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Acorde cedo. Se esforce. Trabalhe muito. Não desista. Não pare. Economize. Não desvie do caminho. Não olhe pra trás. Evite distrações. Não reclame. Exercite-se. Emagreça. Não coma carne. Reduza o sal. Controle o açúcar. Não coma glúten. Não beba. Durma bem. Vista-se bem. Não fale palavrão.

Você já viu isso.

Seja qual for a sua meta: dinheiro, sucesso profissional, saúde ou felicidade, provavelmente encontrará pelo caminho quem lhe dê dicas como essas da lista acima.

Certamente entendo a necessidade de planejamento e foco quando se busca um objetivo. Mas não consigo enxergar a vida nessa linha reta, dura, sem desvios. Nem que o caminho traçado possa ser o mesmo para todas as pessoas, até porque as pessoas são diferentes, têm ambições diferentes, sentimentos, reações, histórias diferentes.

Ainda assim, somos bombardeados diariamente por essas “dicas de sucesso”.  Na TV, na internet, nas vitrines, em casa, no trabalho, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha sapêêê…  (desculpa, não resisti).

E pra quem já se sente inadequado, todas essas receitas prontas só servem para nos mostrar o quanto estamos longe do tal sucesso, o quanto somos incapazes, inaptos. É muita regra, muita renúncia, muito esforço. E a gente sabe que apesar de todo o planejamento e de seguir o traçado, nem sempre dá certo. Porque existem outros fatores que independem de nós e do nosso esforço: obstáculos, imprevistos, oportunidades, recursos, acesso, sorte… apenas para citar alguns.

O tal do mérito.

No fim das contas, somos levados a acreditar que somos fracos, ou pior, indignos do merecimento porque não seguimos esta ou aquela regra. E na verdade, nem seguindo todas as regras estaremos livres do julgamento alheio.

Para quem tem uma doença grave como a EM, é comum receber dos amigos e parentes aquela receitinha de como conviver com a doença e de como buscar a cura. Não fazem por mal, ao contrário. Mas esquecem de que cada um sabe o que é melhor para si mesmo e tem o direito de fazer seu tratamento nos seus próprios termos. Toda ajuda é bem vinda, mas apenas quando é bem vinda.

A solução para vivermos sem a pressão desses julgamentos é parar de dar importância a eles. Fazer aquilo que melhor se adapta à realidade de cada um. Não é fazer somente o que se quer porque aí vira bagunça. Seguir regras sim, elas são necessárias para a vida em sociedade, mas dê ouvidos ao bom senso. Siga as regras que fazem sentido, que não tirem a espontaneidade nem a alegria de viver.

Adapte as regras.

Acorde cedo para cumprir seus compromissos, mas durma até tarde quando quiser, quando não tiver nada na agenda.

Se esforce, mas dentro dos seus limites.

Trabalhe muito, se te der prazer e retorno.

Não desista, mas saiba que às vezes é preciso mais coragem pra desistir de algo que tá te consumindo.

Não pare se não quiser parar, mas lembre de que as pausas são necessárias para se apreciar a paisagem. Economize, é bom ter uma reserva, mas não economize a vida, os sorrisos, os abraços, os amores.

Não desvie do caminho por qualquer coisa, mas dê alguns passos para apreciar o perfume das flores no caminho, para cumprimentar o vizinho, afagar um bichinho ou sorrir com uma criança.

Não olhe pra trás, não adianta remoer o que passou, mas lembre-se por onde andou, pois foi esse caminho que te trouxe até aqui.

Evite distrações em momentos críticos, mas se permita “refrescar a mente” quando não puder enxergar as saídas, pois justamente nesses momentos que você precisa da mente fresca e livre para ser criativo.

Não reclame da vida, seja grato por aquilo que tem, mas reclame sim do que te incomoda porque senão nada irá mudar, desabafe, livre-se do peso.

Siga as regras, mas do seu jeito.

Exercite-se prazerosamente, dance, caminhe, passeie com o cachorro.

Emagreça se a sua saúde exigir ou se você quiser, não por obrigação, para agradar os outros, para ser aceito.

Não coma carne se você for vegetariano/vegano, porque do contrário não faz sentido.

Reduza o sal, mas não o sabor.

Controle o açúcar (mas não a doçura) porque demais não faz bem, mas não deixe de comer se não houver restrições.

Não coma glúten se for alérgico ou não quiser comer, mas não seja chato/radical com os outros que não tem a mesma opção.

Não beba muito pra não perder o controle, nada se for dirigir.

Durma bem sempre que puder, mas uma noite em claro de vez em quando não vai te matar, aproveite aquela festa.

Vista-se bem de acordo com seu estilo, suas posses e seu bem estar.

Não fale palavrão se te deixa desconfortável, deixa que eu falo porque puta merda, como é libertador!

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