Saúde sexual masculina e esclerose múltipla: como lidar?

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Ereção, incontinência urinária e falta de libido são principais queixas dos homens; saiba mais

Aos 24 anos de idade, quatro antes de ser diagnosticado com esclerose múltipla, Jeferson começou a perder a libido. “Lá por 2008, eu tive um surto, investiguei e não tinha causa conhecida na época. Entre muita fadiga, tonturas, sensação de queimação no peito e muita queimação nos pés, tive total ausência de libido. Até então eu tinha uma relação normal com sexo, desejo, reação a estímulos. Porém, naquela ocasião, não tive nada de libido. Era algo que não passava pela cabeça nem pelo corpo. Gradativamente, após alguns meses foi voltando ao normal”, conta.

Em 2012, o jovem teve o diagnóstico de EM confirmado pelos médicos. Até então, a vida sexual dele não tinha ocorrências, “Depois, houve mais insegurança do que diferença efetivamente. Com o uso de antidepressivo, para controle da ansiedade e depressão a longo prazo como sintomas possíveis da EM, começou a influenciar na evacuação, retardando-a. No início pareceu legal, aquela questão do “homem durar mais” durante a relação. Ao passar dos anos, isso começa a se tornar uma dificuldade, pois passou a ser cada vez mais difícil chegar ao clímax”, relata.

Com a esclerose múltipla, muitos sentidos ficam alterados. Alguns pacientes podem sentir mais ou menos em relação à antes. “A sensibilidade na região íntima não é a mesma como antes. No meu caso, a impressão é que vem diminuindo essa sensibilidade. Quanto à medicação, tive que trocar o antidepressivo para ter “menos efeito colateral”, o que tem ajudado e atualmente não está tão difícil quanto já foi”, diz Jeferson.

Questionado sobre o que deve ser dito sobre saúde sexual masculina e EM, ele é enfático: “Fale com sua companheira ou companheiro. Sem conversa fica difícil até para nós mesmos compreender o que está acontecendo. Vá a um urologista, ele poderá tirar várias dúvidas ou mostrar que não há com o que se preocupar. E se você se sentir à vontade, fale com outras pessoas com Esclerose Múltipla sobre o assunto. Você não está sozinho e não tenho dúvidas de que há outros que já passaram pelo que está passando e estão dispostos a contribuir. Felizmente, na Esclerose Múltipla somos uma comunidade muito forte, usufrua disso”, conclui.

O prazer sexual masculino e a esclerose múltipla

O sexo ainda é um tema considerado tabu em nossa sociedade. Se, para as mulheres, abordar o assunto pode ser considerado algo “inapropriado”, para os homens, lhes é exigido uma “alta performance” sexual, repleta de expectativas para todos os lados. Na saúde sexual masculina com a esclerose múltipla, não é diferente.

Para falar sobre as principais reclamações dos homens diante do assunto e como lidar com isso, nós entrevistamos o neurologista Denis Bernardi Bichuetti, professor do Departamento de Neurologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Confira:

1 – Com sua experiência na área, quais são as principais queixas dos pacientes que têm EM no quesito saúde sexual?

R: Pensando no homem, a principal delas é a não ereção. Vai desde a não ereção, passando pela ereção não sustentada e a não ejaculação com a não sensação do orgasmo. Geralmente, a não ereção é a reclamação mais frequente. Não sei te dizer qual é a percentagem, mas é muito menos comentado do que as pessoas sentem.

2 – Quais sintomas da EM podem comprometer o desempenho sexual dos pacientes?

R: O primeiro deles é a fadiga, que tira a intenção da pessoa do contato sexual. O segundo é a incontinência urinária. A relação exige uma certa comunicação como, por exemplo, ‘vou urinar primeiro’ e etc. Outros sintomas que comprometem o desempenho sexual: a dor, a espasticidade, porque, se eu tenho uma perna mais espástica, tenho dificuldade de achar o posicionamento para a relação. A fraqueza obviamente de membros inferiores dificulta a posição. No caso do homem, em posições que mulheres ficam por cima é melhor para o paciente que tem fadiga.

3 – Quais são as orientações para pacientes com EM e que querem se sentir melhor na área sexual com seus parceiros e parceiras?

R: A primeira coisa é falar com o parceiro, é dizer qual é a dificuldade, quais são as facilidades, encontrar a posição que acontece melhor, a hora do dia que tem menos fadiga, coordenar isso com tomar ou não o remédio. Conversar com o médico também é importante. No caso do homem, o mais fácil é a prescrição de um medicamento, os famosos inibidores da fosfodiesterase, viagra e afins. Mas isso não é tudo.

4 – E sobre as medicações?

R: Alguns medicamentos podem prejudicar o desempenho, por exemplo, os antidepressivos que diminuem a libido. Existem alguns remédios para pressão alta e até alguns medicamentos para a dor que podem diminuir a capacidade de ereção ou retardam a ejaculação. É bom fazer uma lista das medicações que são tomadas para o médico verificar onde pode estar a maior dificuldade.

5 – Poderia dar algumas dicas aos nossos leitores?

R: O que vale tanto para homem quanto para mulher com EM são as carícias, as preliminares, as brincadeiras e brinquedos que são importantes. Então, eventualmente frequentar um sex shop, por exemplo. Existem alguns anéis que prendem no pênis, vibradores, géis que são estimulantes que aquecem a região para o homem que tem dificuldades de ereção. Atenção: nunca usar o gel anestésico que retarda a ejaculação. Em alguns casos, uma consulta com especialista pode ser importante. Para alguns homens, existem hormônios e, em casos mais extremos, a prótese peniana. Isso já tem que ser discutido com um urologista especializado.

Como uma dica a mais para os leitores, o neurologista Denis Bernardi Bichuetti recomenda um podcast que foi realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia. Para conferir, clique aqui.

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