Pessoas que têm Esclerose Múltipla não devem abandonar o uso de vacinas, mas precisam consultar seus médicos antes de receberem qualquer dose, principalmente se o paciente enfrenta uma crise ou passou por ela nos últimos seis meses e está com a imunidade enfraquecida.
A discussão sobre distúrbios neurológicos provocados por vacinas é antiga. Entre as possibilidades reais, a tríplice viral (difteria, coqueluche e tétano) pode causar crises convulsivas em algumas crianças. E a primeira versão da vacina contra o H1N1, usada em 2009, desencadeou um surto da Síndrome de Guillain-Barré, doença aguda que afeta o sistema nervoso periférico.
Mais recentemente, surgiu a dúvida de que vacinas em geral poderiam causar Esclerose Múltipla. “Qualquer vacina provoca uma ativação do sistema imunológico. Se a pessoa já tem uma doença autoimune, em teoria, a presença da vacina pode ativar a imunidade contra a vacina e também contra a doença”, explica o neurologista Denis Bernardi Bichuetti.
“No caso específico da Esclerose Múltipla, a vacina não provoca a doença. A pessoa pode descobrir que tem a EM após tomar a vacina porque o medicamento ativou o sistema imunológico”, ressalta o médico. “O paciente com EM pode tomar todas as vacinas do calendário básico. Não há risco aumentado para essa pessoa”.
Entre as excessões, explica Buchuetti, está a vacina da Febre Amarela, porque o vírus da doença “adora cérebro” e existem casos raros nos quais essa vacina pode gerar lesão cerebral pela febre. “É a única com risco aumentado para um surto em pessoas que têm Esclerose Múltipla. Não se trata de uma contraindicação absoluta, mas ao paciente que vai viajar para uma área com risco de Febre Amarela, eu peço para não tomar a vacina, usar blusa com mangas compridas e passar repelente”.
Outra restrição apontada pelo neurologista para o paciente com EM, apesar da atual segurança das vacinas, considerando que elas ativam o sistema imunológico, é evitar a aplicação nos primeiros seis meses após uma crise. “Se o surto é recente, vale evitar para evitar outro surto”.
O terceiro ponto, destaca Denis Bichuetti, é que se o paciente faz uso de qualquer remédio imunossupressor, ele não pode receber vacinas com organismos vivos, entre as quais estão Febre Amarela, BCG (para Tuberculose), MMR (Sarampo/Caxumba/Rubéola), Herpes Zoster, Varicella Zoster e Cólera.
No que diz respeito à Esclerose Múltipla, os remédios são Teriflunomida, Fumarato, Fingolimode, Alentuzumabe e, talvez, Natalizumabe.
“Esses medicamentos baixam a imunidade. Se a pessoa toma a vacina que contém um vírus vivo, mesmo atenuado, mas o sistema imunológico desse paciente já está enfraquecido, ele pode ter a manifestação da doença”, finaliza Bichuetti.
SAIBA MAIS
Uma vacina é uma preparação biológica que fornece imunidade para uma doença particular. Contém um agente que se assemelha ao microrganismo causador da doenças e, muitas vezes, é compostor de formas enfraquecidas ou mortas do micróbio, suas toxinas ou proteínas de superfície.
O agente estimula o sistema imunológico do corpo para reconhecê-lo como uma ameaça, destruí-lo e a manter um registro dele para ser reconhecido e destruído quando for novamente encontrado e identificado.
A eficácia da vacinação tem sido amplamente estudada e verificada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que as vacinas licenciadas estão atualmente disponíveis para prevenir ou contribuir para a prevenção e controle de 25 infecções.
Os termos ‘vacina’ e ‘vacinação’ são derivados de Variolae vacinae (varíola da vaca), nomenclatura inventada por Edward Jenner – naturalista e médico britânico (1749/1823) – para destacar a varíola bovina. Em 1881, para homenagear Jenner, o cientista francês Louis Pasteur (1822/1895) propôs que os termos fossem estendidos para cobrir as proteções em desenvolvimento na época.
Luiz Alexandre Souza Ventura, especial para a AME