A vida continua depois do diagnóstico

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Somos seres humanos normais que, apenas, em um ou outro momento da vida, fomos contemplados, por assim dizer, com uma companhia mal vinda, mas que, com muita paciência e cuidado, podemos torná-la menos insuportável, menos indigesta, menos indomável…

(Bete Tezine)

 

No momento em que nos descobrimos acometidos por uma enfermidade grave, passamos a vivenciar um real estado de luto que se manifesta por uma sequência de sentimentos debilitantes, nos faz mergulhar em sofrimento para depois nos fazer reemergir  para a vida, prontos para retomarmos do ponto no qual nossa história foi pausada.

Choque, ansiedade, negação, depressão, hostilidade, raiva, revolta… são sentimentos inquietantes que nos acometem para, ao final, nos levar à aceitação da doença que se instalou em nós.

São emoções alarmantes que mexem profundamente com nosso interior, mas que, embora estejam machucando no fundo da alma, resvalam em todos que nos são próximos, provocando, também neles, sofrimento e sensação de impotência por não terem o poder de fazer nada além de permanecer ao nosso lado, apoiando, compreendendo e lutando a nossa batalha. Todos esses conflitos interiores são absolutamente normais, compreensíveis e humanos. Viver o luto, chorar pelo luto, imergir nas próprias dores, fechar-se em si mesmo, retrair-se diante da enfermidade, tudo isso são reações esperadas e comuns a toda raça humana.

Porém, nada pode durar tempo demais. Nenhum desses sentimentos penosos pode permanecer indefinidamente em nosso interior. Há tempo de dor, tempo de revolta, tempo de negar… há tempo para tudo, entretanto, todas essas vivências para serem consideradas saudáveis devem nos levar, inquestionavelmente, à aceitação da nossa nova condição de vida. Cada um a seu tempo, cada um a seu modo, cada um da forma que lhe for mais fácil, mas a aceitação da enfermidade é o fator primordial para que possamos buscar a cura, quando esta for possível e, em casos de doenças incuráveis, buscar a melhor convivência possível com a patologia. Fechar aos olhos e negar indefinidamente não é o caminho para nos resolvermos com ela. Fingir que a doença não existe só nos vai trazer mais sofrimento e dor. Ignorar sua presença só vai lhe empoderar mais, pois quando uma enfermidade se sente negligenciada ela se arma de mais força para nos subjugar aos seus caprichos, às vontades da criança mimada e birrenta que é. 

Por outro lado, também não é saudável voltar toda nossa atenção exclusivamente para a enfermidade, não devemos supervalorizá-la, dedicar-lhe todo nosso tempo, esquecer que existe vida após o diagnóstico. Infelizmente, a  vida não para para que possamos viver, exclusivamente, nossa enfermidade. A vida continua, as pessoas continuam. Apesar de parecer que o mundo desabou sobre nossas cabeças, o mundo não vai parar para que possamos recolher os escombros de nós mesmos.

Agora, falando por mim, eu vivi, sim, o choque, a ansiedade, o medo, a revolta… vivi tudo simultaneamente, intensamente, mas a adaptação veio rápida e com ela a aceitação, pois descobri, e isso me trouxe certa paz de espírito, que essa seria a melhor forma de evitar que virasse escrava da minha companheira de vida, a Esclerose Múltipla. 

Não a tornei o foco da minha vida, mas dou a ela a exata parcela da minha atenção que ela demanda, nem mais, nem menos, assim, tenho conseguido uma convivência relativamente pacífica com ela. Ela recebe de mim a atenção merecida e, em troca, me deixa continuar fazendo parte do mundo, com meus sonhos, minhas ideias e minha intensa vontade de viver.

Um beijo carinhoso… 

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