A nossa seguidora @dayanacamposdesouza fez a seguinte pergunta sobre parto na Esclerose Múltipla em uma postagem no nosso Instagram:
Originalmente a postagem que gerou o comentário foi divulgando essa matéria, com quatro dicas para mulheres com Esclerose Múltipla (EM) considerarem ao planejar a gravidez.
Diante desta e de outras dúvidas, procuramos a neurologista Dra. Juliana Santiago, membro do Conselho Científico da AME, para nos ajudar a responder mais informações sobre as fases de gravidez, parto e puerpério na Esclerose Múltipla. Confira as dicas:
AME – Dra. Juliana, o parto de uma mulher com Esclerose Múltipla, tem que ser cesárea?
Dra. Juliana – A indicação da via de parto é obstétrica. As pacientes com EM não necessariamente precisarão fazer cesárea por terem a doença. A avaliação deve ser individualizada para cada mulher.
Infelizmente acreditar que precisa ser necessariamente a cesárea é um equívoco comum e precisamos abordar esse assunto para evitarmos condutas inadequadas.
AME – Quais são as condições que uma pessoa com EM tem que estar para poder engravidar?
Dra. Juliana – As mulheres com diagnóstico de Esclerose Múltipla podem engravidar se assim desejarem, para isso o planejamento gestacional é importante para a segurança da mãe e do bebê. Diferentes variáveis devem ser avaliadas na consulta neurológica para um planejamento gestacional adequado, dentre elas destacarei duas:
- O controle de atividade de doença. É recomendado que a mulher esteja sem atividade de doença (ausência de novos surtos, novas lesões T2/FLAIR ou com captação de contraste na RM após 6 meses do uso de uma droga modificadora de doença) por um período médio de 12 meses antes da retirada do método contraceptivo.
- A avaliação da droga modificadora de doença (tratamento para Esclerose Múltipla). A maioria das medicações para tratamento da EM não são consideradas seguras durante a gravidez, inclusive algumas devem ser suspensas com um período de segurança antes da retirada do método contraceptivo. Assim, o neurologista deve avaliar as características da doença da mulher e o tipo de medicamento utilizado para definir se diante dos riscos e benefícios será melhor mantê-la sem tratamento ou utilizar um medicamento durante a gestação.
AME – Há algum risco para o bebê ou para a mãe?
Dra. Juliana – A gravidez reduz o risco de surtos nas pessoas com Esclerose Múltipla, principalmente no terceiro trimestre de gestação. Entretanto, mulheres com características de uma doença agressiva podem apresentar surto durante a gravidez principalmente pela suspensão do tratamento. Nesses casos a pulsoterapia poderá ser realizada, preferencialmente após o primeiro trimestre de gestação. Após o parto, geralmente no terceiro mês há risco aumentado de recorrência de surtos e por isso o planejamento pós gestacional também é importante para a segurança da mãe.
Em relação ao bebê, o risco de aborto e malformação em mulheres com EM é semelhante ao da população em geral. O risco do bebê apresentar EM é de 1 a 5% enquanto na população em geral é de 0,1 a 0,2%.
AME – O que as pesquisas mais recentes sugerem sobre isso?
Dra. Juliana – Ao contrário do que se pensava até metade do século XX, as mulheres com EM podem engravidar se assim desejarem. A gravidez não impacta negativamente no prognóstico da doença a longo prazo. Além disso, estudos recentes demonstraram que a amamentação exclusiva pode ter efeito protetor no pós parto imediato.
AME – Como ocorre o tratamento para a EM após o parto?
Dra. Juliana – A decisão sobre o retorno imediato do tratamento no pós-parto deve ser individualizada de acordo com as características da doença da paciente. Por exemplo, as pacientes com alta atividade de doença antes do parto provavelmente precisarão de retorno imediato do tratamento, já as pacientes que estavam estáveis e não apresentam características de uma doença agressiva talvez poderão postergar o retorno do tratamento para amamentarem. Diferentes variáveis deverão ser avaliadas pelo médico assistente para a decisão.
AME – Algo mais que acredite ser importante sobre esse assunto?
Dra. Juliana – A gravidez e o puerpério são momentos especiais da vida da mulher, por isso é tão importante fazer um planejamento gestacional e pós gestacional adequado para a sua segurança. Devemos ressaltar também a necessidade do cuidado psíquico, as gestantes e puérperas devem ser acolhidas e amparadas para que vivam esse período da melhor forma possível. Os médicos e familiares devem estar atentos para possíveis transtornos psíquicos como por exemplo a depressão pós parto. O cuidado deve ser amplo e multidisciplinar, e não exclusivamente voltado para Esclerose Múltipla.