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Olá Amigos Múltiplos! Como vocês estão?

Confesso que o termo “deficiência” passou a fazer parte da minha vida de forma ativa depois que fui diagnosticada com Esclerose Múltipla.

Sempre fui atenta aos direitos e às pessoas com qualquer tipo de necessidade especial, auxiliava (quando solicitada) e simpatizava com aqueles que, de alguma forma, possuíam restrições que eu não tinha… e nem mesmo viria a ter, pois “isso nunca aconteceria comigo”.

É isso mesmo, como a maioria dos seres humanos (por mais civilizados que sejam), eu tinha aquele pensamento de “super herói”, de que nada aconteceria comigo, nunca. Então, em meio a uma sociedade que cultua a perfeição (não vou entrar em detalhes sobre a discussão do que é perfeito, ok?!), eu via, naquele que possui algum tipo de deficiência, o “outro”, uma pessoa totalmente distante de mim, que, por vezes, era digna de dó. frown

Mas daí surgiu a Esclerose Múltipla, e mudou completamente minha forma de enxergar a vida, as pessoas e até a mim mesma. E uma única palavra resume toda essa alteração: EMPATIA!

Empatia significa a capacidade psicológica que possuímos para sentir o que sentiria uma outra pessoa, caso estivéssemos na mesma situação vivenciada por ela. Basicamente, a capacidade que possuímos (mas nem sempre utilizamos) de nos colocar no lugar do outro.

Depois de ter me visto paralisada do lado direito, sem obter respostas para os comandos que dava à minha perna e ao meu braço; ou após ter um surto psicótico, não sabendo quem eu era, com medo de tudo e de todos, e falando coisas sem o menor sentido a amigos e desconhecidos, passei a exercitar melhor a empatia em minha vida. Essa difícil e traumática experiência me fez perceber de forma instantânea como a vida de quem possui  algum tipo de deficiência é extremamente difícil, sob todos os pontos de vista (psicológico, de acessibilidade, de aceitação, entre muitos outros).

Não me orgulho de dizer que, apesar de sempre simpatizar* com aqueles que possuem algum tipo de deficiência, precisei sentir na pele os olhares de pena, a falta de independência e a restrição do meu direito de ir e vir, para conseguir olhar o próximo com empatia verdadeira.

Mas o exercício da empatia não necessita de nenhuma experiência pessoal, quer ver?

Imagine que você é Gilberto Forti, um senhor de 57 anos, aposentado, que teve sua perna esquerda amputada há 4 anos e utiliza, desde então, uma prótese metálica. Você consegue se imaginar sem uma de suas pernas? Consegue visualizar as mudanças que ocorreriam na sua vida? As alterações que seriam necessárias na sua casa? Você teria auxílio de familiares e amigos para vivenciar toda essa alteração ou estaria sozinho? Você seria capaz de dirigir seu veículo atual? Conseguiria perder (ainda que parcialmente) sua independência? Tudo muito difícil, não é mesmo?

Para piorar, em certo dia, você tem a necessidade de ir até uma agência bancária e, obviamente, não tem a entrada na porta giratória autorizada, porque os metais da sua prótese “apitam”. Você, então, explica para a segurança e gerência que possui uma prótese, e que necessita entrar na agência, mas, mesmo depois de mostrá-la, tem sua entrada impedida, porque “não te conhecem”.
Então, você teria calma e iria embora, sem resolver aquilo que te levou à agência bancária? Você argumentaria novamente? Ou, cansado, você perderia a cabeça?

Depois desse exercício de empatia: você consegue julgar negativamente a atitude deste senhor?

Fonte: G1

Pois é, eu também não!

Infelizmente, nossa cultura ensina que deficiente é somente aquele que apresenta algum problema físico ou motor aparente, e que, por isso, deve ser tratado como um estranho na sociedade. Ocorre que, segundo a legislação (Lei n. 13.146/2015), “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

A deficiência do Sr. Gilberto Forti, por mais que cause inúmeros percalços, é aparente (apesar de isso não ter adiantado para este caso específico). Agora, experimente você, esclerosado, que possui fadiga crônica, ou dificuldade na marcha, estacionar seu veículo (devidamente regulamentado) em um local destinado à portadores de necessidades especiais – PNE; ou ir a um show ou a um jogo de futebol com ingresso PNE; ou entrar numa fila preferencial. Quanta falta de empatia, e, por que não dizer, respeito você vai enfrentar?

Atualmente, eu não consigo passar duas horas de um show em pé, em meio à multidão, sob calor/abafamento intenso. Fico feliz por você, caso consiga. Mas para que eu tenha a possibilidade de assistir a um show necessito de um espaço reservado. E, esse “espaço reservado”, com uma cadeira para eu sentar quando a fadiga “amolecer” minhas pernas, é a acessibilidade de que eu preciso para me sentir igual a você. E gostaria muito que você se colocasse no meu lugar e se sentisse feliz por eu ter a possibilidade de assistir o mesmo show que você.

Quando eu vou a qualquer lugar, eu me preocupo com as saídas mais próximas, pois, em caso de tumulto, simplesmente não vou conseguir correr; toda vez que saio de casa eu penso que, se eu necessitar fazer um esforço físico maior do que esperado (uma caminhada, por exemplo), posso esgotar ali todas as energias que necessitaria para enfrentar o dia; minha saúde mental, por ter que lidar com todos os empecilhos que a Esclerose Múltipla me causa, certamente, não é a mesma que eu tinha antes do diagnóstico.

Estes são somente exemplos, mas que me levam a concluir que o sonho de qualquer pessoa com deficiência – e, aqui, eu, com as minhas deficiências atualmente invisíveis, me incluo – é ter autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão socialÉ saber que qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento não será suficiente para impedir a minha participação da vida em sociedade, com compreensão e com segurança, tendo direitos e liberdades assegurados de forma plena.

 

*Simpatia é a capacidade que temos de participar das emoções alheias, podendo variar entre a mera aceitação e compreensão dos sentimentos do próximo e a completa identificação dos próprios estados emotivos com o do outro.

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