Em 19 de setembro, em reunião extraordinária, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias SUS (Conitec) decidiu pela recomendação de incorporação da cladribina oral para tratamento de pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente altamente ativa. Após apreciação das contribuições de consulta pública, o comitê de medicamentos da Conitec reviu a posição preliminar de não incorporação do medicamento no sistema público.
De acordo com o PCDT da Esclerose Múltipla, o natalizumabe era a primeira opção de tratamento para casos de EMRR altamente ativa. Em caso de falha, o alentuzumabe é o medicamento de segunda linha disponível no SUS. De acordo com as discussões do parecer preliminar da 119ª Reunião Ordinária da Comissão, a opção pela não incorporação se dava em razão de “os membros do Comitê de Medicamentos da Conitec consideraram que as evidências apontaram a eficácia do medicamento, mas não demonstraram que há superioridade ao natalizumabe, já disponível no SUS. Além disso, predominaram incertezas relacionadas aos aspectos econômicos”.
No entanto, o natalizumabe, em razão de sua administração por via venosa a cada quatro semanas em ambiente hospitalar, pode gerar dificuldades relacionadas à infusão e uma maior necessidade de monitoramento dos pacientes, uma vez que podem ocorrer efeitos adversos graves. Já a cladribina possui administração oral com a realização de dois ciclos anuais de cinco dias, por meio da ingestão de comprimidos nos dois primeiros anos, não sendo necessário utilizar a cladribina no terceiro e quarto anos. O que envolve menor custo operacional e necessidade de monitoramento.
Ademais a sua eficiência para o tratamento de EM, o natalizumabe apresenta fatores de risco para o desenvolvimento de LEMP (Leucoencefalopatia Multifocal progressiva). Outro fator relevante a ser considerado é a questão da qualidade de vida, uma vez que, para muitas pessoas com EM, a necessidade de administração hospitalar mensal do natalizumabe traz diversas inconveniências, especialmente no mercado de trabalho.
Nota da Amigos Múltiplos pela Esclerose sobre a incorporação da Cladribina
A incorporação da cladribina oral é uma vitória da mobilização da sociedade civil. A cladribina para além de sua eficácia no tratamento da EMRR é uma medicação com algumas vantagens, em potencial em relação a sua administração e acompanhamento, em relação ao natalizumabe. Ter diferentes opções para o tratamento é uma vantagem importante para adequação dos medicamentos aos indivíduos que os utilizam, levando em consideração diferentes contextos e necessidades.
A AME mantém como posicionamento que os protocolos (PCDT) para Esclerose Múltipla seguem insuficientes às necessidades das pessoas com EM. Ainda não há nenhum tratamento previsto para EM Primária Progressiva, por exemplo, o que significa que pessoas com este tipo de EM seguem desassistidas, mesmo existindo já medicamentos aprovados no Brasil disponíveis. É preciso, portanto, insistir na inclusão de novos medicamentos e terapias que podem dar opções mais eficazes e variadas de tratamento para pessoas com EM.