Como notícias falsas de saúde podem levá-lo a tomar decisões perigosas

Notícias falsas de saúde podem causar danos reais. Veja como identificar a diferença entre histórias falsas e informações verificadas.

Compartilhe este post

Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter

Dormir com cebolas cruas e fatiadas em suas meias pode liberar toxinas do seu corpo. Duas mãos cheias de castanhas de caju podem aliviar a depressão tanto quanto uma dose de Prozac. E você sabia que uma vacina para diabetes foi encontrada no México? Se você acreditasse em tudo o que lê online, poderia nunca mais ir ao médico. Mas na verdade, essas três histórias populares de saúde foram desmentidas. Não que isso importe, no entanto – ainda há muitas notícias questionáveis de saúde e fake news, pura e simples por aí.

“Fake news” não é apenas uma frase que os políticos usam para tentar desacreditar informações que prefeririam que o público não acreditasse. Também pode se referir a histórias médicas que são mais especulação (intencional ou não) do que verdade.

“Informações e notícias médicas falsas fazem os pacientes ficarem desnecessariamente assustados e muitas vezes podem atrasar o atendimento médico necessário e a atenção”, apontou a Dra. Shilpi Agarwal, uma médica de medicina familiar na área de Washington, D.C. “Além disso, às vezes pode fazer com que as pessoas gastem dinheiro em tratamentos que não são realmente comprovados ou precisos do ponto de vista médico… Pessoas que não são profissionais médicos treinados podem publicar qualquer informação online.”

Por que informações falsas se espalham tão rápido?

“A maioria de nós já fez isso – alguns mais de uma vez”, reconheceu o Dr. S. Adam Ramin, urologista e diretor médico da Urology Cancer Specialists em Los Angeles. “Você fica doente… e o que você faz? Você busca o Dr. Google e pesquisa sua condição online. Dependendo das palavras que você pesquisa e do conhecimento prévio que você pode ou não ter, tal atividade pode te levar a uma espiral de preocupação e desespero.”

Ou, inversamente, fazer você sentir que encontrou um estudo de pesquisa ou um novo tratamento para o seu problema de saúde que o seu médico – por algum motivo – não conhece.

Em 2016, um artigo com o título intrigante “O dente-de-leão pode fortalecer o seu sistema imunológico e curar o câncer” foi compartilhado 1,4 milhão de vezes no Facebook. Foi a história “câncer” mais compartilhada na plataforma de mídia social naquele ano. O único problema? Não era verdade. Embora o dente-de-leão possa ter benefícios para pacientes com câncer, no momento da publicação, um estudo acabara de ser lançado e nenhum resultado tinha sido confirmado.

“Há muitas informações falsas na internet porque existem pessoas que desejam acreditar que as coisas são verdadeiras, têm incentivo para acreditar que são verdadeiras, estão tentando vender algo ou convencê-lo a não comprar algo. Você precisa filtrar tudo isso”, explicou o Dr. Ivan Oransky, presidente do conselho de diretores da Associação de Jornalistas de Saúde.

A internet é um monstro insaciável que requer conteúdo o tempo todo. E não apenas qualquer conteúdo, mas aquele que seja ‘clicável’ e fácil de digerir. Estudos médicos não se encaixam organicamente nesse perfil. Eles têm muito jargão científico, figuras e tabelas a serem interpretadas e métodos de análise a serem considerados. Muito pode se perder na tradução – seja por acidente ou conveniência – até que tudo isso seja transformado em um título irresistível para clicar.

Vejamos, por exemplo, um estudo de 2017 publicado no periódico médico JAMA Internal Medicine. O título certamente não era interessante: “Comparação da taxa de mortalidade hospitalar e de readmissão de pacientes do Medicare tratados por médicos do sexo masculino versus feminino.”

Ficou muito mais interessante para a internet quando foi resumido na “notícia” de que médicas mulheres são superiores aos homens. O que não foi contextualizado: o fato de que este era um estudo observacional, o que significa que ele forneceu dados, mas não uma causa específica sobre os dados.

“É como se, quando se trata de manchetes médicas, a popularidade esteja frente às evidências”, escreveu o Dr. Roger Ladouceur, editor científico associado do Canadian Family Physician, em resposta à “notícia” gerada por esse estudo em particular. Até o momento de sua publicação, o estudo do JAMA havia sido visualizado incríveis 230.000 vezes, com 4.000 dessas visualizações vindo de fora do mundo acadêmico.

Como as Fake News prejudicam sua saúde?

As notícias de saúde falsas que você lê também dificultam o trabalho do seu médico. “Muitas vezes gastamos uma boa parte da consulta médica corrigindo informações incorretas e reeducando o paciente”, disse Agarwal.

Isso também pode fazer com que o paciente duvide do que o médico recomenda. “Os pacientes não sabem em quem confiar”, explicou Agarwal. “A fonte online deles ou o médico?”

Ela lembra de vários pacientes seus que compraram suplementos para curar várias doenças – perda de peso, depressão, até diabetes. Alguns pagaram até $400 e tinham esperanças de que esses novos tratamentos funcionariam, com base no que acreditavam ser alegações médicas legítimas. Não funcionaram.

No final das contas, Agarwal foi online com cada um de seus pacientes e explicou por que o que eles haviam lido era falso. “Então”, ela disse, “trabalhamos juntos para encontrar um plano que eu pudesse ajudar a monitorar.”

Como encontrar as fakes?

Para manter a mente aberta, e os olhos também sobre o que lê, considere estas dicas.

Busque fontes confiáveis

Siga as orientações de Associações Médicas específicas. Qual é a resposta da Associação Americana do Coração sobre um novo estudo de doenças cardíacas? A Sociedade do Câncer Americana se manifestou sobre aquele suposto tratamento revolucionário contra o câncer que todos no Facebook estão compartilhando? As informações dessas organizações foram cuidadosamente redigidas, revisadas e avaliadas por especialistas.

“Em outras palavras, é informação médica credenciada que passou por rigorosos processos de revisão e geralmente pode ser confiável”, disse Ramin.

Busque mais de uma fonte de informações

Você consegue encontrar informações sustentadas – ou seja, um padrão, tendência ou vários estudos que chegaram à mesma conclusão? “Se algo diz ‘o primeiro estudo a mostrar…’, eu não usaria isso para tomar decisões”, disse Oransky. “Você quer tomar decisões sobre sua saúde com base em um conjunto de evidências, não em um único estudo.”

Ligue seu radar de ceticismo

“Confie e verifique”, aconselhou Oransky, mencionando a regra testada e verdadeira dos jornalistas: “Se sua mãe diz que te ama, verifique.”

Apenas porque um estudo de pesquisa ou alegação de um especialista parece bom – ou apela para o que você já está fazendo, não significa que seja autêntico. E cuidado com alegações simplórias, como por exemplo “Coma esta superfruta uma vez por dia e você nunca terá câncer.”

Se parecer bom demais para ser verdade, Oransky aponta, provavelmente é.

Converse com o seu médico

“Até mesmo as informações mais credenciadas encontradas online são inúteis na ausência de avaliação e diagnóstico de um médico especialista”, disse Ramin. Conte ao seu médico o que você leu online. Envie a eles o artigo que despertou seu interesse por e-mail, ou imprima e leve para sua próxima consulta. “Um bom médico vai te ajudar com disso”, observou Ramin.

Peça uma segunda opinião

“Eu estaria errado se dissesse que a avaliação e as recomendações de todo médico são 100% perfeitas o tempo todo”, reconheceu Ramin. “Assim como você, somos humanos afinal.”

Se você sair do consultório médico sentindo que suas perguntas foram ignoradas, pode ser hora de procurar outro médico. “Isso não necessariamente significa que o médico está ‘errado’. Tem mais a ver com como você se sente em relação à interação”, disse Ramin. “Na verdade, pesquisas mostraram que os pacientes têm mais probabilidade de seguir o curso de tratamento quando é recomendado por um médico em quem confiam. Além das pesquisas na internet, é importante seguir seu instinto nesse caso.”

 

Artigo publicado originalmente em dezembro de 2018 pela HealthLine.

Traduzido e adaptado por Redação AME

Explore mais