EM e Relacionamento (Parte I) – Uma relação a três

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Qualquer convivência social pode ocasionar atritos, ser uma relação complicada e que se baseie e proporcione fortes laços afetivos, mas o que quero dizer com relacionamento são aqueles vínculos constituídos geralmente entre duas pessoas (nada contra relações amorosas de múltiplas possibilidades). Seja o nome que leve e a forma como é definido (namoro, casamento, amizade colorida, ficante etc.) e independente da composição sexual de seus elementos (homem-mulher; homem-homem; mulher-mulher etc.) a relação a dois tem seus pontos de complexidade indissociáveis, pois envolvem sentimentos e são consequências de uma escolha voluntária.

Nem sempre escolhemos as relações trabalhistas ou de classe, regidas por contratos, afinidades econômicas ou profissionais. Igualmente, nem sempre temos o poder de decidir nossos vínculos que são amparados por critérios biológicos, como gênero, família etc. Todavia, escolhemos nossos laços de amizade e de amor. Somos diretamente responsáveis por nossas escolhas nesses aspectos, por seus fracassos e seus sucessos. No entanto, a EM entra com um elemento a mais nessa relação, mesmo que, às vezes, seja importante ou indiferente para os envolvidos.

Um diagnóstico muda radicalmente as identidades e objetivos pessoais e por isso precisam ser administradas, caso haja interesse, pelo casal. Geralmente, nos relacionamos com pessoas que pensam de forma semelhante, que tiveram vivências parecidas, que admiramos por alguma realização ou que nos atraiam fisicamente. Ou ainda nos apaixonamos por pessoas totalmente o oposto de nós e que podem ser consideradas “pontos fora da curva”. Mas que, no entanto, nos conquistam pelo mundo novo e possibilidades que apresentam. Às vezes, tudo o que precisamos é de alguém que abale nossas certezas.

Assim, um relacionamento estável se constitui nas experiências partilhadas, mas também nas expectativas: o que planejam para o futuro? Quais as etapas que traçam para sua vida? Têm desejos em comum? O outro é presença considerada nessa jornada? De certa forma, é isso que une um casal: a certeza de que compartilham vivências e a jornada para onde se está indo. E às vezes a EM nos força a redefinir tudo, arrastando todos à nossa volta para essa redefinição. Para um casal isso se coloca com força e precisa ser pensado: o que a EM pode atrapalhar na continuidade desses desejos e o quando estamos dispostos a se adaptar?

A partir de então as escolhas passam a contar com as limitações, fadigas, rotinas de tratamento etc. E nem sempre é fácil para nós, esclerosados, e para aqueles que nos acompanham lidar com essa nova situação e com todos os maus humores que ela acarreta.  Esse terceiro elemento mexe com nossas identidades e objetivos, movendo aquela substância que se encontra entre nossas experiências e expectativas.

A partir de então, precisam repensar se a pessoa que lhe acompanha na jornada interessa mais do que o planejamento que traçaram para atingir o destino. O que vale mais o destino ou a jornada? Você está disposto a parar para descansar e apreciar a paisagem em companhia do seu par esclerosado, mesmo tendo que postergar a chegada idealizada? E as novas experiências que viverão (consultas, tratamentos, fadigas), estão preparados ou preparadas? Talvez aquelas situações anteriores sejam impossíveis ter como referências válidas.  Talvez espaços sem lugares para sentar não sejam tão atraentes. Talvez você recuse programas que viram a noite. Talvez você se preocupe mais se os lugares oferecem condições de acessibilidade. O esclerosado talvez precise se ater a todas essas questões. Aos outros podem parecer chatices, mas são coisas que sentimos na pele e ganham ares de necessidade com o tempo. São muito mais que melindres supérfluos.

Quando se começa a se relacionar com uma pessoa já diagnosticada, talvez seja mais fácil. Geralmente, a pessoa com EM já criou as defesas e seguranças necessárias para se posicionar a respeito de suas necessidades e dificuldades. Ou, às vezes, seja mais difícil caso tente esconder, tentando acompanhar o outro e extrapolando os seus limites. Igualmente, talvez o outro não esclerosado, não esteja preparado ou preparada para lidar com os problemas trazidos por uma doença e desista do relacionamento antes desse se tornar mais sério. Enfim, cada caso é um caso e as possibilidades são múltiplas, dependem das pessoas envolvidas e da relação que traçam com a EM e seus ideais.

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Aqui na AME temos vários casais que escrevem em que um tem EM e o outro não: A Paula e o Júlio; a Ana e o Gustavo; a Raquel e o José Isaías... Vale à pena dar uma olhada.

Também gostaria de indicar o post do blog pessoal da Bruna, quando expôs o nosso namoro.

 

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