Nos últimos dois meses os brasileiros e brasileiras conviveram com o esporte diariamente, sendo sede dos maiores eventos esportivos e paradesportivos do mundo. As Olimpíadias e as Paralimpíadas despertaram em muitos de nós a vontade de praticar um esporte. Mas aí vem a pergunta: que esporte eu, que tenho Esclerose Múltipla posso praticar? Eu posso ser um atleta, tendo esclerose múltipla?
Nós aqui da AME te respondemos que sim, quem tem esclerose múltipla pode praticar qualquer esporte e pode sim ser um atleta de alto rendimento e participar dos Jogos Paralímpicos.
Nós já sabemos que fazer exercícios físicos regularmente é importante para quem tem EM, que diminui a fadiga, as dores e melhora as condições gerais do corpo. Mas você pode também fazer do esporte um meio de vida como, os atletas paraolímpicos.
Se você já praticava algum esporte antes do diagnóstico mas percebe que hoje não consegue mais atuar com o mesmo pique ou o mesmo rendimento de antes, a solução pode ser as adaptações no esporte.
No paradesporto, os atletas são divididos em categorias funcionais que objetivam garantir igualdade nas competições e a assegurar que os vencedores cheguem ao pódio graças às suas melhores técnicas, habilidades, forças e treino e não por um suposto favorecimento físico sobre as deficiências de um ou outro rival. A classificação funcional não pretende separar as deficiências, mas nivelar os atletas segundo as suas funcionalidades. Por isso, o Comitê Paradesportivo Brasileiro orienta que antes de iniciar uma prática esportiva competitiva, o atleta com deficiência deve passar por essa avaliação de classificação funcional, que avalia e nivela os atletas de acordo com suas capacidades, colocando os que possuem deficiências semelhantes em um mesmo grupo.
De acordo com o Movimento Paralímpico Internacional, os atletas podem ser classificados em seis grupos:
– amputados
– paralisados cerebrais
– deficientes visuais
– lesionados na medula espinhal
– deficientes mentais
– les autres (“os outros”, inclui todos os atletas com alguma deficiência de mobilidade e que não se enquadram nos demais grupos)
Cada esporte, porém, possui o seu próprio sistema de classificação, baseado nas habilidades funcionais que mais afetam o desempenho do atleta no esporte em questão. Sendo assim, além do grupo já descrito, o atleta ainda recebe um número de acordo com a classe a que pertence dentro do grupo. O mais importante de tudo isso é que esse número não é fixo e muito menos dura para sempre. O atleta deve estar constantemente sendo avaliado pelo comitê de classificação funcional nacional ou internacional, dependendo da competição em questão. Assim, se você tem EM e a doença progrediu de uma competição para outra, sua classificação também será diferente, colocando você em grau de igualdade com seus adversários.
Hoje queremos apresentar pra vocês a história de três atletas que estiveram presente nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro e que tem EM, provando que o diagnóstico não é motivo para desistir do sonho do esporte e que, muitas vezes, o esporte é um meio de enfrentar a doença de cabeça erguida!
Kadeena Cox – Grã-Bretanha – Atletismo e ciclismo
A jovem Kadeena Cox, 25 anos, era corredora e se destacava nessa modalidade, participando de diversos jogos na sua adolescência nessa modalidade. Aos 23 anos Kadeena teve o diagnóstico de esclerose múltipla e chegou nessas últimas Paralimpíadas como um forte nome do seu país para o atletismo e ciclismo. Antes do diagnóstico, a atleta nunca tinha subido em uma bicicleta, mas como com a EM correr estava mais difícil, a atleta decidiu experimentar outras modalidades e com as adaptações no paradesporto, viu que poderia seguir seu sonho de ser uma atleta profissional. No curto período de 18 meses Kadeena aprendeu a andar de bicicleta e se tornou uma atleta de alta performance nessa modalidade, além de ter continuado a treinar a corrida. Ao voltar para as pistas, no ano passado, a britânica levou ouro e bateu recorde no Mundial de Atletismo. Nos Jogos do Rio 2016, Kadeena competiu em 5 modalidades e ganhou 4 medalhas. Dois ouros (ciclismo de pista contrarrelógio categoria C4-5; atletismo 400m rasos, categoria T38), uma prata (atletismo revezamento 4x100m, categoria T35-38) e um bronze (atletismo 100m rasos, categoria T38)
Anita Fatis – França – Natação
Anita Fatis, 53 anos é nadadora da seleção francesa de paradesporto, além de atuar em diversas associações de EM em seu país, participar de ONGs que lutam por maior acessibilidade e lutar pela inclusão de crianças e adultos com deficiência no esporte. A nadadora francesa afirma que seu país ainda tem muito para avançar sobre a Esclerose Múltipla.
Anita diz que a vida de atleta não é muito complexa quando não está em fase de tratamento ou quando há uma piora dos sintomas da doença. Ainda assim, afirma ser importante estabelecer uma rotina de descanso, para repousar da fadiga. Em entrevista ao blog Vencer Limites (Estadão – (Confira a entrevista completa aqui) http://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/aprendi-a-viver-alem-da-esclerose-multipla-diz-nadadora-francesa/), a atleta contou como é sua rotina diária:
“Acordo às 6h30, tomo café e, às 7h30, vou para a piscina. Treino até 11h30, volto para casa, almoço, durmo, acordo, tomo um café, e aí vou trabalhar”, diz. “Eu trabalho com associações diversas, com crianças doentes ou que estão em casas de família por causa de problemas familiares ou judiciais. Também com pessoas doentes, para quem eu dou treinamento físico três vezes por semana. São pessoas que, como eu, têm Esclerose Múltipla, mas também outras doenças, como Sharkour, câncer ou alguma deficiência. Eu dou aulas e treinamentos no centro de natação em Thionville, que é inteiramente acessível: piscina, banheiros, duchas. Tem até um elevador para entrar na piscina”, comenta. Anita afirma que, após a piora da doença, passou por uma fase de depressão e que o esporte e seu marido a salvaram.
A atleta tem 15 títulos nacionais além de ter chegado à final do 200m livre nos Jogos de Londres. Anita compete na categoria S5 de natação feminina e participou dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 em quatro provas (50, 100 e 200 metros livre, e 50 metros costas). Mesmo sem ter conquistado medalhas, Anita avalia sua participação nos jogos como fundamental para ampliar o interesse sobre o esporte paralímpico e também para despertar o seu país para as questões da EM.
Dave Phillips – Grã-Bretanha – Tiro com arco recurvo
O atleta britânico Dave Phillips teve o diagnóstico de EM em 2012, quando teve que se aposentar por conta do diagnóstico e de uma forte depressão que veio junto com as mudanças e adaptações da EM. Sua esposa o incentivou a procurar seu antigo hobby, o tiro com arco, numa tentativa de ajudar no tratamento das doenças e também para que ele tivesse uma vida social. Foi assim que Dave começou a treinar e chegou aos Jogos Rio 2016 como atleta da equipe de Tiro com arco recurvo. O esporte o ajudou a enfrentar a depressão e a EM. Phillips já ganhou um título europeu e, mesmo não tendo conseguido medalhar no Rio nas duas provas que disputou (Tiro com arco recurvo masculino e misto na categoria aberta), ele continuará no esporte pois agora seu passatempo tornou-se sua profissão. Segundo o atleta, “O Paradesporto do País de Gales levou-me sob a sua asa e me deu acesso a uma psicóloga e uma fisioterapeuta, e isso levou a me formar um atleta, e isso funcionou para mim. Agora estou realmente em forma. Perdi peso e estou me sentindo fantástico”.
Quem sabe em 2020 teremos algum ou alguma atleta com esclerose múltipla aqui do Brasil competindo em Tokyo?
Confira também os textos sobre as Paralimpíadas escritos pelas nossas blogueiras Bruna e Tuka, questionando a inclusão e a acessibilidade nos jogos e na divulgação deles.
Referências:
http://www.bbc.com/news/uk-wales-36954877
http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/20
http://esporte.hsw.uol.com.br/jogos-paraolimpicos3.htm
http://www.brasil.gov.br/esporte/2012/04/classificacao-funcional
Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose