O efeito da falta de medicamentos no tratamento da EM

Mulher de cabelos loiros na altura do ombro, olhos azuis e pele clara, está vestida em uma camiseta cinza escura, sentada em um sofá de couro marrom. Sua mão esquerda repousa em seu queixo e ela olha para o lado esquerdo, com o rosto de perfil.

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Quando eu fui diagnosticada com Esclerose Múltipla em 2016, o meu maior medo era um dia ficar remédio. Fazer parte desse grupo de pessoas, que dependem da farmácia de alto custo no Brasil, nunca fez parte dos meus planos obviamente e junto com o diagnóstico, ter de uma hora pra outra que entender o que cada documento daquele era e pra que servia na entrada do processo administrativo para solicitação do medicamento, me fazia tremer nas bases sempre que minha presença era requerida.

Passei a conviver mensalmente com a necessidade de ir à farmácia e esse evento sempre foi particularmente difícil. É lá naquela fila que eu experimentei os mais verdadeiros sentimentos de angústia, ansiedade e também o de gratidão. Todo mês a mesma coisa.

Conviver com a expectativa do “não” é muito difícil. Logo a gente, que ouve sempre dos médicos: “não se estresse, tenha calma, procure equilibrar o seu dia a dia.” Foi lá naquela fila que eu conheci pessoas, chorei com desconhecidos e consolei portadores de doenças, que assim como eu, não tem a possibilidade de adquirir seus medicamentos, porque são incrivelmente caros e longe da situação de qualquer cidadão. Todo mês a mesma coisa.

Sempre antes de me deslocar procuro notícias, pra não perder a viagem, mas muito se engana que a ansiedade e o medo desse momento mudam com a sua localização. Talvez eu experimente um pouco disso todos os dias, sempre quando tomo o remédio pela manhã e conto, sem perceber, quantos remédios ainda tenho. Todo mês a mesma coisa.

Hoje tive a notícia que estamos em falta mais uma vez. Como se já não bastasse a pandemia, não me estressar com a possibilidade de ficar sem tratamento passa longe de ser verdade. Quem já viveu um surto da Esclerose sabe bem o que tô falando. Todo mês a mesma coisa.

Dizem que a gente se acostuma. Só não falam que isso é completamente errado e deveria ser proibido a gente se acostumar ao que nos faz tanto mal. Ao contrário disso tudo, fazem quase 5 anos que eu não me acostumo a ter esses momentos. E não me acostumo a ouvir o “não” de um governo que não se importa com a minha saúde.

A gente sempre soube que somos números, mas quando se tem o diagnóstico de uma doença que precisa de algum respaldo governamental se tem certeza que poucos são os que lutam por você lá em cima.

Se negam o primordial, negam também a sua paz de espírito, negam o seu bem estar, negam sua tranquilidade, equilíbrio e saúde mental. Todo mês, quando te dizem “não”, negam tantas coisas a mim, que não posso enumerar. Sinto um nó no estômago tão grande que talvez seja essa a dor do esquecimento e da impotência, que eu nunca soube decifrar.

Sempre que dizem que eu preciso esperar, eu rezo. Eu rezo para que o meu corpo tenha paciência comigo, que ele não se ataque, rezo para que meus amigos não passem pelo mesmo que eu. Rezo pra que aquela caixinha chegue logo. Rezo para que me respeitem em minha dor e me enxerguem. Rezo pra alguém me ligue e fale o “sim”. Todo mês. Todo mês a mesma coisa. 

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