O guia do introvertido para realmente curtir uma festa

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As pessoas introvertidas podem sentir muita dificuldade em se soltar em ambientes sociais. Pode ser apenas uma questão de regular a “bateria social” ou de incorporar estratégias para viver esses momentos. No fim de ano são muitas as festas e eventos sociais que temos para socializar. Se você for da turma introvertida, aproveite este guia para entender melhor como funciona a sua bateria social. Boa leitura!

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Chame isso de paradoxo da festa do introvertido. Você foi convidado para um grande evento social — digamos, o casamento de um amigo e está cheio de bons sentimentos sobre o casal e está ansioso para ver pessoas com quem não se conecta há algum tempo. Você tem uma roupa incrível para ir.

No casamento, em um certo ponto, você percebe uma decaída indesejável de sua energia e entusiasmo para se envolver e conversar com as pessoas. Cada apresentação a um membro da família do casal feliz, cada amigo sorridente acenando para você vir dançar, você sente o desejo crescente de desaparecer na escada mais próxima e sentar-se sozinho por um tempo. Para aproveitar a festa, ao que parece, você deve escapar da festa.

Capacidade de socialização

Quando falamos sobre a capacidade de socialização de uma pessoa, geralmente nos referimos ao quão introvertida ou extrovertida ela é. Laurie Helgoe, psicóloga clínica e autora do livro O poder do introvertido [livro não traduzido para o português] – original Introvert Power: Why Your Inner Life Is Your Hidden Strength, descreve a introversão, em seus termos mais simples, como uma orientação interna.

“Nós olhamos para dentro para dar sentido ao mundo. É mais provável que um extrovertido resolva as coisas por meio da interação e da experiência direta”, diz Laurie, que se identifica como uma pessoa introvertida. As pessoas introvertidas tendem a ser mais eficazes quando lidam com menos estímulos externos, enquanto os extrovertidos gostam de muito feedback externo.

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Pessoas introvertidas e extrovertidas

Entre os psicólogos da personalidade, a introversão e a extroversão são vistas como traços amplos que incluem vários componentes mais restritos. Nem todos lidando explicitamente com o interesse de uma pessoa em socializar. Não existe uma única lista funcional dessas facetas, mas a extroversão normalmente inclui “coisas como assertividade, alto nível de atividades, algum domínio e alegria, alguma sociabilidade, alguma jovialidade”, diz John Zelenski, professor de psicologia na Carleton University em Ottawa, que estuda extroversão, felicidade e comportamento social.  Definimos a introversão por pontuações mais baixas nessas mesmas métricas.

Embora muitas vezes nos classifiquemos como um tipo de pessoa ou outra, a maioria de nós possui nuances de introversão e extroversão. Essas características existem em um continuum, diz John, com a maioria das pessoas caindo em algum lugar no meio da curva e um número menor de introvertidos e extrovertidos extremos em cada extremidade.

Se você tende a ser mais introvertido, perceber que sua bateria social não mantém a carga durante toda a duração de uma reunião social pode trazer sentimentos de desconforto ou vergonha. Você pode ter a preocupação em diminuir a vibração ou que as pessoas saiam com uma impressão mediana de você, mesmo que sua própria necessidade de algum tempo de silêncio não esteja sendo atendida. Mas, ao aceitar e entender a duração da sua bateria como ela é e conhecer os diferentes fatores que a sustentam ou a sobrecarregam, você tem mais chances de passar estes momentos sem estresse – e de realmente se divertir no processo.

Conheça a sua bateria social por tentativa e erro

Não há nada inerentemente bom ou ruim em ser introvertido ou extrovertido, diz Jennifer Kahnweiler, autora do livro “Criando espaços de trabalho amigáveis para introvertidos”, sem tradução para o português (título original: Creating Introvert-Friendly Workplaces). Ainda assim, muitos introvertidos recebem a mensagem de que, em um evento, eles deveriam estar no meio da multidão, se misturando e festejando – e que há algo profundamente errado com eles se não se sentirem bem para isso. Não ajuda que a maioria das reuniões de grandes grupos sejam de fato voltadas para extrovertidos. “A forma como planejamos todos os tipos de eventos, sejam eles sociais ou de negócios, tende a ser muito voltada para o ideal extrovertido de ser estimulado o tempo todo”, diz Jennifer.

Os pesquisadores prestaram muita atenção aos aspectos negativos do tempo que as pessoas passam sozinhas, e com razão, diz Robert Coplan, colega de John Zelenski no departamento de psicologia da Carleton University. “A solidão indesejada faz você se sentir solitário, e sabemos que a solidão crônica não é apenas ruim para sua saúde mental, mas também para sua saúde física”, diz Robert.

Mas também podemos ter muito menos solidão do que desejamos, um fenômeno que Robert, que estuda os benefícios da solidão, chama de “falta de solidão”. Quando as pessoas querem um tempo sozinhas, mas são forçadas a situações sociais prolongadas, elas podem ficar mal-humoradas, tristes, estressadas e exaustas.

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Pesquisa sobre a solidão

Todo mundo precisa de uma quantidade diferente de tempo gasto socializando e tempo gasto sozinho. Embora a pesquisa sobre a solidão não tenha avançado a ponto de Robert poder dizer quanto tempo as pessoas precisam ficar sozinhas, um estudo minucioso do próprio comportamento e humor pode ajudar as pessoas a descobrirem seu equilíbrio ideal. 

“O que dizemos às pessoas para fazer é apenas rastrear suas experiências solitárias e sociais ao longo de algumas semanas – quanto tempo passei sozinho, quanto tempo passei com outras pessoas e como me senti?” afirma ele. “E então você pode calibrar. Realmente vai ser tentativa e erro para cada pessoa.”

O papel da solidão

Tanto o número de doses de solidão quanto a duração dessas doses podem desempenhar um papel em como uma pessoa se sente revigorada depois. “Nem todo mundo tem tempo para fazer uma caminhada de duas horas na floresta, mas se você tomar uma microdose de 10 minutos de solidão para recuperar o fôlego e se concentrar, isso pode ser igualmente eficaz para algumas pessoas”, explica ele.

Embora rastrear suas experiências com a solidão possa ajudá-lo a entender melhor suas necessidades – e, por sua vez, dar-lhe um melhor controle sobre como se preparar e vivenciar longos compromissos sociais – há uma complicação importante na questão dos introvertidos que precisam de um tempo sozinhos: os introvertidos tendem a subestimar o quanto eles vão gostar de estar perto de outras pessoas.

De acordo com Zelenski, ele próprio um introvertido, a pesquisa sugere que as pessoas introvertidas podem realmente sentir muitas emoções positivas quando agem de maneira extrovertida. Parte de seu próprio trabalho se baseia nessa noção: sua equipe descobriu que as emoções positivas dos introvertidos não eram tingidas por sentimentos negativos ou fadiga mental após surtos de atividade extrovertida. 

Mas, observa Zelenski, a pesquisa também mostrou que quando as pessoas foram solicitadas a agir o mais extrovertidas possível por uma semana, os introvertidos começaram a mostrar sinais de tensão. “Isso me faz pensar que provavelmente é possível exagerar”, diz Zelenski. “Isso certamente faz sentido quando comparo com minha experiência pessoal.”

Antes de um evento, passe algum tempo se preparando para socializar

Quando se trata de gerenciar sua bateria social em um evento, Jennifer Kahnweiler diz, “a verdadeira chave é a preparação”. Pensar com antecedência sobre como tornar uma festa menos avassaladora alivia um pouco da pressão do momento, quando você já está começando a se sentir estressado e esgotado.

Pessos introvertidas podem fazer pausas periódicas longe da multidão, é uma das maneiras mais eficazes de se recentralizar. Quando um evento está começando, Jennifer recomenda pesquisar o local em busca de locais onde você possa relaxar sozinho por alguns instantes. Na medida em que você tem uma programação formal para a noite, também pode planejar quando aproveitará essas oportunidades.

Comunique-se abertamente

Quando estiver em um evento com pessoas, conte a eles sobre seus planos de escapar. Tanto para que saibam o que está acontecendo, quanto para normalizar isso, para você e para os outros. “Você pode dizer a eles: ‘Você pode não me ver algumas vezes. Estou bem, só preciso fazer pausas’”, diz Jennifer, que se autodenomina extrovertido. Jennifer não entendia por que o marido introvertido desaparecia em festas e ficava frustrada quando isso acontecia. Agora ela sabe que ele só precisa descansar um pouco, e seus amigos também esperam isso. “Ele merece dar o tempo que precisa”, diz ela.

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Planeje-se para o evento

Laurie Helgoe sugere familiarizar-se com o contexto social de uma festa antes de chegar, o que pode tornar o evento em si menos opressor. Se você é próximo do anfitrião, isso pode se traduzir em pedir uma cópia da lista de convidados. Assim, você pode descobrir como será a cena e com quem gostaria de falar. Se você conhece outras pessoas que estão participando, ligue para elas para perguntar quem mais elas sabem que estará lá.

Naturalmente, também vale a pena carregar a bateria antes do início do evento. Se eu pudesse planejar minha preparação perfeita para a festa, envolveria falar com ninguém além do meu namorado por cerca de quatro horas.  Durante as quais eu ficaria deitada no sofá rolando o TikTok enquanto tomaria chá, sairia para correr e depois tomaria um longo banho. Às vezes a vida atrapalha nossas tardes silenciosas e sonhadoras, obviamente. É aqui que a sugestão de Robert Coplan para rastrear suas experiências com a solidão é útil: se você tem uma noção de que tipo de tempo sozinho faz você se sentir mais centrado, pode priorizá-lo antes de sair.

No evento, faça suas pausas

E lembre-se de que ninguém se importa se você sumir por 20 minutos. Quando sentir que precisa de uma fuga, fará aquelas pausas tranquilas que incluiu em seu plano para a noite. Enquanto isso, você pode ter em mente que, para muitos introvertidos, nem todas as conversas são igualmente desgastantes. De acordo com Jennifer, os introvertidos geralmente preferem conversas mais aprofundadas e individuais a socializar no meio da multidão.

Laurie diz que falar sobre ideias em vez de pessoas também pode ser um pouco menos cansativo. “Os dados sociais são meio exigentes e, às vezes, gostamos de ter uma experiência mais lado a lado com uma pessoa, onde estamos olhando para uma ideia ou um interesse compartilhado”, diz ela. Isso certamente não significa que você deva evitar conversas em grupo ou histórias pessoais em nome de uma festa duradoura. Em vez disso, é uma sugestão para assumir um papel ativo em sua experiência. Grandes eventos podem ter uma vantagem combativa, como se tivéssemos que proteger a pequena chama de nossa sanidade contra as imposições da multidão socializadora. É fácil esquecer que, em muitas situações, podemos escolher com quem falar, quando faremos pausas e quanto tempo ficaremos.

A verdade é que essas decisões costumam importar muito para nós e bem menos para todos os outros. “Colocamos muito mais pressão sobre nós mesmos”, diz Jennifer. “As pessoas nem sempre estão pensando em nós.”

Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose

Fonte: Vox

Escrito por Eliza Brooke, em 26 de agosto de 2022.

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