Esta história é real! Você está prestes a ler o texto escrito por Aline Thais Barbosa Gato, de Manaus, no Amazonas. Ela convive com a EM há dois anos.
É sobre um mundo novo sendo descoberto, sobre desafios superados e aventuras constantes, com pitadas de drama e desespero, mas principalmente sobre um belo reencontro. Escolhi compartilhar com quem chega e com quem já está por aqui, zanzando atrás de
respostas, ou alguma história que se conecte com seu momento, um pouco dessa experiência, ora caótica, ora reflexiva, que é conviver com esclerose múltipla.
Em janeiro de 2022, a percepção que eu tinha da vida se tornou diferente. Naquele momento, os dias eram tão agitados quanto os de hoje e eu pensava que meus pés acompanhavam minhas emoções, pensamentos e obrigações. Então eu tropecei e caí, não literalmente (mas quase). Aconteceu que, após uma única noite de mal-estar e febre alta, abri os olhos e percebi que meus pés estavam dormentes, um formigamento que durou um dia inteiro. Adormeci e, ao despertar, a sensação havia se estendido até o abdômen. Dessa vez, o que falhou foi minha visão, assim… do nada.
Após 1 semana sentindo aqui (ou não sentindo bem [risos], é difícil explicar), fui ao pronto-socorro e aí comecei a trilhar sobre um caminho de incertezas. A verdade é que nenhum profissional naquele instante sabia dizer o que poderia ser. A partir disso, comecei a ser desacreditada e que eu poderia estar “criando coisas” na minha cabeça (quase acertaram, risos).
Sim, é real: Recebi alguns diagnósticos…
Como ansiedade, estresse, síndrome de guilan-barre, neuromielite óptica e, finalmente, esclerose múltipla. E, aí, o tal mundo novo que eu nunca havia conhecido surgiu. Não é tranquilo ouvir que você possui uma doença neurológica degenerativa e incurável (por enquanto). Aliás, é importante lembrar que essa parte da EM é aterrorizante, até a ficha cair que todos nós, com ou sem ela, estamos de certa forma degenerando e até hoje nunca conheci um imortal.
Mas até eu chegar nesse equilíbrio, tiveram muitos desafios para superar, rolaram lágrimas e dor, noites de insônia e medo… muito medo de não voltar a enxergar, de parar de andar e de todos os finais que julgamos infelizes que uma história pode ter. Se eu puder aconselhar alguém nesse estágio, eu digo ser nele que podemos repensar, realizar e reconstruir as emoções, pensamentos e as ditas obrigações.
A EM é uma realidade conflitante, como um complexo sistema que deveria me proteger pôde ter se revoltado contra mim? É difícil entender, eu sei! Mas com um pouco de humildade e atenção, dá para perceber que um sistema complexo, apesar de nervoso, é sagaz e me protegeu de mim mesma. Essa compreensão não vem simplesmente, reconstruir hábitos e emoções, aprender a conviver com dores e com o confronto interno (corpo, mente, espírito) é um lento processo de (Re)nascimento, que envolve aceitar ajuda dos médicos, dos remédios, do apoio familiar,
do alimento, dos estímulos físicos, mentais e espirituais.
O que você tiver à disposição, USE!
Acredite, quem está ao seu lado durante esse período se importa. Às vezes, aquilo que nos faz cair é essencial para podermos ressurgir.
Meu nome é Aline, sou uma mulher preta, nortista, mãe, esposa, filha… dentre muitas coisas, sou paciente de esclerose múltipla há dois anos, é estranho, mas a EM salvou minha vida. Me ensinou a praticar exercícios, meditar e me reencontrar, e que não preciso ter certeza nem pressa de chegar em algum lugar. Mas, se eu chegar, será admirando o percurso.