas recomendações são feitas por médicos, às vezes por praticantes de medicina complementar ou alternativa e, às vezes, simplesmente por indivíduos que se sentem melhor depois de mudar sua dieta.

A nutricionista Mona Bostick, autora deste artigo, tem Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR) e atende outras pessoas com Esclerose Múltipla sobre suas dietas. Ela encontrou muitos mitos sobre o papel da alimentação no controle da condição.

Na maioria dos casos, há pouca ou nenhuma evidência de que a mudança recomendada tenha algum efeito na EM. E pior, algumas dessas mudanças podem dificultar a obtenção de todos os nutrientes necessários para se manter saudável.

Aqui estão alguns dos mitos mais comuns – e a verdade sobre cada um deles.

  1. Mito: “Os laticínios são ruins para pessoas com Esclerose Múltipla”

Muitas das chamadas dietas para Esclerose Múltipla desencorajam o consumo dos produtos lácteos. Uma das razões dadas para este conselho é a afirmação de que os laticínios são inflamatórios – uma afirmação que foi amplamente desmascarada. 

Uma revisão de estudos publicados em maio de 2019 na revista Advances in Nutrition mostrou que a inclusão de laticínios na dieta não estava associada à inflamação entre pessoas sem condições de saúde ou entre aquelas com diabetes ou síndrome metabólica.

  • Quando se trata de Esclerose Múltipla em particular, qualquer teoria que sugira uma forte conexão entre a EM e produtos lácteos não foi suficientemente testada, o que significa que não há evidências de que o consumo de laticínios tenha algum efeito sobre a Esclerose Múltipla.

Outra teoria relacionada aos produtos lácteos, chamada de “mimetismo molecular”, sugere que a butirofilina – uma proteína encontrada no leite de vaca e em alimentos como queijo, manteiga, chocolate e sorvete – pode imitar parte da glicoproteína oligodendrócitos de mielina. Este é o componente da mielina pensado para iniciar a reação autoimune na EM.

  • Mas essa teoria é baseada apenas em estudos com animais e ainda não foi testada em ensaios clínicos em humanos – portanto, não há necessidade de evitar a proteína butirofilina, a menos que você saiba que é alérgico a ela.

Finalmente, alguns sugeriram que as pessoas com EM são mais propensas a serem intolerantes à lactose – o que significa que não possuem uma enzima necessária para digerir a lactose, o açúcar natural do leite – e que, portanto, comer produtos lácteos causa sintomas gastrointestinais desconfortáveis, como inchaço, gases, e diarreia.

  • Mas a intolerância à lactose não é um processo inflamatório e não é mediada pelo sistema imunológico. E não há evidências que sugiram que as pessoas com Esclerose Múltipla sejam mais propensas a serem intolerantes à lactose. É importante falar com seu médico se você tiver os sintomas mencionados acima, pois eles podem ter várias causas. A intolerância à lactose é apenas uma causa potencial.

 

Fonte de cálcio e vitamina D

A verdade é que os laticínios com baixo teor de gordura são uma excelente fonte de cálcio e vitamina D, nutrientes que desempenham um papel essencial na saúde óssea. Isso é especialmente importante para pessoas com EM, que têm um risco aumentado de fraturas, de acordo com uma pesquisa publicada em junho de 2012 na revista Neurology.

Além disso, obter consistentemente vitamina D suficiente em sua dieta pode estar associado a sintomas de Esclerose Múltipla menos frequentes ou graves, bem como a uma melhor qualidade de vida, de acordo com a Mayo Clinic.

Por que optar por laticínios com baixo em vez de alto teor de gordura? A principal diferença nutricional entre os dois é o teor de gordura, que é gordura saturada. As pessoas só precisam desse nutriente em pequenas quantidades todos os dias (10% de sua ingestão diária de calorias, de acordo com as Diretrizes Dietéticas dos EUA para Americanos). E ingerir regularmente muito dessas gorduras pode estar associado a colesterol alto e doenças cardíacas.

  • Se você não consome laticínios por qualquer motivo, como intolerância à lactose diagnosticada pelo seu médico, certifique-se de que suas alternativas de laticínios contenham cálcio e vitamina D para ajudar a proteger seus ossos.

Nota da AME:

Como este texto é uma tradução, é natural que os links indicados pela autora sejam também em inglês, original dos Estados Unidos, onde ela mora. Mas por aqui você também pode encontrar muito material interessante sobre alimentação.

Além do site da AME, com inúmeras matérias sobre alimentação na Esclerose Múltipla, você pode encontrar mais sobre o tema de maneira geral no site do Ministério da Saúde. 

Você sabia que eles disponibilizam alguns guias com dicas alimentares baseados em dados da população brasileira? 

Aqui você encontra a “Versão de Bolso do Guia Alimentar para a População Brasileira” e aqui você pode baixar a versão completa, o “Guia Alimentar para a População Brasileira” completo.

Ainda existe um guia chamado “Desmistificando Dúvidas sobre Alimentação e Nutrição” para profissionais da saúde. E também é possível baixar outras publicações para a promoção da saúde no Brasil.

 

  1. Mito: “Você deve ficar longe do glúten se tiver EM”

Você pode ter ouvido avisos para evitar o glúten – uma proteína encontrada no trigo, centeio e cevada – se tiver EM. Estes são muitas vezes relatos anedóticos de que o glúten faz algumas pessoas com EM se sentirem pior e evitar o glúten as ajudaria a se sentirem melhor. Além disso, muitas pessoas afirmam que o glúten está associado à inflamação no corpo em geral.

  • No entanto, a National Multiple MS Society (NMSS) afirma que não há uma relação clara entre glúten e Esclerose Múltipla, e nem todos com EM são intolerantes ao glúten. 
  • A Harvard Medical School acrescenta que “não há evidências convincentes” para mostrar que ter uma dieta sem glúten prevenirá doenças ou irá melhorar sua saúde, em geral, a menos que você tenha doença celíaca – uma doença autoimune que inibe a digestão adequada do glúten.
  • Outra coisa a considerar – alimentos sem glúten são frequentemente os alimentos mais refinados do mercado. Eles não são fortificados da mesma forma que os alimentos convencionais.

O que isso significa? Evitar desnecessariamente alimentos que contenham glúten pode privá-lo de nutrientes valiosos, como fibras, que ajudam a apoiar a saúde e a regularidade intestinal.

 

  1. Mito: “Grãos e feijões são proibidos para pessoas com Esclerose Múltipla”

Algumas dietas incluem recomendações para que as pessoas com EM evitem alimentos que contenham lectinas – um tipo de proteína encontrada em grãos, feijões e outros alimentos vegetais. Alguns afirmam que as lectinas podem causar sintomas ou condições autoimunes como a Esclerose Múltipla, mas não há evidências para apoiar essas crenças.

Além disso, a maioria das lectinas nos alimentos é inativada pelo cozimento, principalmente quando o alimento é cozido em grande quantidade de líquido. Como grãos integrais e feijões quase nunca são consumidos crus e geralmente são fervidos em água, a probabilidade de alguém consumir grandes quantidades de lectinas ativas dessa maneira é muito baixa.

  • Os feijões têm um preço possível, são prontamente disponíveis, versáteis para cozinhar e são ricos em fibras alimentares, proteínas, vitaminas do complexo B e vários outros nutrientes vitais. Eles também podem ajudar a diminuir os níveis de açúcar no sangue, melhorar o colesterol e manter o intestino saudável.
  • Os grãos integrais são uma ótima fonte de carboidratos complexos, fibras, vitaminas do complexo B e minerais como ferro e magnésio. Além disso, uma análise sistemática de um grande estudo global publicado em abril de 2019 na revista The Lancet sugeriu que uma baixa ingestão de grãos integrais foi um dos principais fatores de risco dietéticos para desfechos extremos, como desenvolver incapacidades ou até mesmo ir a óbito, em  todo o mundo no ano de 2017.

 

  1. Mito: “Os vegetais e legumes da família Nightshade [erva-moura] aumentam a inflamação relacionada à EM”

Vegetais e legumes Nightshade são as partes comestíveis de plantas com flores que pertencem à família Solanaceae. No Brasil chamamos de vegetais de erva-moura.

Algumas pessoas acreditam que plantas originadas da beladona – batatas brancas, pimentões, tomates e berinjela – causam inflamação porque contêm um composto chamado solanina. Essa substância é tóxica em altas concentrações, mas não é perigosa em pequenas doses, como a quantidade em uma porção de tomate em uma salada ou berinjela em um refogado.

  • Não há evidências conclusivas que sugiram que os vegetais de erva-moura tenham algum impacto no curso da doença. Esses alimentos são ricos em nutrientes, tornando-os adições dignas à sua dieta.

Dito isso, vale lembrar que a EM é uma doença complexa. E se você tem EM junto com outra doença crônica (conhecida como comorbidade), isso se torna ainda mais complexo – o que significa que inflamação e dor podem surgir de várias causas. Um alimento de erva-moura pode (ou não) ser o culpado.

Se você achar que comer vegetais específicos de erva-moura causa sintomas de dor para você, não coma. Mas considere cada vegetal de erva-moura individualmente. Só porque um tipo desencadeia dor não significa que todos o farão.

E certifique-se de falar com seu médico para descartar outros possíveis problemas de saúde antes de remover os alimentos do seu padrão alimentar habitual.

 

O que a ciência nos diz sobre as dietas para pessoas com EM

De acordo com o NMSS, não há evidências científicas de que qualquer dieta específica altere o curso da doença da EM ou que certos alimentos sejam prejudiciais a todas as pessoas com EM.

  • Dito isto, algumas evidências sugerem que fazer certas mudanças na dieta pode trazer benefícios gerais para a saúde de pessoas com EM, quando praticadas ao longo do tempo.

De acordo com um estudo publicado em setembro de 2016 na revista Multiple Sclerosis and Related Disorders, seguir uma dieta rica em alimentos vegetais e com baixo teor de gordura pode estar ligada a melhorias na fadiga, nos níveis de colesterol e no índice de massa corporal. Estas são mudanças na dieta que qualquer um pode fazer.

  • Um crescente corpo de evidências também indica que a maneira mais eficaz de manter uma boa saúde quando se vive com EM pode ser indiretamente – gerenciando (ou prevenindo) condições crônicas de saúde comórbidas, como diabetes, mantendo um bom controle de glicose, níveis de gordura no sangue, e pressão arterial.
  • Um artigo de revisão publicado em outubro de 2017 na revista Neurotherapeutics indica que comorbidades mal gerenciadas estão associadas ao aumento da incapacidade e à diminuição da qualidade de vida entre as pessoas com EM.

Portanto, comer bem é uma parte essencial de viver bem com a EM. Mas isso não significa eliminar alimentos desnecessariamente ou seguir dietas não comprovadas porque você tem EM.

 

Como comer bem se você tem Esclerose Múltipla

Isto é FATO: Produtos lácteos com baixo teor de gordura, grãos integrais contendo glúten, feijão e outras leguminosas e vegetais de erva-moura são bastante nutritivos, e removê-los desnecessariamente de suas refeições pode resultar em deficiências nutricionais.

Comer para uma boa saúde geralmente pode ajudá-lo a melhorar sua qualidade de vida e diminuir o risco de ter deficiências. Ao planejar suas refeições, opte por um padrão alimentar equilibrado e flexível, composto pelos seguintes alimentos:

  • Frutas e vegetais coloridos – Ao escolher seus produtos, a variedade é importante. Diferentes cores de frutas e vegetais trazem diferentes perfis de nutrientes ao seu prato. Folhas verdes, mirtilos e morangos são ótimas adições à dieta de qualquer pessoa.
  • Proteínas magras – Frango e peixe são boas escolhas para incorporar consistentemente em sua dieta. E para pratos sem carne, experimente o tempeh.
  • Feijão, leguminosas, nozes e sementes – Algumas adições dignas a qualquer padrão alimentar são feijão preto, lentilha, nozes e sementes de chia.
  • Grãos integrais – Aveia, arroz integral e quinoa são opções cheias de nutrientes que vale a pena incorporar em suas refeições diárias.
  • Alimentos ricos em cálcio – As fontes lácteas de cálcio com baixo ou sem gordura incluem leite desnatado e iogurte natural desnatado. Algumas opções com bastante cálcio fora dos laticínios são couve, espinafre cozido, salmão enlatado e tofu com sulfato de cálcio.
  • Alimentos que contêm vitamina D – Leite e laticínios com baixo teor de gordura fortificados, bem como peixes gordurosos como salmão e atum, são ótimas fontes de vitamina D. Especialistas acreditam que tomar suplementos de vitamina D pode ser benéfico para pessoas com EM, mas mais pesquisas estão sendo feitas para confirmar isso, relata a Mayo Clinic. Certifique-se de conversar com seu médico antes de tentar um suplemento.
  • Ácidos graxos monoinsaturados – Os alimentos que contêm essas gorduras saudáveis ​​para o coração incluem azeite de oliva, abacate, amêndoas, castanha de caju e manteiga de amendoim (ou frutos secos).
  • Ácidos graxos poliinsaturados – Outra forma de gorduras saudáveis ​​para o coração são encontradas em alimentos como linho e óleo de soja, salmão, atum e nozes.

Certifique-se de limitar as gorduras saturadas, sódio, açúcares e alimentos altamente refinados e evite totalmente as gorduras trans.

Se você precisar de ajuda para planejar uma dieta saudável, Mona Bostick sugere consultar seu médico ou um nutricionista que tenha experiência no atendimento de pessoas com Esclerose Múltipla.

 

Leia mais no site da AME:

 

Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose

Fonte: Everyday Health

Escrito por Mona Bostick, revisado pelo médico Jason Paul Chua, em 4 de outubro de 2021

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