Por Mirna
Quando fui diagnosticada, meu filho tinha acabado de completar 3 anos. Até aquele momento, minha percepção de maternidade era: ele precisa estar bem para eu ficar bem. Para garantir isso, eu dava conta de mil e uma responsabilidades sozinha. Digo sozinha, porque a profissão de meu marido faz com que ele esteja sempre na estrada.
Meu filho não dormia sem tomar banho, tinha a alimentação extremamente controlada, não brincava sozinho e não dormia no quarto porque eu tinha medo dele “precisar de mim” durante a noite e eu não ouvir. Inclusive, qualquer movimento dele, já estava acordada, ajeitando o lençol e verificando se a temperatura do quarto estava agradável.
Eu tinha uma cobrança exagerada, me sentia na obrigação de ter meu tempo integralmente dedicado a ele. Inclusive, meu maior medo em relação a EM foi a maternidade. Primeiro, se eu poderia cuidar de Benjamin até ele ficar independente. Segundo, se eu poderia ser mãe novamente. Lembro que na semana do diagnóstico, com apenas um olho enxergando, passei dias olhando pro rostinho dele, tava com medo de ficar cega e esquecer como ele era. Eu só queria que meu cérebro não esquecesse de nenhum traço. Um medo comum para quem tinha acabado de descobrir que tinha uma doença crônica.
Com o tempo, fui administrando esse medo e o cuidado exagerado que tinha. Aprendi a delegar funções e relaxar em relação às cobranças. Benjamin dormiu algumas vezes sem tomar banho porque o Rebif (minha antiga medicação) me deixava muito mal e eu não tinha forças pra levá-lo pro banheiro. Ele se empanturrou de bolacha no jantar porque não conseguia providenciar nada mais saudável pra ele. Muitas tarefinhas da escola ficaram em branco, eu não tinha como ajudá-lo.
Aos poucos fui percebendo que a melhor coisa que posso fazer por ele é estar bem e cuidar de mim. E é assim que tem sido desde então. Antes eu, depois ele. As prioridades mudaram, mas o amor não. O amor só aumenta.