24 horas na cabeça de uma pessoa ansiosa

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Sou uma ansiosa que, além de tudo, tem déficit de atenção e (muita) hiperatividade. Alguns dias, as 24 horas passam voando – e quando se vê, já passou 24 horas três vezes. Outras vezes, parece que demora incansáveis 560 horas pra acabar um só dia. E você se afunda na cama pra tentar dormir e acelerar o processo, ajudar sua cabeça, sua mente, mas você só consegue sentir o coração palpitando no peito.

Viver ansiosa é assim: é viver se planejando para fazer tudo o que quer fazer da melhor maneira possível. É planejar tudo na mente tão perfeitamente, que dá quase pra fechar diagnóstico de TOC junto. Só que na hora da ação você fracassa. Em tudo. De tanto que tenta ser boa em tudo, pra todo mundo. De tanto que você teme em falhar, você só falha! Porque sua cabeça nunca está no agora. Você quer fazer uma coisa perfeita já pensando no próximo passo quando o primeiro estiver perfeito. E aí nessa ânsia, já pula pro segundo passo sem terminar o primeiro. E falha.

Você quer uma mesa de estudos perfeitamente organizada, digna da pessoa que você é! Mas enquanto estuda pega esse papel, aquele caderno com aquela anotação, procura a régua que sumiu, lembra-se de anotar uma coisa importante no calendário, mas precisa da caneta verde, e não da rosa! E lembrou-se de uma lista nova que estava a tempos querendo fazer. Aí finalmente da o play na vídeo aula. Três minutos, stop. Anota o que é importante, lixa a unha. Nossa que sede.

Será que abriu a inscrição pra quela prova de residência que eu estava esperando? Melhor ver agora, vai que eu perca… Ah, lembrei que preciso contar pra minha mãe que acertei com o cara da van pro dia da formatura. Quinze minutos no telefone. Meu coração tá acelerando, acho que o remédio tá começando a fazer efeito. FOCO! Eu grito na minha mente. Que mania de dar mil voltar e não sair do lugar. Play na aula. Agora vai.

E aí vai. Paro 5 ou 6 horas depois, mor-ren-do de dor nas costas, nos ombros, na cabeça. A mesa que eu queria organizada, agora tem papel pra todo lado, fone de ouvido, celular carregando, canetas coloridas jogadas, cadernos, e uns 4 livros abertos. Sinto-me tão exausta que só consigo me arrastar pra cama. Amanhã, quem sabe.

E eu estava tendo tanto cuidado pra escrever em uma ordem cronológica, e já falhei novamente. Escovo meus dentes, e lá vamos nós pros remédios da noite. Eu já aceitei que preciso deles. Não é nenhuma vergonha. E eu já sou beeem descontrolada, mesmo tomando-os. Dose noturna + remédio pra dormir. Ou você acha que essa cabeça que quer salvar o mundo inteiro vai simplesmente apagar sozinha? Nananinanão.

E aqui começa minha segunda guerra diária! O período entre colocar a cabeça no travesseiro e dormir verdadeiramente pode trazer verdadeiras surpresas. Saudades, lembranças felizes, choros, apertos no peito – e bem raramente sono instantâneo. Ajusto o meu despertador para um horário bem cedo, pois planejo muitas coisas antes de chegar ao hospital e começar, efetivamente, o meu dia.

Porém. existem dias em que dormir é muito difícil – sendo este outro componente muito difícil da vida de um ansioso! Absolutamente tudo passa pela nossa cabeça nesse momento. Você repassa todo o dia que já foi, e repassa todos os seus planos para o que virá. Mesmo sabendo que tudo irá falhar, como sempre.

Pela manhã, o despertar é exaustivo. Mas eu tenho minha vantagem sobre essa doença sugadora: eu sou uma adoradora das manhãs. E tenho o dom de sempre acordar feliz! Então esse é o meu horário especial de vencer todas as minhas fraquezas, mesmo que sozinha.

Hora dos remédios. Sim, eu preciso deles. Se eu não tomar meu remédio pro TDAH, a gente não vai conseguir conversar. Minha mente não criará raciocínios. Acredite, eu já tentei. Não é graça, não é frescura. Cada um sabe os problemas que está passando, e do que precisa para resolvê-los. Quando o colesterol não diminui somente com dieta, é necessário introduzir uma medicação para ajudar, pois a pessoa corre riscos sem o remédio. A saúde mental é tão importante quanto!

Alguns meses depois de um período muito sombrio da minha vida, finalmente eu tenho me sentido melhor. A mesa está completamente bagunçada, isso eu ainda não consegui resolver. Atrapalho-me (e muito) em tudo que tento fazer com perfeição, e falho muito. Mas o importante é que eu não desisti, em momento algum. E muito provavelmente foi devido à minha medicação.

Um dia a mesa vai estar organizada! E até mesmo o guarda roupa. Eu vou conseguir ler um parágrafo só me concentrando, sem precisar de remédio, e absorverei tudo sobre ele. E ao me deitar, à noite, dormirei uma deliciosa noite de sono medicada pelo cansaço da rotina, e nada mais. <3

Fonte: Superela – http://bit.ly/2RgVm0w

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