Segundo pesquisadores, os tratamentos femininos para fertilidade não oferecem risco a possíveis recaídas na Esclerose Múltipla. Esse foi um dos muitos temas abordados no 38º Congresso do Comitê Europeu para Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (ECTRIMS), que aconteceu de 26 a 28 de outubro de 2022, em Amsterdã, capital da Holanda. O evento foi realizado de forma híbrida e pudemos acompanhar para trazer alguns destaques para vocês. Boa leitura!
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Um dos estudos apresentados no ECTRIMS de 2022 foi sobre os tratamentos femininos de fertilidade e sua influência a uma possível recaída na Esclerose Múltipla (EM). Uma análise mostrou que esses tratamentos não aumentam significativamente esse risco, mesmo entre as mulheres que se estão seguindo protocolos associados a maiores níveis de exposição hormonal. Os fatores associados ao menor risco de recaída nos três meses após o tratamento de fertilidade são idade avançada, duração mais longa da EM e o uso de tratamentos modificadores da doença (DMTs).
De acordo com Edith Graham, professora assistente do departamento de neurologia da Northwestern University, “No futuro, para apoiar as pessoas com EM em seus tratamentos ativos para Esclerose Múltipla durante tratamentos de fertilidade, podemos usar terapias modificadoras da doença com efeitos que persistem além de sua eliminação”, explicou em uma apresentação durante o evento.
Ainda, conforme Edith, o estudo intitulado “Atividade inflamatória após diversos tratamentos de fertilidade: uma análise multicêntrica na era moderna do tratamento da EM” foi apresentado por ela no ECTRIMS, realizado de 26 a 28 de outubro, de forma híbrida, em Amsterdã, na Holanda. Como a EM é diagnosticada com mais frequência em mulheres em idade fértil, a fertilidade e a gravidez são preocupações comuns entre as pessoas.
Investigando os efeitos do tratamento de fertilidade na Esclerose Múltipla
Um grande volume de dados mostrou que as mulheres com EM são tão férteis quanto as mulheres na população em geral. Além disso, elas geralmente têm gestações seguras que não alteram o curso da EM. Mas, ainda não está bem estabelecido na literatura se os tratamentos de fertilidade podem afetar o risco de recaída.
Anteriormente, no passado, cinco pequenos estudos, cada um envolvendo de quatro a 32 mulheres com EM, descobriram que a fertilização in vitro aumentava o risco de recaída de duas a sete vezes. Mas, um estudo mais recente envolvendo 225 mulheres não conseguiu demonstrar um risco maior.
Além disso, as práticas de tratamento de fertilidade sofreram uma mudança nos últimos anos, com o uso de terapias hormonais mais seguras e um aumento do uso de DMTs durante o processo. Também houve um “aumento do uso de diversos tratamentos de fertilidade”, disse Graham.
Avaliando as taxas de recaídas entre mulheres com Esclerose Múltipla
Para obter mais informações sobre a questão do risco, Graham e sua equipe avaliaram as taxas de recaída entre mulheres com EM que passaram por pelo menos um ciclo de tratamento de fertilidade de 2010 a 2021. Grandes centros dos EUA reberam as pessoas para tratamento.
Conforme Graham, um total de 124 ciclos de tratamento de fertilidade, entre 65 mulheres, foram incluídos na análise. As mulheres tinham Síndrome Clinicamente Isolada (CIS) ou Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR). Tinham a média de idade de 36,3 anos e conviviam com a EM há 7,7 anos, em média. A maioria das mulheres (78%) era branca e com baixos níveis de disfuncionalidade.
Tratamentos modificadores de doença
Cerca de 60% das participantes usaram DMTs no ano anterior ao tratamento de fertilidade e 43% delas estavam em uso no momento do tratamento de fertilidade. As mulheres submeteram-se a uma variedade de tipos de tratamento de fertilidade, incluindo estimulação ovariana controlada (15%), transferência de embriões (24%) e fertilização in vitro (49%), que combina as outras duas abordagens. Outras 11% foram submetidas à indução oral da ovulação.
Então, os pesquisadores compararam as taxas de recaída nos três meses seguintes a um ciclo de tratamento de fertilidade com as taxas do ano anterior a esses tratamentos. No geral, seis recaídas ocorreram em cinco pacientes dentro de três meses, o que totalizou uma taxa de recaída anual de 0,18. Em comparação, essa taxa era de 0,23 antes do tratamento de fertilidade. “Não houve aumento do risco de recaídas observados nos três meses após o tratamento de fertilidade”, disse Graham na apresentação.
Assim, as taxas de recaída também foram baixas no subgrupo de mulheres que receberam tratamentos de fertilidade associados a níveis mais altos de exposição hormonal – aqueles envolvendo estimulação ovariana controlada. Então, entre elas, houve cinco recaídas em quatro, e os números de antes e depois do tratamento foram de 0,26 e 0,25, respectivamente. “Houve um baixo risco de recaída durante o tratamento de fertilidade, mesmo com protocolos historicamente vistos como mais arriscados”, disse Graham.
Análise de preditores de recaída
Além disso, a equipe também analisou potenciais preditores de recaída. Os resultados mostraram que as taxas de recaída foram significativamente menores em mulheres com 37 anos ou mais, com duração da doença de dois anos ou mais e que usaram DMT durante os tratamentos de fertilidade. No geral, 37% chegaram ao final da gravidez e tiveram uma criança nascida viva [termo médico usado para crianças que chegaram ao parto vivas], o que também associa-se a uma taxa de recaída reduzida.
Ou seja, conforme observou Graham, o baixo número de recaídas “limitou nossa capacidade de identificar alguns fatores específicos de recaída”. No entanto, “as descobertas expandem nosso conhecimento sobre tratamentos de fertilidade, mostrando diversos tratamentos de fertilidade e não apenas a fertilização in vitro”, disse Graham.
Por fim, os pesquisadores concluíram: “Nesta série de casos (…) não observamos um risco elevado de recaídas após [o tratamento de fertilidade]”.
Leia mais no site da AME:
- Neurologia e saúde da mulher na Esclerose Múltipla
- Uma mãe com Esclerose Múltipla
- Saúde feminina e Esclerose Múltipla
Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose
Fonte: Multiple Sclerosis News Today, direto do #ECTRIMS2022
Escrito por Lindsey Shapiro, em 26 de outubro de 2022.