Névoa cerebral: como lidar com o sintoma na Esclerose Múltipla

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Se você está vivendo com Esclerose Múltipla (EM) talvez já tenha ouvido falar sobre a névoa cerebral, que envolve mudanças cognitivas.

Provavelmente também já perdeu vários minutos – se não horas – buscando coisas perdidas em casa… apenas para encontrar suas chaves ou carteira em algum lugar aleatório, como a despensa de cozinha ou o armário de remédios. Você não está sozinho. A névoa mental, ou nevoeiro cognitivo relacionado à EM, afeta muitas pessoas que vivem com a patologia. De fato, estima-se que mais da metade das pessoas que vivem com EM desenvolvem questões cognitivas, como dificuldade em entender as conversas, pensar criticamente ou lembrar memórias.

Mudanças na cognição

A névoa cognitiva também é chamada de nevoeiro cerebral, que envolve mudanças na cognição ou comprometimento cognitivo. Perder a linha de pensamento no meio da frase, esquecer por que você entrou em uma sala ou lutar para lembrar o nome de um amigo são situações comuns quando bate o nevoeiro mental.

Krysia Hepatica, uma empresária que tem o diagnóstico de EM, descreve como seu cérebro funciona de maneira diferente agora. “A informação está lá. Leva mais tempo para acessá-la ”, ela diz à Healthline.

“Por exemplo, se alguém me fizer uma pergunta sobre um detalhe específico de dias ou semanas antes, eu nem sempre posso lembrar imediatamente. A informação volta lentamente, em pedaços. É como vasculhar um catálogo de cartões em vez de apenas pesquisar no Google. É um analógico vs. digital. Ambos trabalham, um é apenas mais lento ”, explica Krysia.

Lucie Linder foi diagnosticada com Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente (EMRR) em 2007 e diz que o nevoeiro mental também tem sido um problema significativo para ela. “A repentina perda de memória, desorientação e lentidão que podem atacar a qualquer momento não são tão divertidas.” Lucie descreve os momentos em que não consegue se concentrar em uma tarefa, porque seu cérebro parece ficar perdido.

Felizmente, ela descobriu que o exercício cardíaco ajuda a lidar com esse sentimento. Na maioria das vezes, as mudanças cognitivas serão leves a moderadas e não serão tão graves que você não poderá cuidar de si mesmo. Mas pode fazer com que o que costumava ser tarefas simples – como comprar mantimentos – se torne muito frustrante.

A ciência por trás da névoa cognitiva

A EM é uma doença do sistema nervoso central que afeta o cérebro e a medula espinhal. Também causa áreas de inflamação e lesões no cérebro. “Como resultado, [pessoas com EM] podem ter questões cognitivas que normalmente envolvem lentidão do processamento, problemas com várias tarefas e distração”, explica David Mattson, neurologista da Indiana University Health.

Algumas das áreas mais comuns da vida afetadas pelas mudanças cognitivas incluem memória, atenção e concentração, fluência verbal e processamento de informações. Mattson ressalta que a lesão da EM não causa isso, e sim que o nevoeiro cognitivo parece mais associado a um número geral aumentado de lesões no cérebro.

Fadiga

Além disso, a fadiga também prevalece em pessoas com EM, o que pode causar esquecimento, falta de interesse e pouca energia. “Aqueles que sofrem de fadiga podem achar mais difícil concluir tarefas no final do dia, têm uma capacidade mais baixa de suportar certos ambientes, como calor extremo, e lutam com distúrbios do sono ou depressão”, acrescenta Mattson.

Olivia Djouadi, que tem uma EMRR, diz que seus problemas cognitivos parecem ocorrer mais com fadiga extrema, que pode impedi-la de realizar tarefas. E como acadêmica, ela diz que a névoa do cérebro é horrível. “Isso significa que me esqueço de detalhes simples, mas ainda me lembro de itens complexos”, explica ela. “É muito frustrante, porque sei que sabia a resposta, mas isso não vem até mim”, ela compartilha com a Healthline. 

A boa notícia: existem estratégias imediatas e de longo prazo para diminuir o nevoeiro cognitivo, ou mesmo apenas torná-lo um pouco mais gerenciável.

Como lidar com a névoa mental

Médicos e pessoas com a condição sentem frustração com a falta de opções de tratamento disponíveis para os problemas cognitivos que acompanham a EM. É fundamental que os profissionais de saúde ofereçam suporte e validação a seus pacientes com Esclerose Múltipla que estão passando por mudanças em sua cognição, diz a Dra. Victoria Leavitt, neuropsicóloga clínica da ColumbiaDoctors e professora assistente de neuropsicologia, em neurologia, na Columbia University Medical Center.

No entanto, na ausência de tratamentos, a neuropsicóloga acredita que fatores de estilo de vida podem fazer a diferença. “Fatores modificáveis ​​que estão sob nosso controle podem ajudar a mudar a maneira como uma pessoa com Esclerose Múltipla vive para melhor proteger seu cérebro”, diz ela à Healthline.

Dessa forma ela explica que o trio clássico de fatores de estilo de vida modificáveis ​​que podem ajudar na função cognitiva incluem alimentação, exercício e enriquecimento intelectual.

Alimentação

Mudanças em sua alimentação – principalmente a adição de gorduras saudáveis ​​– podem ajudar com o nevoeiro cognitivo. Krysia descobriu que comer gorduras saudáveis, como abacate, óleo de coco e manteiga de animais alimentados com capim, ajuda a melhorar a cognição. Gorduras saudáveis, ou alimentos ricos em ômega-3, são conhecidos por seu papel na saúde do cérebro. Além de abacate e óleo de coco, inclua alguns deles em sua dieta:

  • frutos do mar como salmão, cavalinha, sardinhas e bacalhau;
  • azeite extra virgem;
  • nozes;
  • sementes de chia e linhaça.

Exercício

O exercício tem sido estudado há anos como uma maneira de ajudar as pessoas com Esclerose Múltipla a lidar com as lutas diárias da névoa cognitiva. De fato, um estudo de 2011 descobriu que a atividade física estava significativamente correlacionada com a velocidade cognitiva em pessoas com EM. Mas não é apenas o impacto favorável que o exercício tem no cérebro que é importante. Praticar atividade física também é bom para o corpo e para a saúde mental.

Um estudo de 2013 descobriu que pessoas com EM que participaram de exercícios aeróbicos regulares experimentaram uma melhora do humor. Quando você se sente bem, você tem uma maior capacidade de processar informações. A princípio, qualquer tipo de exercício é benéfico, mas os pesquisadores parecem olhar especificamente para o exercício aeróbico e o papel que ele desempenha na EM e na função cognitiva. Além disso, um estudo de 2016 relatou que pessoas com EM que se exercitavam regularmente tiveram uma redução nas lesões no cérebro, o que mostra o quão poderoso o exercício pode ser.

Enriquecimento intelectual

O enriquecimento intelectual inclui aquelas coisas que você faz para manter seu cérebro afiado, como participar de atividades diárias, como jogos de palavras e números, ou exercícios desafiadores, como palavras cruzadas, Sudoku e quebra-cabeças, pode ajudar a manter seu cérebro atualizado e engajado. Jogar esses ou outros jogos de tabuleiro com amigos ou familiares também pode gerar mais benefícios. Para usar ainda mais esse recurso, uma dica é aprender uma nova habilidade ou idioma ou escolher um novo hobby.

Estratégias de curto prazo

Embora a implementação de soluções de longo prazo para o nevoeiro cognitivo seja importante, você provavelmente também se beneficiará de algumas dicas que fornecerão alívio imediato. Krysia diz que algumas estratégias adicionais que funcionam para ela quando ela está com neblina são fazer boas anotações, anotar tudo em seu calendário e fazer o mínimo de multitarefas possível.

“Portanto, é preferível que eu comece e termine as tarefas antes de começar algo novo”, diz ela. Mattson concorda com essas estratégias e diz que seus pacientes se saem melhor quando fazem anotações, evitam distrações e fazem uma coisa de cada vez. Ele também recomenda encontrar a hora do dia em que você está se sentindo com energia e fazer suas tarefas mais difíceis durante esse período.

Estratégias para o momento

  • Use uma técnica de organização com listas ou post-its;
  • Concentre-se em fazer uma tarefa de cada vez em um espaço silencioso e livre de distrações;
  • Use a hora do dia em que você tem mais energia para as tarefas mais difíceis;
  • Peça à família e aos amigos que falem mais devagar para que você tenha mais tempo para processar as informações;
  • Pratique a respiração profunda para reduzir o estresse e a frustração da névoa mental.

Planos a longo prazo

  • Coma alimentos para o cérebro repletos de gorduras saudáveis ​​ou ômega-3, como abacate, salmão e nozes;
  • Dê um passeio ou desfrute de outra forma de exercício que você ama regularmente;
  • Aprenda algo novo para desafiar seu cérebro.

Se você está tendo dificuldades para encaixar essas estratégias em sua vida, a Dra. Victoria diz para conversar com os profissionais de saúde que lhe acompanham. Eles podem ajudá-la(o) a elaborar um plano para fazer essas coisas funcionarem.

Comece pequeno

Assim, uma dica que ela gosta de enfatizar é: comece pequeno e estabeleça metas bem realistas até sentir o sucesso. “Você tem que fazer as coisas que você gosta para que elas se tornem um hábito”, diz ela.

Dra. Victoria também está analisando o papel que o sono, as redes sociais e a conexão com a comunidade desempenham na forma como as pessoas com EM lidam com as mudanças na cognição. Ela acredita que esses fatores, juntamente com exercícios aeróbicos, alimentação e enriquecimento intelectual, são excelentes maneiras de se proteger contra a perda cognitiva. “Eu vejo isso como uma área realmente promissora para pesquisa”, diz ela. “Em última análise, precisamos traduzir nossas evidências e nossas descobertas em tratamentos”.

Embora viver com Esclerose Múltipla e lidar com a névoa mental possa ser um verdadeiro desafio, Krysia diz que tenta não se deixar abater. “Então eu apenas aceito que meu cérebro funcione de uma maneira diferente agora e sou grata por ter estratégias que ajudam”, explica ela.

 

Leia mais no site da AME:

Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose

Fonte: Healthline

Escrito por Sara Lindberg, revisado por Debra Rose Wilson, em 9 de junho de 2020.

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