Pesquisadores da USP descobrem substância associada à dor neuropática

Achado pode apontar novos tratamentos para esse tipo de dor, ainda sem cura, que afeta pessoas com esclerose múltipla e diabetes, entre outras doenças

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Fernanda Simoneto, da Redação AME/CDD

 

Pesquisadores brasileiros e norte-americanos descobriram um mecanismo que contribui no surgimento da dor neuropática, associada a doenças como diabetes e esclerose múltipla. Este tipo de dor crônica é caracterizada pela lesão ou mau funcionamento do sistema nervoso e pode ser sentido em diferentes partes do corpo. As sensações da neuropatia incluem formigamentos, agulhadas e queimação.

“A dor neuropática está associada ao que chamamos de dor espontânea. São incômodos que se manifestam sem que o indivíduo esteja fazendo alguma atividade”, explica Thiago Mattar Cunha, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto e um dos autores do estudo. Um levantamento da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) indica que entre 7% e 8% dos adultos apresentam dor crônica com essa característica. No entanto, os dados variam consideravelmente por causa das diferentes metodologias aplicadas nas pesquisas. 

O que diz o estudo

No estudo em questão, os cientistas produziram lesões no nervo ciático de camundongos, o que desencadeou as mesmas reações da dor neuropática em humanos. Ao verificar como os traumas provocaram os incômodos, eles notaram que as chamadas células dendríticas, presentes nas meninges, aumentaram a produção de uma enzima com o nome de indoleamina 2,3 dioxigenase (IDO1). Essa substância, por sua vez, é responsável pela fabricação da quinurenina, um metabólito que promove a sensação de dor. 

A descoberta desse mecanismo abre o caminho para o desenvolvimento de tratamentos específicos contra a dor neuropática. “Se conseguirmos bloquear a produção dessa enzima, também bloquearemos a produção da quinurenina, que causa dor”, detalha o professor. A pesquisa foi conduzida pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com as universidades do Texas (EUA), Augusta (EUA) e a Newcastle (Reino Unido) e publicada na revista científica The Journal Of Clinical Investigation.

O desafio agora é encontrar alguma molécula capaz de atacar a produção do metabólito sem gerar muitos efeitos adversos. “O processo de descoberta de moléculas demora, tem várias etapas, mas já iniciamos. Temos algumas ideias que podem trazer resultados dentro de alguns anos”, projeta o cientista da USP. 

Hoje, quem sofre com as dores causadas pela lesão dos nervos sensitivos só consegue tratar os sintomas, pois não há clareza sobre as causas da condição. Geralmente, a dor neuropática acomete pessoas idosas. Seu surgimento está relacionado com a presença de alguma outra comorbidade. “Toda doença que de alguma forma causa uma lesão neural tem a possibilidade de causar uma doença neuropática”, explica. 

Condições crônicas que mais enfrentam a dor neuropática

As mais frequentes são diabetes, infecções virais (como o HIV) e doenças autoimunes, a exemplo da esclerose múltipla. O uso de medicamentos quimioterápicos e lesões nos nervos sensitivos, geradas por um trauma mecânico, por exemplo, também podem provocá-la. Não significa que as pessoas que sofrem dessas doenças sempre vão desenvolver esse tipo de dor. Depende de fatores genéticos, ambientais e da própria condição emocional”, tranquiliza Cunha. 

O diabetes lidera o ranking das causas associadas à ocorrência da neuropatia. De acordo com dados da IASP,  26% das pessoas com diabetes possuem a dor neuropática. A comorbidade está associada a baixa produção de insulina pelo corpo humano: o excesso de açúcar no corpo produz lesões no sistema nervoso periférico e altera a comunicação com o cérebro, gerando dores principalmente nos pés e nas mãos. 

Tratamento

Hoje, o tratamento mais comum inclui a prescrição de antidepressivos. Embora sejam desenvolvidos para outro propósito, eles atuam contra a sensibilização do sistema nervoso central, bloqueando a assimilação da dor pelo cérebro. Por se tratar de uma dor crônica, o desconforto só é amenizado com o uso de medicamentos, e o tratamento não pode ser interrompido. 

A dor neuropática pode gerar outras comorbidades, como ansiedade, depressão e distúrbios de sono, o que acarreta na piora da qualidade de vida. Daí advém a importância do estudo e da descoberta e um mecanismo que possa bloquear o surgimento dos incômodos.

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