Médicos da MS Society do Reino Unido passam orientações sobre a eficácia da vacina contra a covid-19 e alguns tratamentos para a Esclerose Múltipla.
Nota da AME: As terapias modificadoras da doença (DMTs) são um grupo de tratamentos para pessoas com Esclerose Múltipla (EM) e afetam o sistema imunológico. Como as vacinas contra a covid-19 fazem o corpo produzir uma resposta imune, suspeitou-se que algumas DMTs poderiam reduzir a eficácia das vacinas para a Covid-19.
Conheça a declaração consensual destes pesquisadores sobre as vacinas para a covid-19 e sua relação para o tratamento da Esclerose Múltipla:
Riscos gerais
Com base no que esse grupo de médicos conhece sobre a forma como essas vacinas funcionam e evidências de alta qualidade de estudos de outras vacinas e Esclerose Múltipla (EM), eles não acreditam que as vacinas irão exacerbar a EM ou seus sintomas, provocar uma recaída ou impedir que as DMTs sejam eficazes.
“Não temos motivos para acreditar que qualquer vacina para a covid-19 seja perigosa para pessoas com Esclerose Múltipla, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores”.
Além disso, nenhuma das principais vacinas candidatas à covid-19 é “viva” – o que significa que não contém nenhum vírus capaz de causar infecção – portanto, deve ser segura para pessoas em todos os tipos de terapias modificadoras da doença.
As DMTs de EM e eficácia da vacina da covid-19
Algumas DMTs podem reduzir a eficácia de qualquer vacina porque impedem que o sistema imunológico monte uma resposta imune completa à vacina. Portanto, a vacina contra a covid-19 pode ser menos eficaz para pessoas que tomaram recentemente ou estão tomando certas DMTs.
No geral, não é aconselhável que as pessoas alterem substancialmente seu tratamento para a Esclerose Múltipla na esperança de aumentar a eficácia das vacinas, porque o dano potencial superaria o benefício.
Mesmo uma resposta reduzida provavelmente será melhor do que nenhuma. Portanto, as pessoas com EM ainda devem ser vacinadas, mesmo que estejam usando essas terapias. Ninguém deve interromper sua terapia de Esclerose Múltipla, a menos que seja especificamente solicitada por seus médicos.
Abaixo estão considerações detalhadas sobre algumas DMTs e como elas podem afetar a eficácia das vacinas para a covid-19:
Ocrelizumabe (Ocrevus) e Rituximabe
Ocrelizumab (Ocrevus) pode reduzir a resposta a algumas vacinas. Pode ser benéfico adiar seu primeiro ciclo de ocrelizumabe para receber a vacina primeiro. Em geral, haveria um benefício limitado em adiar um segundo ou terceiro ciclo na esperança de aumentar a eficácia da vacina. Teríamos conselhos semelhantes para qualquer pessoa recebendo rituximabe.
- Se ainda não tomou as doses da vacina e está aguardando para iniciar o tratamento com ocrelizumabe: Para manter os atrasos no mínimo, sempre que possível, alguém que esteja aguardando o tratamento com ocrelizumabe deve receber 2 doses da vacina com 3 ou 4 semanas de intervalo, em vez de ter as doses com 12 semanas de intervalo. Isso está de acordo com a orientação oficial do Reino Unido (do “livro verde” da Public Health England, páginas 15 e 16).
- Se já faz uso de ocrelizumabe: Se você fez recentemente uso de ocrelizumabe, o ideal é esperar pelo menos 12 semanas antes de receber a vacinação.
Nota da AME: No Brasil, você deve consultar o seu médico para entender a melhor forma de intercalar o seu tratamento com a vacina.
Fingolimode (Gilenya), ozanimod (Zeposia) e siponimod (Mayzent)
Fingolimode, Siponimod e Ozanimod são todos tratamentos inibidores de esfingosina-1-fosfato (SIP). No geral, é improvável que os tratamentos com inibidores de SIP aumentem o risco de doença grave por infecção por covid-19. Mas algumas pessoas que tomam esses tratamentos tiveram uma resposta mais fraca às vacinas covid-19.
Em geral, não seria aconselhável interromper o tratamento para aumentar a resposta imune à vacina. E você nunca deve interromper abruptamente esses medicamentos sem uma consulta cuidadosa com sua equipe de EM.
Alemtuzumab (Lemtrada) e cladribina (Mavenclad)
Pode haver uma resposta reduzida a uma vacina logo após o tratamento com alentuzumabe (Lemtrada), portanto, é recomendado esperar 3 meses após uma infusão antes de receber uma vacinação. Você e seu neurologista podem considerar adiar o segundo ciclo de alemtuzumabe (geralmente administrado após 12 meses), mas esse atraso arrisca o potencial retorno da atividade da doença.
Pode haver uma resposta reduzida a uma vacina com cladribina (Mavenclad) e pode ser aconselhável esperar 3 meses após um ciclo antes de receber uma vacina. Um segundo ciclo de cladribina é geralmente administrado após 12 meses. Pode ser aconselhável adiar por 4 semanas para permitir alguma flexibilidade, para agendar a vacinação antes do seu segundo ciclo. Um atraso de 4 semanas pode ser feito sem preocupação com o retorno da atividade da doença.
Demora para iniciar o tratamento
Para todos os 6 tratamentos mencionados acima (ocrelizumabe, fingolimode, siponimod, ozanimod, alemtuzumabe e cladribina), se estiver começando pela primeira vez, você deve discutir com seu médico se pode ser preferível esperar até ser vacinado. Os riscos desta estratégia dependerão do seu caso individual e da disponibilidade da vacina.
Se você decidir se vacinar primeiro, geralmente é aconselhável esperar pelo menos 2 a 4 semanas depois de tomar as duas doses de uma vacina covid-19 antes de iniciar qualquer uma dessas DMTs – para que a vacina possa entrar em vigor.
Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH)
O transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) provavelmente reduzirá a resposta à vacina. Você deve esperar pelo menos 6 meses após o tratamento antes de ser vacinado.
Outras DMTs
Os médicos do Reino Unido declaram que não possuem motivos para acreditar que outras DMTs disponíveis por lá reduzirão a eficácia das vacinas. Isso abrange: acetato de glatirâmero (Copaxone e Brabio), teriflunomida (Aubagio), fumarato de dimetila (Tecfidera), interferons beta e natalizumab (Tysabri).
Outros pontos importantes
Todas as vacinas atuais requerem 2 doses e, para alguns tratamentos (por exemplo, ocrelizumabe, cladribina ou alemtuzumabe), seu médico pode aconselhá-lo sobre o momento específico em relação a isso. Por exemplo, você pode ser aconselhado a esperar até depois de sua segunda dose da vacina antes de um novo ciclo da DMT – ou para retomar o tratamento após uma dose única da vacina (atrasando a segunda).
Tal como acontece com todas as vacinas, existe o risco de efeitos colaterais com as vacinas da covid-19 disponíveis em todo o mundo. No Reino Unido, há publicação de atualizações semanais de todos os efeitos colaterais relatados, o que mostra que, em geral, eles “ocorrem logo após a vacinação e não estão associados a doenças mais graves ou duradouras”. Um efeito colateral da vacina pode ser a febre, que pode piorar temporariamente os sintomas da Esclerose Múltipla, mas logo o quadro muda e retorna ao que era antes da febre.
Até sabermos mais sobre a vacina, todas as pessoas com EM devem continuar a seguir as orientações das autoridades para reduzir o risco de pegar e transmitir a covid-19, mesmo que tenham recebido uma vacina. As pessoas que estão na lista de vulnerabilidade devem continuar a tomar precauções extras para se protegerem de pegar o vírus.
Pesquisas iniciais sugerem que o ocrelizumabe e o fingolimode podem reduzir a resposta imune do corpo às vacinas da covid-19. Leia aqui a notícia.
Ressaltamos particularmente que leva algum tempo após a vacinação para atingir a imunidade, por isso é crucial manter as precauções após a vacinação inicial. Leva até 28 dias após a primeira dose da vacina Pfizer-BioNTech e até 22 dias para a vacina Oxford-AstraZeneca obter algum nível de imunidade. Para ambas as vacinas, a melhor resposta é alcançada com duas doses e você deve receber a dose de reforço quando oferecida.
O risco de cada um é diferente e dependerá das circunstâncias individuais. Você deve ter a oportunidade de discutir a escolha certa para você com seu médico.
Ainda não sabemos muito sobre a eficácia dessas vacinas para pessoas com Esclerose Múltipla e para aqueles que tomam DMTs. Entendemos que isso pode dificultar a decisão sobre seus cuidados e tratamento. As informações estão sendo constantemente revisadas e serão atualizadas conforme surgirem novas evidências.
Leia mais sobre a vacina de reforço no Brasil contra a covid-19 para pessoas com Esclerose Múltipla.
Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose
Fonte: MS Society UK, atualizado em 14 de janeiro de 2022