Se tem algo que está proliferando mais que o coronavírus é a “doença da produtividade”. De onde esse povo acha tanto tempo num dia e tanta disposição pra produzir tanto?
Obviamente que não é uma doença de verdade e feliz de quem pode e consegue produzir, seja o que for nesse caos que nossa vida se tornou. O comentário inicial pode parecer ranço e inveja, mas é só uma constatação mesmo.
Fico abismada, porque não dou conta nem do básico do dia à dia. Eu sou atrapalhada, não consigo nunca estabelecer uma rotina, por mínima que seja, justamente porque esbarro na fadiga ou num dia cheio de dores.
Ser produtivo se tornou imperativo
Desde o inicio da “quarentena” imposta pela pandemia, tenho visto uma enxurrada de conteúdo sendo produzido com as mais diversas finalidades. É diário da quarentena na visão das mais diversas pessoas. São cursos online, gratuitos ou bem pagos, dos conteúdos mais diversos e para os mais diversos fins. “Lives” de artistas, de políticos, de professores, de gente séria e de gente sem fundamento e sem noção. Comédia, drama, música, cinema, educação, saúde, cultura, política, notícias, fake news… Tem de tudo, não há o que não haja.
Diante de tão farto “cardápio” de entretenimento, eu penso que caso fosse consumir tudo aquilo que me interessa, precisaria de mais umas 3 ou 4 existências completas. Além disso, sinto uma pressão para que todo mundo seja produtivo. Como se dar conta de crianças, pré-adolescentes em casa, 24 horas por dia, administrar a dificuldade e a frustração delas com os deveres da escola, segurar a onda da ansiedade delas, da fome interminável de comida, de conhecimento, de respostas, de vida, de tudo mais que essas criaturinhas dessa idade têm e ainda administrar minha própria ansiedade e frustração não fosse trabalho suficiente.
E eu, faço o quê?
É certo que esse excesso de “produção de conteúdo” é um escape para a ansiedade e frustrações. Mas nem todo mundo consegue usar essas ferramentas com esse fim. No meu caso, o efeito é contrário. Cada coisa que me proponho a fazer e não consigo, seja por qual motivo, me deixa ainda mais frustrada. Me culpo e me condeno por não ser capaz de produzir nada de útil para a coletividade.
O que me conforta, no entanto, é saber que tenho feito tanto quanto posso em vários aspectos no meu mundinho. Sem ter máquina de costura e sem saber costurar, produzi algumas máscaras para nosso uso. Tenho feito alguns poucos cursos online. A oferta é imensa, inclusive de cursos gratuitos, que é o que posso fazer, mas não posso dar passo maior do que a perna, uma coisa de cada vez porque meu déficit cognitivo não ajuda. Nunca fiz tanto bolo na vida! Dos mais diversos sabores e que nem chegam a esfriar direito e já desapareceram por completo. Além de me manter a disposição dos amigos para uma conversa, porque se tem algo que todo mundo precisa nesse momento é alguém para desabafar ou para falar amenidades pra distrair. Enfim, se me sentisse bem todos os dias, certamente poderia fazer mais. Mas preciso aceitar minhas limitações.
E você, está no time de quem ta produzindo muita coisa, aprendendo tudo, ou ta como eu, meio perdida nessa bagunça?