Esclerose múltipla em crianças: como o diagnóstico precoce aumenta a qualidade de vida

A maioria dos casos da EM é identificada em adultos entre os 20 e 40 anos, mas o público infantil também pode desenvolver a condição.

Compartilhe este post

Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter
Fernanda Simoneto, da Redação AME/CDD


A maioria dos
40 mil brasileiros com esclerose múltipla (EM) recebeu o diagnóstico entre os 20 e 40 anos. Mas cada vez mais os especialistas vêm detectando crianças com EM. Não há estudos que expliquem o avanço neste grupo, mas acredita-se que isso se deva a um avanço do conhecimento e à melhoria do diagnóstico. Hoje, indivíduos com menos de 18 anos representam entre 3% e 10% do total de casos. Os abaixo de 10 anos, menos de 1%

A identificação da doença costuma ser mais complexa na infância, já que existem outras doenças com características semelhantes à EM que acometem crianças com certa frequência, segundo o neurologista Daniel do Valle, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, capital do Paraná. 

Além disso, os sintomas relatados podem não ser levados a sério pela família, pois sua manifestação se dá em ciclos. Ou seja, um dia a criança acorda com reclamações de formigamentos em um região do corpo, mas algum tempo depois não se queixa mais do incômodo. “Eles chegam no consultório com histórico de formigamento no braço ou episódios de perda de força, por exemplo. Mas haviam se recuperado”, explica Daniel do Valle. “Muitas vezes, a família acha que a criança tinha deitado em cima do braço ou estava fazendo birra”, conclui. 

Os sintomas apresentados pelas crianças costumam ser os mesmos dos observados nos adultos. “Como é uma doença desmielinizante que pode acometer qualquer região do sistema nervoso central, os sintomas são diversos”, afirma o neurologista. De novo: fraqueza, formigamento e visão embaçada são alguns dos sinais mais comuns. 

Doenças desmielinizantes são aquelas que o próprio sistema imunológico ataca uma parte dos neurônios chamada de bainha de mielina, que recobre os axônios, responsáveis pela transmissão de impulsos nervosos. Isso prejudica os comandos enviados pelos neurônios a outras regiões do corpo. A recorrência dos ataques pode gerar lesões permanentes – e com o tempo, a capacidade de recuperação dos neurônios fica reduzida.

“O cérebro comanda tudo. Desde força, sensibilidade, percepção, audição, visão. Dependendo da região lesionada, o indivíduo vai apresentar um sintoma diferente”, explica do Valle. 

O diagnóstico na infância não indica que a pessoa terá uma manifestação mais grave da doença. O neurologista Daniel do Valle afirma que o início rápido do tratamento pode, inclusive, melhorar o prognóstico. “Você consegue deixar essa pessoa o máximo de tempo possível sem lesões, permitindo que ela tenha uma vida sem prejuízos”, afirma do Valle. 

Um dos desafios do tratamento, no entanto, é a falta de grandes estudos testando os medicamentos em adolescentes e crianças. Isso porque as pesquisas foram conduzidas com adultos. “Muitos remédios ainda não têm liberação pela bula ou de segurança para uso em idade pediátrica”, observa. 

Ou seja, a maioria dos medicamentos são utilizados em regime off-label. Atualmente existem 11 fármacos autorizados para uso no Brasil – oito são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Daniel do Valle  explica que o tratamento inclui duas etapas: uma para as fases críticas, com corticoides, que é padronizado para adultos e crianças; e outro, para as fases de manutenção. 

Além do tratamento com medicamentos, é importante que o paciente receba acompanhamento psicológico. “Não é fácil para a criança entender que ela tem uma doença para a vida inteira. Isso impacta muito na forma como eles se enxergam”, explica o neurologista. 

Daniel do Valle destaca a importância de criar uma comunicação amigável com a criança. Carinho e transparência com questões importantes são pontos-chave. “Temos que dar informação conforme elas perguntam e à medida que consigam lidar com isso. Mas é preciso que saibam o que está acontecendo com o corpo e por que tomam determinado remédio. As crianças entendem muito mais do que a gente imagina”.  

Com tratamento, os pequenos com esclerose múltipla podem ter uma vida normal. “É preciso ter mais cuidado com infecções e manter o calendário vacinal atualizado. O objetivo é que possam fazer as atividades domiciliares e na escola como se esperaria de qualquer outra criança”, afirma do Valle. 

Origem

Alguns indivíduos, quando são diagnosticados na fase adulta, param para pensar e acabam concluindo que chegaram a manifestar sintomas da esclerose múltipla durante a infância ou adolescência. 

“Alguns relatam quadros transitórios de formigamento no corpo inteiro, fraquezas ou uma vista embaçada quando eram mais novos. Mas não é possível afirmar com certeza, porque memórias podem ser influenciadas pelo momento que vivemos”, conclui Daniel do Valle.

Explore mais