COM MUITO (A)GOSTO, LARANJA!

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Você já ouviu alguém chamar o mês de agosto de mês do desgosto? Se sim, em quais circunstâncias? Pois é, eu já fui desse team que chama agosto de desgosto. Não me julgue, é uma época meio x do ano, né?

Pensa comigo: não tem a empolgação de novidade do ano novo, muito menos a sensação de alívio das festas de fim do ano. É época de frio, inverno (sem romantizações, pessoas estão morrendo no frio)… Quando a gente estuda e/ou trabalha tem todo aquele movimento de volta às atividades, à rotina… SÃO DOIS MESES CONSECUTIVOS COM 31 DIAS (julho e agosto) socorro! 

Longe de mim cair aqui nessa discussão de qual mês ou época do ano é a melhor, por mais que eu ache engraçados os rumos desse tipo de treta, isso me assusta bastante (a gente disputa até a significação do tempo para as pessoas?) Mas por muito tempo, eu nem sabia porque não gostava do mês de agosto, eu só reproduzia esse discurso sem de fato refletir sobre. 

Entretanto, chegou um momento que além de tudo que eu já disse, essa época do ano passou a representar muita coisa na minha vida: meu pai fez sua passagem em agosto, o diagnóstico da Esclerose Múltipla veio entre julho e agosto, o ingresso na Universidade, a manifestação de sintomas mais intensa no frio… Tanta coisa que em algum momento, de maneira inconsciente, como uma estratégia – eu diria que ancestral – de sobrevivência, passei a me perguntar “o que eu posso aprender com isso?”

E fui descobrindo que a gente vai aprendendo a lidar com nossos processos na medida em que se permite fazer isso. Reconhecendo limitações, mas também potências. É que nem a ginga na capoeira, nesse movimento de aprender a respeitar o tempo e me apropriar de outros sentidos que aquilo pode ter na vida.

Assim venho aprendendo a transformar o desagosto (à) gosto na minha vida…

Esse processo de – vou chamar assim, mas você pode dar o nome que quiser – desagosto (à)gosto na minha vida já vem rolando há algum tempo. Como nada é feito de receita mágica, eu acredito que esse processo de conscientização é contínuo e acompanha a gente sempre. O que eu quero dizer é que muitas vezes RESOLVER ou SUPERAR uma situação quer dizer na maioria das vezes apenas LIDAR com ela, no meu caso, foi muita coisa da minha realidade, tal qual ela é.

Por mais que hajam memórias difíceis de serem acessadas por mim nessa época do ano, também tenho muito que celebrar.

Vou começar por aqui:

Assim como entre fevereiro e março, a passagem entre julho e agosto é marcada pelo aniversário de várias pessoas que eu amo DE MONTE. Da minha melhor amiga de infância, da minha mãe, de primos, tios, da minha madrinha, da minha enteada, de encontro com a família ampliada… Enfim, é um mês em que celebro e muito a vida dessas pessoas. Também foi o período que passei (pela segunda vez) no SISU, fui pra Chapecó – SC, e comecei uma jornada que contribuiu muito pra minha formação política e intelectual, mas principalmente onde comecei a construir laços de afetividade que me acompanham até hoje, e sou muito grata a isso.

Por fazer meu tratamento no CATEM da Santa Casa de São Paulo, também passou a ser a época do ano que consigo ver muitas dessas pessoas, a época do ano que mato um pouquinho da saudade.

Então de desagosto, o mês de agosto passou a ser uma espécie de ponte na travessia.

Um momento de respiro, de olhar a paisagem e repensar. Um momento de reavaliação, de relembrar o que faz sentido, o que importa, de onde vim e pra onde quero ir.

Agosto, é então, um momento de “Volte e pegue.” Aqui fazendo a menção ao adinkra Sankofa, porque se tem uma coisa que eu aprendi em todo esse percurso até aqui e agora, é que assim como esse provérbio nos ensina, sempre é tempo de voltar e aprender.

Para saber pra onde ir, preciso saber de onde vim.

É olhando esse caminho encruzilhado por tanta coisa que hoje eu vivo com outro sentimento nessa época do ano.

Dia 30 de agosto é a dia de Conscientização da Esclerose Múltipla e eu recebi um convite da @merckbrasil pra participar da #casaem2021.

Quando fui me dar conta do que significava esse convite, percebi que sempre tive consciência de que não me limito a isso, e que paralela à minha realidade existem muitas pessoas que partilham de algumas sensações e sentimentos que já tive e tenho, como pude perceber na blogueiragem da @amigosmultiplos .

Eu sou uma jovem adulta (ainda, tá, gente?) negra, periférica e esclerosada. Desde que recebi meu diagnóstico faço tratamento pelo SUS, no Centro de Apoio e Tratamento da Esclerose Múltipla. Isso não me impediu de viajar para diferentes estados para fazer minha graduação, de pedir carona na estrada, de ter posicionamento político, de gostar de um monte de coisa, de ser essa multiplicidade em pessoa que sou. Ter esclerose é uma face da minha realidade que preciso lidar, também é um lugar dentro de mim que urge pra que eu viva com intensidade, mas ponderação, com sabedoria e bom-senso. Pra que eu lute por justiça, por outras formas de pensar civilização, sociedade e bem viver.

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