Com o fim de ano, chegam as férias, encontros em série, Natal, Ano Novo, viagens. Os excessos na alimentação e na ingestão de álcool neste período costumam cobrar um preço para todos, especialmente para quem convive com a esclerose múltipla (EM).
A doença não impede ninguém de curtir o fim de ano com festas e viagens, mas é preciso incorporar alguns cuidados sem medo de passar por imprevistos. A neurologista Raquel Vassão, consultora da ONG Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), explica como se preparar para atravessar essa época com alegria – e sem encrencas.
Medicamentos na mala
Viagens nacionais e internacionais requerem atenção ao transporte dos fármacos. A primeira questão envolve o armazenamento. Remédios injetáveis precisam ficar resfriados: não esqueça de colocá-los dentro de uma bolsinha térmica – muitas vezes fornecida pela própria empresa farmacêutica. Para outros medicamentos, vale a recomendação de praxe: não deixar exposto ao sol ou dentro do carro (o calor excessivo pode estragá-lo). Converse com seu médico sobre o assunto.
Mas vai além disso: é comum, em aeroportos e mesmo em outros locais, haver inspeção na bagagem de mão. Levar a receita médica e, se possível, a nota fiscal, evita chateações. “Verdade que é raro dar algum problema, porque normalmente o paciente leva grandes quantidades de medicação”, tranquiliza Vassão. Mas é bom se prevenir.
Na hora de planejar as férias, também calcule se a quantidade de remédio é suficiente para o tempo do passeio. “Se o paciente pega remédios pelo SUS, é improvável que se libere mais do que a quantidade mensal receitada”, alerta Vassão. Vale planejar a duração da viagem frente ao seu estoque.
Outra coisa: a receita médica emitida no Brasil não tem validade para a retirada das drogas no exterior. Em caso de necessidade durante viagens internacionais, é preciso ir até um hospital local para obter a prescrição de remédios controlados. E, como não é emergencial, esse tipo de consulta não é coberto pelos seguros de viagem. Se for o caso, informe-se antecipadamente sobre como garantir atendimento em outro país.
Sem surpresas em caso de crises
Se um surto da EM acontecer durante viagem dentro do Brasil, a orientação é procurar um pronto-atendimento e informar sobre a doença. Já se estiver fora do país, o seguro viagem é especialmente indicado para quem convive com EM. A maior parte dos países não tem um sistema público de saúde e, em alguns casos, o atendimento pode ter custo. Informe-se antes de embarcar.
“Na esclerose múltipla, é raro que um surto seja tão intenso a ponto de incapacitar a pessoa em tratamento”, esclarece a Vassão. No entanto, caso seja necessário procurar um pronto-atendimento, tenha consigo um relatório do seu médico sobre o diagnóstico e o remédio – se possível, traduzido para o idioma do país que for destino de viagem.
De olho nos abusos das festas
Sejamos sinceros: Natal e Réveillon convidam a abusos à mesa. “Mas nenhum exagero é bom”, alerta Vassão. Não existe uma lista de alimentos que pioram os sintomas da EM, porém vale maneirar no consumo de produtos ultraprocessados e nos ricos em sal ou açúcar.
Duas latas de cerveja ou duas doses de destilado para mulheres, e três ou quatro de cada para homens: esse pode ser considerado um limite seguro para a ingestão de álcool. Acima disso, de acordo com a neurologista, a ressaca do dia seguinte pode ser pior para quem tem EM.
A mistura de álcool e medicações contra a EM não representa um risco para o agravamento da doença em si. Mas as bebidas alcoólicas podem, sim, atrasar o processamento do remédio no organismo. “Pode haver uma piora dos sintomas que o paciente já tinha, um mal-estar a mais, fadiga e desidratação”, conclui a neurologista.
Desejamos que você curta as férias com segurança e cuidado.
Escrito por Bettina Gehm, da Redação AME/CDD
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