As descobertas indicam que mulheres e pessoas com o tipo progressivo da doença têm maior probabilidade de apresentar problemas urinários
Problemas urinários, como urgência para urinar ou sensação de micção incompleta, são comuns entre quem convive com esclerose múltipla (EM), afetando mais da metade dessas pessoas, de acordo com um grande estudo na Itália.
Os pesquisadores observaram que os distúrbios urinários são frequentemente deixados de lado na EM em comparação com outros sintomas da doença – e que a intervenção terapêutica precoce é necessária para evitar mais problemas e melhorar a qualidade de vida.
Além disso, o estudo descobriu que mulheres e pessoas com o tipo progressivo da doença têm maior probabilidade de apresentar problemas urinários.
“Esses problemas podem afetar gravemente a qualidade de vida e causar complicações futuras. Portanto, é essencial caracterizar precoce e corretamente o tipo de sintomas e delinear uma estratégia terapêutica direcionada”, escreveram os pesquisadores.
O estudo, “Distúrbios do trato urinário inferior em pacientes com esclerose múltipla: prevalência, características clínicas e resposta aos tratamentos”, foi publicado na revista Neurourology and Urodynamics.
Um sintoma não-motor comum da EM são as dificuldades do trato urinário. Os sintomas podem ocorrer em até 96% das pessoas e aparecem, em média, seis anos após os sintomas neurológicos. Em cerca de 10% dos casos, esses sintomas começam no início da EM.
Os sintomas da bexiga hiperativa, caracterizados por micção frequente ou uma vontade repentina de urinar, são os mais frequentemente relatados por quem convive com EM. De acordo com os cientistas, a vontade repentina de urinar deve-se aos músculos detrusores hiperativos, que são músculos lisos encontrados na parede da bexiga.
Outros sintomas, conhecidos como disfunções miccionais, incluem hesitação para urinar, bem como micção interrompida ou incompleta. Além disso, podem ocorrer alterações da coordenação entre a contração da bexiga e o relaxamento dos músculos esfincterianos ao redor da uretra.
Os tratamentos recomendados para distúrbios do trato urinário são geralmente baseados no tipo específico de problemas experimentados. Ainda assim, os dados sobre a frequência de problemas urinários e a eficácia das terapias em pessoas com EM são limitados.
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Para responder a essas perguntas, cientistas da Università Cattolica del Sacro Cuore, na Itália, examinaram os registros médicos de 806 pessoas com esclerose múltipla que visitaram um centro local de EM durante 2018.
Os participantes tinham 45,8 anos, em média, e começaram a apresentar sintomas de EM aos 31,8 anos. A maioria era do sexo feminino (68,1%) e o tempo médio de doença foi de 12,54 anos. A maioria das pessoas apresentou EM recorrente-remitente (76,9%).
Além disso, 13,4% dos participantes tinham EM progressiva secundária e 9,7%, EM progressiva primária.
No geral, as alterações urológicas estiveram presentes em 426 indivíduos, representando uma frequência de 52,9%. Isso significa que mais da metade dos participantes do estudo tinha problemas urinários.
O distúrbio mais frequente foi bexiga hiperativa (54,2%), seguido por uma mistura de sintomas urinários (25,4%) e disfunção miccional (20,4%).
A urgência para urinar foi o sintoma mais comum, com frequência de 59,4%. Em seguida, veio uma vontade repentina de urinar (41,5%) e uma sensação de micção incompleta (28,9%), que geralmente era observada em pessoas com sintomas mistos, e não por si só.
As disfunções miccionais foram significativamente mais comuns em pessoas que tiveram o início da EM quando eram mais jovens, enquanto a bexiga hiperativa foi mais comum em pessoas cuja doença teve início em idades mais avançadas e em mulheres.
A vontade repentina de urinar foi mais frequente em mulheres, em participantes mais velhos, naqueles com maior duração da doença e em pessoas com maior grau de deficiência. Micção incompleta e infecções do trato urinário foram mais frequentes em pessoas mais velhas e com maior deficiência.
Um total de 46 participantes sintomáticos (11%) foram submetidos a um estudo urodinâmico, que avalia a função da bexiga e da uretra no armazenamento e liberação de urina.
As alterações mais frequentes foram a hiperatividade do músculo detrusor, ocorrendo em 60,9% das pessoas testadas, e o aumento da propriocepção – que se refere à micção breve por espirro ou tosse – em 43,5%.
Um estudo de pressão/fluxo mostrou menor atividade dos músculos detrusores em 10 pessoas (21,7%), enquanto em 12 (26,1%) o padrão de micção sugeriu uma falta de coordenação detrusor-esfíncter.
Os participantes com problemas urinários sintomáticos apresentaram graus de deficiência mais elevados, eram mais velhos no início da doença, tinham uma duração mais longa da doença e uma média de idade maior no momento da avaliação do que aqueles que eram assintomáticos.
Além disso, distúrbios urinários foram encontrados com mais frequência em pessoas com formas progressivas de EM e entre mulheres.
“Ao contrário de outros trabalhos, que documentaram a mesma prevalência de distúrbios urinários entre os dois sexos, em nossa série de casos surgiu uma frequência significativamente maior em mulheres”, escreveu o pesquisador. Eles notaram que a diferença poderia estar ligada a um maior grau de deficiência entre os participantes do sexo feminino neste estudo ou a um menor relato de problemas leves por participantes do sexo masculino.
Do total de avaliados, 178 participantes sintomáticos (41,8%) receberam tratamento para algum distúrbio urológico, com alta adesão (91,6%). Destes, 145 (81,5%) relataram melhora dos sintomas.
Os tratamentos mais comumente prescritos foram as terapias antimuscarínicas – usadas por 42,7% das pessoas para tratar a bexiga hiperativa – e os medicamentos bloqueadores alfa, usados para o mau funcionamento da micção em 34,8% das pessoas.
Algumas pessoas também precisaram de um cateter ou de reabilitação do assoalho pélvico, quando um fisioterapeuta manipula os músculos do assoalho pélvico para aumentar sua força e função.
Não houve diferenças estatisticamente significativas nas variáveis clínicas e demográficas entre os participantes que responderam ao tratamento e aqueles que não o fizeram. Da mesma forma, não foram observadas diferenças na resposta ao tratamento com base no tipo de distúrbio urinário, nem no tipo de avaliação.
“Distúrbios urinários em pacientes com esclerose múltipla acontecem com grande frequência”, escreveram os cientistas. “Uma caracterização precoce e correta dos tipos de sintomas e uma estratégia terapêutica direcionada são essenciais para melhorar a qualidade de vida do paciente e evitar complicações futuras.”
“Mais estudos são necessários para definir melhor os aspectos clínicos e terapêuticos dos distúrbios do trato urinário inferior em pacientes com EM, que muitas vezes são esquecidos em comparação com outros aspectos da doença”, acrescentaram.
Fonte: Multiple Sclerosis News Today
Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose