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Por Larissa Dornelles

Há tempos vejo recomendações sobre o filme “100 Metros”, mas só hoje resolvi deixar o receio de lado e apertar o “play”. O receio é resultado de outras experiências com filmes tematizando a Esclerose Múltipla (EM), pois os casos retratados tendem a ser mais graves do que o meu e, às vezes, acabam me assustando…

Todavia, calma, não estou aqui para fazer resenha do filme, mas para dizer que, enquanto o assistia, revivi vários momentos do passado, as incertezas e os medos a respeito do possível diagnóstico, os primeiros sintomas, as internações e numerosas histórias que gostaria de compartilhar com vocês!

Então vamos começar.

Os primeiros sintomas foram difíceis de perceber. Em 2014, eu estava na metade da graduação. As aulas, manhãs e tardes, eram bem exaustivas.  Só retornava para casa à noite, após enfrentar uma viagem de dois ônibus, sentindo muita dor na cervical, mas achava que era o estresse do dia-a-dia. Minha visão ficava “embaçada”, mas, na época, achei que pudessem ser as lentes de contato, que estavam passando da validade, o que acabou mascarando os sintomas.

Só fui procurar um neurologista após meu rosto ficar paralisado do lado direito. Senti a pálpebra direita perder a força e meu olho fechar até a metade. No momento em que isso ocorreu, estava tomando café com minha mãe e, na hora, olhei-a e percebi que ela estava bem assustada.

Na semana seguinte fui ao neurologista, contei o que andava sentindo, morrendo de medo de ser um acidente vascular encefálico transitório (AVE), pois minha mãe teve AVE em 2012. Ele pediu ressonância magnética e, ao retornar com o exame, relatou que iria ter que me encaminhar a outro neurologista, especialista em Esclerose Múltipla.

Na hora em que ele falou aquilo, eu me senti anestesiada, fora do corpo. A sensação era de que ele falava em câmera lenta. Saí do consultório em choque, assim com minha mãe, mas procurei não lhe demonstrar nada; afinal, não podia deixá-la nervosa, com medo de que ela pudesse ter outro AVE. Fiquei sem ter com quem compartilhar meus medos.

Marquei consulta com o neurologista indicado. Ele olhou meu exame e disse que não poderia afirmar que se tratava de esclerose múltipla, pois eu não havia apresentado surtos. Essa indefinição me deixou ainda mais ansiosa. Pior do que confirmar a doença é não saber o que realmente você tem. Ficar sem tratamento na época me assustava muito; temia ficar com sequelas.

Mas a vida seguiu. Acabei priorizando os estudos e neguei que pudesse estar doente Aquelas milhares de manchas brancas no meu cérebro eram apenas resultado de dores de cabeça, como havia me dito um outro neurologista da cidade.

No final de 2016, meu pai passou mal. Levamo-lo correndo ao hospital e novamente ocorreu um AVE na família. Porém meu pai teve sequelas diferentes da minha mãe. Ele ficou com a memória recente comprometida, ativando a memória retrógrada. Saiu do hospital perguntando pelo seu cigarro, hábito que abandonara há 30 anos, inobstante ter esquecido hábitos mais recentes. Já a minha mãe ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado (Hemiplegia) e, após a reabilitação, acabou recuperando parcialmente alguns movimentos (evoluindo para uma hemiparesia).

Na ocasião, resolvi mostrar a minha última ressonância para o neurologista do meu pai. Ele concordou olhar rapidamente o exame e, ao se deparar com as imagens, falou:

– Mas é um céu estrelado!

Essas estrelas nada mais eram que as lesões em meu cérebro. Ele então me pediu para marcar um horário, ocasião na qual iria solicitar alguns exames.

Foi então que, após uma punção lombar, o neurologista acabou fechando o diagnóstico, em fevereiro de 2017. O Médico, ao ler o resultado do exame, tentou me explicar, mas, ao receber a confirmação da EM, fiquei em choque novamente, anestesiada. Não consegui prestar atenção em nada do que ele dizia. Eu sabia que tudo indicava ser uma doença desmielinizante, mas, no fundo, a gente sempre guarda até o momento derradeiro a esperança de que não seja nada grave, não é mesmo?

E essa ilusão de segurança ou esquecimento temporário também ocorre após a confirmação do diagnóstico. E foi precisamente neste ponto que o filme “100 Metros” mais me tocou, principalmente quando o personagem Mário relata que, às vezes, você esquece que tem a doença e leva sua vida normalmente, até que os sintomas voltam a aparecer. E eles sempre voltam…

Tocou por lembrar-me da EM. O período de gestação e amamentação proporcionou-me ficar sem surtos há tanto tempo que, às vezes, esqueço que tenho EM, mesmo quando aparece uma fadiga mais forte e me derruba na cama por algumas horas. Ou uma fraqueza ao carregar meu filho, e ter que achar outros métodos para poder acalmá-lo ou fazer adaptações, mas isso é assunto para um próximo texto.

 

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