A Agência Nacional de Saúde Suplementar abriu consulta pública para avaliar a incorporação do ofatumumabe para tratamento de adultos com Esclerose Múltipla recorrente, que falharam ou que têm contraindicação ao uso de natalizumabe até o dia 4 de julho; para participar, clique aqui.
A medida atualiza o rol de medicamentos disponíveis para o tratamento da doença nos planos de saúde. A esclerose múltipla é uma doença progressiva do sistema nervoso central e apresenta muitos sintomas diferentes, como perda da visão, dor, fadiga e comprometimento da coordenação motora. Os sintomas, a gravidade e duração variam conforme a pessoa. Algumas podem não apresentar sintomas por quase toda a vida, enquanto outras têm sintomas crônicos graves que nunca desaparecem.
A EM recorrente é caracterizada pela ocorrência de surtos súbitos, que são definidos por manifestações neurológicas típicas da esclerose múltipla, e duram, no mínimo, 24 horas, chegando a dias ou semanas.
Técnicos da ANS conferiram a proposta de atualização do Rol pela NOVARTIS BIOCIENCIAS SA e contrapontos por representantes da FenaSaúde. De acordo com o relatório de análise da empresa, o ofatumumabe apresenta um perfil de segurança favorável em comparação com ocrelizumabe e alentuzumabe.
O ofatumumabe também demonstrou redução de custo em relação a essas medicações e a análise de impacto orçamentário revelou que ele traria uma economia de R$ 17 milhões em cinco anos. A ANS divulgou um parecer preliminar favorável à incorporação.
O que dizem os pacientes
Suzana, que mora na Paraíba, foi diagnosticada com Esclerose Múltipla há 13 anos. Ela utilizou Rebif 44 por quase uma década e apresentou falha terapêutica. Em 2019, após um surto, Suzana teve paralisia facial e passou quase dois anos com o Tecfidera, com linfócitos baixos. A médica decidiu migrar para o ofatumumabe. “Uso desde setembro de 2022, graças à uma ação na Justiça. Fiz as quatro doses de indução e já comecei a tomar as doses mensais a partir de outubro. Estou na oitava e estou bem”, afirma.
A neurologista de Suzana fez um laudo explicando o motivo da indicação do ofatumumabe: “Eu não posso tomar o natalimuzabe, pois tenho JC vírus alto”, ressalta.
O que dizem os especialistas
Na avaliação do médico Denis Bichuetti, neurologista do conselho científico da AME-CDD, todos os remédios precisam estar disponíveis para individualização do tratamento e a decisão médico-paciente. “Eu acho que é muito boa a incorporação do ofatumumabe, porque nós temos alternativas ao uso do natalizumabe para quem é JC positivo ou teve efeito colateral, além do alemtuzumabe, é muito bom. O alemtuzumabe é um remédio muito difícil de usar, tem suas restrições. Ele é bom, mas ter alternativas é importante”, afirma.
Bichuetti também elenca pontos positivos do ofatumumabe: é autoaplicável, ou seja, a pessoa não precisa ir a um centro de infusão tomar o remédio, e é uma aplicação subcutânea que é feita uma vez ao mês. “E, apesar de ser um remédio novo, ele é muito parecido com o ocrelizumabe, então é algo que todos os clínicos já estão acostumados a usar. Ele entra no perfil de auto eficácia também”, acrescenta o neurologista.
“É necessariamente melhor do que outras coisas que a gente tem? Acho que não, mas é um bom remédio que acrescenta mais uma alternativa, o que permite que mais pacientes sejam tratados. Ocasionalmente tem gente que não tolera aplicação intravenosa. Eu gostaria de ter o ofatumumabe como primeira linha de tratamento disponível e certamente prescreveria. Entretanto, ter o natalizumabe para doença altamente ativa, e ocrelizumabe, ofatumumabe e alemtuzumabe como via de saída é excelente”, concluiu.
A neurologista Raquel Vassão, que também é integrante do conselho científico da AME-CDD, comemora a incorporação do ofatumumabe na ANS, contudo, faz ressalvas: “Ele se mostrou eficaz para o tratamento de EM, mas novamente outra medicação é incorporada só após falha com natalizumabe ou a impossibilidade de continuar utilizando por mais de dois anos”.
A médica acrescenta que os planos de saúde têm a liberdade de versar como vão autorizar o uso, mas a maioria acaba seguindo literalmente o que está na indicação. Raquel Vassão ressalta que o ofatumumabe, até agora, não é oferecido no SUS: “A última opção incorporada foi o alentuzumabe, que é uma medicação aprovada desde 2015, mas só foi incorporada em 2021”, lamenta.
Saiba como participar da consulta pública
A consulta pública para incorporação do ofatumumabe para tratamento de adultos com Esclerose Múltipla recorrente, que falharam ou que têm contraindicação ao uso de natalizumabe vai até o dia 4 de julho.
Para dar opinião sobre o assunto e participar da consulta, acesse o portal da ANS.
Posicionamento da AME
A Associação Amigos Múltiplos pela Esclerose, alinhada com o mesmo comprometimento da ANS dos últimos anos em oferecer medicamentos/tecnologias inovadores para o tratamento da esclerose múltipla à população brasileira, apoia a incorporação desta tecnologia no Rol da ANS.