Eu convivo com uma condição crônica e resisti à recomendação do meu médico de tirar uns cochilos. Agora eu aproveito!
Autora: Angie Ebba é uma artista queer com deficiência que dá aulas de escrita e se apresenta em todo o país.
A maneira como vemos o mundo molda quem escolhemos ser – e compartilhar experiências convincentes pode definir a maneira como tratamos uns aos outros, para melhor. Esta é uma perspectiva poderosa.
Quando eu era criança, eu resistia a sonecas com todas as minhas forças.
Minha mãe diz que ela estava na sala assistindo TV, tentando aproveitar algum tempo livre de crianças, e eu ficava gritando com a TV do meu quarto. Não importava quantas vezes minha mãe me dissesse que meu corpinho precisava descansar para ficar maior e mais forte. Eu não queria nada mais do que estar ativa e envolvida com o mundo.
Durante toda a minha vida fui uma realizadora. Sempre quis passar minhas horas do dia absorta em algum tipo de atividade significativa, seja trabalhando, lendo um livro, criando projetos de arte ou aprendendo novas habilidades.
É claro, isso é encorajado quando se vive em uma sociedade que dá tanta ênfase à produtividade. A certa altura, eu estava trabalhando em tempo integral, dando aulas algumas noites por semana, cuidando sozinha de dois filhos pequenos, cursando uma pós-graduação em tempo integral e também mantendo uma vida social bastante ativa.
Meus amigos me chamam de supermulher, brincando. Foi um apelido que usei com orgulho.
Eu era uma supermulher… até que de repente não era. Até o momento em que meu corpo finalmente freou e me disse em termos inequívocos que eu tinha que desacelerar.
Desenvolvi várias doenças crônicas, algumas tendo a fadiga debilitante como sintoma, o que me forçou a reavaliar a maneira como eu me movia ao longo da vida.
Ainda assim, meu desejo de ir em frente e fazer muitas vezes venceu o que faria mais sentido para o meu corpo.
Eu me ia além do extremo de meus limites físicos até entrar em colapso e ter espasmos na cama por vários dias – ou mesmo semanas.
Assim que meu corpo recuperava um pouco mais de força e energia, eu estava de volta, tentando aproveitar o máximo que podia nos “dias bons” do meu corpo.
Eu não era capaz de (ou talvez não quisesse) ver que, ao fazer isso, estava diminuindo meus poucos “dias bons” e tornando-os cada vez mais espaçados.
Descobri que tirar sonecas, como o meu médico tinha sugerido, poderia ser produtivo
A primeira vez que um médico sugeriu que eu agendasse um tempo para cochilos regulares, tenho certeza de que olhei para ele como se ele fosse absolutamente ridículo.
Programar cochilos? Forçar-me a deitar quando ainda havia um pouco de energia no meu corpo? Por que eu faria isso, pensei, quando havia coisas que eu poderia estar fazendo?
Assim como quando eu era criança, resisti.
No entanto, essa ideia não parava de voltar, por médicos, amigos, autores de artigos que li sobre doenças crônicas.
Vá mais devagar, eles disseram. Guarde suas forças. Não se esforce além da energia que você tem. Ponha-se num ritmo mais tranquilo.
Eu sabia que, para fazer isso, precisava mudar a maneira como pensava sobre os cochilos.
Eu precisava parar de ver os cochilos como algo “preguiçoso” ou como uma forma de punição quando eu preferia apenas estar fazendo coisas. Em vez disso, precisava ver esses períodos de descanso como parte integrante do meu dia, como algo produtivo por si só.
Nossos corpos estão sendo imensamente produtivos quando descansamos. Eles trabalham para curar nossos tecidos, equilibrar nossos hormônios e regular nosso sistema imunológico. Pesquisas mostram que, com o sono, nossa saúde melhora, nossos níveis de dor diminuem e podemos pensar com mais clareza.
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Quando comecei a pensar nos cochilos como momentos para permitir que meu corpo se recuperasse, minha resistência a eles passou e me dei permissão para cuidar de mim dessa maneira.
Eu rapidamente percebi que agendar horários de descanso durante o dia não era algo que estava diminuindo minha produtividade. Na verdade, foi exatamente o oposto!
Em vez de ficar exausta e desmaiar por dias ou semanas na cama, consegui manter um nível de atividade mais consistente.
Agora arranjo tempo para tirar uma soneca ou descansar em minha agenda diária. Se o dia está ficando muito cheio, direi não às atividades ou reagendarei algo para outro dia, porque aprendi que meu corpo precisa de tempo para descansar.
Todos os dias, vou para a cama e faço o que minha mãe queria desesperadamente que eu fizesse quando era criança: descansar. Eu permito que meu corpo se recupere.
E quando acordo, não sinto mais que perdi meu tempo. Em vez disso, agradeço ao meu corpo por usar esse tempo para ser tão produtivo.
Fonte: Healthline
Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose