‘Se falo que tenho HIV, o preconceito é muito maior, mas a esclerose múltipla me causa mais danos’, declara comerciante

Cícera Holanda Lima Verde recebeu o diagnóstico de Esclerose Múltipla em 2017 e soube que é soropositivo para HIV 7 meses depois

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Conviver com uma doença crônica como esclerose múltipla não é fácil, mas imagina receber pouco tempo depois a notícia que você também convive com HIV? Essa é a história de Cícera, que você conhecerá abaixo.

Em julho de 2017, Cícera Holanda Lima Verde começou a ter dificuldades para enxergar. Esse foi o primeiro sintoma da esclerose múltipla, que foi oficialmente diagnosticada após uma série de exames. “A EM veio com um sintoma bem sutil, parecia uma conjuntivite até. Fui perdendo a visão periférica até que fiquei sem visão e fui encaminhada de Sorocaba, onde moro, para São Paulo, capital. O médico comentou que poderia ter esclerose múltipla. Fiz exames de imagens pra ver se era isso ou não e aí foram captadas algumas manchinhas no meu cérebro. Quando voltei para Sorocaba, após passar por um neuro especializado em esclerose múltipla, aí sim fechei o diagnóstico”, conta.

Pouco mais de 10 dias depois da notícia, Cícera descobriu que estava grávida. No primeiro trimestre de gestação, não houve nada de anormal, exceto um cuidado maior para que ela não tivesse surtos relacionados à EM. Mas, um mês antes de o filho nascer, Ciça recebeu uma notícia que a surpreendeu: “Veio o diagnóstico de HIV em fevereiro de 2018, na minha consulta de pré-natal. Eu achei o HIV uma doença muito silenciosa. Só reparei algumas ‘ínguas’ no meu pescoço. Eu já estava com o pai do meu filho em uma relação há 4 anos na época, mas a gente terminava e voltava. Tanto que, em uma dessas voltas, é que fiquei grávida do meu filho”, lembra.

O primeiro dia do mês de dezembro é lembrado como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. A data foi instituída pela Assembleia Geral da ONU em 1988 para combater preconceitos e estigmas sobre a doença, além de propagar informações de qualidade sobre o vírus. No Brasil, desde 1996, o SUS distribui gratuitamente os medicamentos para HIV/Aids a todas as pessoas que necessitam de tratamento.

Cícera contou que não aceitou bem o diagnóstico de HIV na época, mas fez todos os exames de acompanhamento. “Tive a indicação para já iniciar os antirretrovirais pra quem é gestante. Meu parceiro na época fez o teste e acusou que ele era soropositivo também. Ele sabe que me passou, pois sempre fui doadora de sangue anual. Só parei naquele ano que descobri a esclerose múltipla e tudo o mais”, diz.

Hoje, já adaptada ao tratamento, o que mais prejudica a vida de Ciça ainda é o preconceito em relação ao HIV. “Se eu conto que tenho esclerose múltipla, as pessoas perguntam o que é isso. Muita gente confunde os surtos com AVC. Agora, se chego e falo que tenho HIV, o preconceito é muito maior, sendo que a esclerose múltipla me causa bem mais dano. O HIV não vejo problema até em falar para as pessoas que tenho, abertamente, porque não é vergonhoso isso, mas vejo preconceito por falta de informação. As pessoas acham que com um abraço, ou se beber no copo ou talher vai pegar a doença, sabe”, desabafa.

Ciça mora com o pequeno Bryan, agora com 4 aninhos, e a filha mais velha, Yasmin, de 16 anos, vive com os avós. A comerciante atualmente está afastada pelo INSS por causa da esclerose múltipla.

Ciça e seu filho, Bryan

Ciça se divorciou do pai de Bryan em meio a pandemia de covid-19. E, há dois meses, ela conheceu Fábio, seu novo amor. “Hoje em dia tenho um outro relacionamento e meu parceiro sabe das minhas doenças, a esclerose múltipla e o HIV. Ele é profissional da saúde e aceitou super bem. A gente toma todo o cuidado possível e vive bem”, declara.

Ela faz todo o acompanhamento de saúde pelo SUS que, inclusive, oferece apoio psicológico. “Eu faço terapia desde 2020. Já cheguei a ter de tomar remédios pra depressão, mas agora estou bem e só com a psicoterapia mesmo, que ajuda bastante”, ressalta.

Ciça faz consultas com o infectologista a cada três ou quatro meses e cuida da alimentação e tudo o mais. “No momento não estou trabalhando, mas também faço alguns freelancers. Porém, acho que estou em condições de voltar para o mercado de trabalho. O problema é que, se eu não falo em uma entrevista que tenho esclerose múltipla e me dá um surto, a empresa vai ficar chateada. E, se eu falo, eles não contratam. Então, é difícil por isso. Mas por mim eu volto com certeza”, conclui, com a esperança de que consiga uma ocupação formal em 2023.

Ciça e seu namorado, Fábio
Transmissão do HIV

O vírus HIV está no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. Sendo assim, existem algumas possibilidades de transmissão, como:

  • Relação sexual sem preservativos;

  • Mãe que tem o vírus e pode transmiti-lo para o filho durante o parto ou amamentação;

  • Compartilhamento de agulha ou seringa;

  • Transfusão de sangue com presença de HIV;

  • Instrumentos diversos não esterilizados, como os hospitalares, piercing ou de manicure, por exemplo.

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