Desde muito pequena eu ouvia falar da cidade de Petrópolis. Não por conta de ser a Cidade Imperial, por ter palacetes ou por ser a principal cidade da região serrana do estado do Rio de Janeiro, mas porque foi a cidade em que minha mãe morou pra fazer uma especialização e achava linda. Pois bem, eis que conheci meu marido em São Paulo, mas ele nasceu em Petrópolis e toda sua família é de lá. E aí, em 2014 fui conhecer a família e a cidade.
Na época o Jota ainda andava com bengala canadense. E como tínhamos onde ficar, não pudemos observar a acessibilidade de hotel ou pousada.
De cara se vê que a cidade não é lá muito acessível não… cheia de morros e ladeiras pra subir e descer, com ruas estreitiiiinhas. Fazer a cidade à pé, pra gente, era impossível. O Jota me contou que antigamente ele subia e descia tudo caminhando. Mas a nossa realidade, de dois esclerosados era outra. Fizemos a cidade de carro… e charrete.
Como o Jota ainda conseguia subir na dita da charrete, fizemos um passeio que saía da frente do Museu Imperial e ia parando em alguns pontos turísticos pra gente olhar, conhecer, tirar fotos. Nesse passeio já deu pra conhecer a catedral, o palácio de Cristal, a avenida Koeller e passamos em frente de alguns museus, como o da Cervejaria Bohemia e o do Museu Imperial, que escolhemos conhecer por completo no dia seguinte. Ah, a catedral tem acessibilidade, mesmo com aquela escadaria toda. Eles instalaram um elevador individual, tipo plataforma, que anda a 0,00002km/h, mas chega lá, e isso que importa!
A casa de Santos Dumont nós olhamos lá debaixo e só… fica no meio de um morro e tem uma escadaria enoooooorme. Já li em alguns lugares que Santos Dumont teve diagnóstico de esclerose múltipla e entrou em profunda depressão, o que o levou à morte. Existem inúmeros boatos e prova nenhuma. Mas olhando a casa dele, se é verdade que ele tinha EM, era de se entender um suicídio, afinal, ele não conseguiria mais sair e voltar pra casa. (Ah, e na frente da casa ficam umas barraquinhas de souvenirs… melhor lugar pra comprar aqueles imãs de geladeira pra trazer pra família)
Pois bem, mas vamos falar dos dois museus que fomos, eu amei e tinha tudo tudo tudo acessível.
Primeiro o Museu Imperial. Sim, eu sou dessas pessoas que viaja e entra em todas as igrejas e museus. Me julguem! Gosto mesmo! E como eu não conheço lá muito bem história do Brasil (pois é… cada vez que eu mudava de escola eu estudava de novo História Geral e só vi História do Brasil no cursinho pré-vestibular) e tava ali, com meu historiador particular, era a oportunidade de entrar no museu, ler cada plaquinha e perguntar: foi verdade isso mesmo?
Lembram que eu disse que o Jota estava caminhando de bengala? Então, mas pra longas distâncias já não dava mais. Antes de irmos, liguei pra confirmar se tinham cadeira de rodas disponível. E…tchan tchan tchan tchan: tinham! Saímos bem felizes pra lá. Achei o jardim que tem na frente do museu lindo demais. Enquanto esperávamos abrir, íamos caminhando devagarinho pelo jardim. Se eu morasse lá, já tinha meu lugar pra espairecer. Na chegada eles já nos trouxeram a cadeira e ficaram a total disposição para o passeio, indicando onde tinham os elevadores (isso é pracabá com aquela desculpa rídicula de “não podemos deixar acessível porque é prédio antigo”…arrã, sei… com um bom arquiteto, dá sim!).
Deu pra ver cada cantinho do Palácio Imperial, cada exagero do Brasil Imperial, cada móvel, tapete, cortina e cama (tudo parece desconfortável…mas não dá pra experimentar não). Tudo muito bonito. Menos as pessoas dos retratos… sério gente, não se enganem com Caio Castro e Chay Suede na novelinha das seis não. A corte era (pelo menos nos retratos), feia de doer. Mas, enfim, isso não vem ao caso. Até porque, gente feia é igual gente bonita, só que feia… heheheheh. E com todas as joias e roupas que eles usavam, acho que dava pra dar uma disfarçada.
À noite nós fomos assistir ao espetáculo de som e luz do Museu Imperial. Eu confesso que a minha expectativa era de algo muito melhor, mais bonito. Descobrimos, ao comprar os ingressos que pessoa com deficiência não paga. E, quando chegamos para ver o espetáculo (que é a céu aberto), eles nos levaram direto para a frente do Palácio, enquanto as pessoas que não tem deficiência, vão subindo a ladeira do Palácio e acompanhando a história que é contada. Foi divertido ficar ali tentando achar algum fantasma na janela. Mas, não iria de novo. Além da qualidade sem sal das projeções em comparação a outros eventos similares, há uma exagerada exaltação do período imperial brasileiro. Sai-se de lá quase como maldizendo a República e a democracia.
Bom, no dia seguinte fomos a um museu diferente, mais contemporâneo, interativo e etílico também, o da Cervejaria Bohemia. Esse eu não tinha grandes expectativas e fui surpreendida positivamente. Além de ser todo acessível, eles disponibilizaram um funcionário (bombeiro) para levar o Jota dum canto pro outro. Eu gosto muito de cerveja (sim, podem me convidar), e lá tem não só a história da cerveja e curiosidades sobre o mundo cervejístico, mas também um “como se fazia” e “como se faz” a cerveja nossa de cada dia. Deu pra conhecer os grãos e provar um por um. Além de o visual ser lindo demais. Muito caprichado, do início ao fim. Fora o fato que você entra bebendo e sai bebendo… experimentamos 4 tipos de cerveja. Deu pra sair meio tontinha. Recomendo e quero voltar lá em uma próxima visita!
Bem, apesar de não ser uma cidade acessível em sua concepção, alguns estabelecimentos já estão pensando nessa questão. De carro, dá pra visitar diversos lugares e conhecer alguns museus, como esses que eu comentei por aqui.
Agora, a visão de Petrópolis de quem nasceu lá, cresceu indo pra lá, e (re)conheceu a cidade depois de ter a EM, muitos anos depois…
Jota:
Nasci em Petrópolis, mas fui para São Paulo muito cedo; antes dos três anos de idade. A cidade imperial era, então, um local em que passava as férias quando criança. Adorava passar os dias nas casas dos meus avós. Ia para cima e para baixo, quase sempre a pé. As ladeiras e distância não me amedrontavam. Quando criança, meu avô materno, um expedicionário da Segunda Guerra Mundial e aficionado em História me levava para passear e conhecer cada museu e monumento da cidade. E, ao final daquela semana, ganhava um caderninho, escrito por ele, com a descrição dos locais a que fomos, personagens representados em estátuas etc. Meu avô era show! Uma pena esses caderninhos terem se perdido. Tenho certeza que ele ia gostar de eu ter me tornado um historiador.
Apesar disso, não posso afirmar que meu conhecimento da cidade vá além das atrações principais. Sempre que levava algum amigo meu de São Paulo para a casa da minha avó acabava visitando novamente todos os pontos turísticos clássicos. O museu imperial eu devo ter visitado mais de 10 vezes. Em algumas exposições menores, como a casa de Santos Dumont, eu nem entrava mais. Não tinha saco de ver tudo aquilo de novo e ficava esperando os amigos do lado de fora.
A grande diferença foi visitar a cidade depois do diagnóstico de EM. A primeira vez foi em 2013. Nessa ocasião tinha uns trabalhos da faculdade para fazer e não saí muito de casa. Já andava cambaleando e apoiando na parede e a geografia da cidade não me incentivava muito a colocar o pé pra fora. Como estava sozinho e não tinha a obrigação de apresentar a cidade para ninguém, saí mais de carro para visitar parentes.
Em 2014, fui com a Bruna e minha mãe, que apesar de ter nascido na cidade já estava uns bons anos sem ir lá. A viagem foi essa que a Bruna contou. Nessa vez, lembro-me de termos que parar para descansar em alguns trajetos e apelarmos, às vezes, para viagens de táxi. Em 2015, voltamos. Ainda bem que a Bruna conheceu bem a cidade no ano anterior, pois já utilizava cadeira de rodas para longas distâncias e os passeios seriam mais difíceis.
Mas essa viagem de 2014 foi incrível. A mesma cidade da infância ganhava cores de novidade. Nessa oportunidade, tivemos o prazer de reencontrar meu tio e primos da minha mãe. Além disso, pudemos avaliar a acessibilidades de locais turísticos e ver antigas exposições na perspectiva de quem está sentado. Para isso, não entramos naquele ritmo alucinado de turista, que visita mil coisas em um único dia. Todo o passeio foi muito bem programado, inclusive os locais que não conseguiríamos visitar.
Programação é essencial. Em qualquer viagem, eleja prioridades. Afinal, não adianta se cansar demais em um dia e ficar sem sair de casa o resto do passeio por causa de uma fadiga ou mal estar.
Fonte: Guia do Viajante Esclerosado