Como a maternidade modifica o cérebro

Compartilhe este post

Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter

Para garantir uma experiência bem sucedida nos cuidados com o bebê, o cérebro das mães passam por modificações que as tornam mais ágeis e empáticas e menos reativas ao stress.

A maternidade é revolucionária. Chega anunciada por pequenas mudanças no corpo, como ondulações atípicas no oceano sinalizam a chegada de um furacão. Logo se impõe de forma que as transformações ficam evidentes e todo o corpo se rende. A gravidez mexe com os sentidos, muda pele, cabelos, respostas imunológicas. Bagunça rotina e planos. E, de uma forma mais profunda, muda quem somos.

Todos aqueles anseios e inseguranças que geralmente acompanham os primeiros passos da maternidade seriam suavizados se lembrássemos de que a natureza, de forma silenciosa, nos prepara para enfrentarmos o desafio com sabedoria. Dentre tantas outras que ela se encarrega de providenciar, as mudanças no cérebro da mãe são mais importantes e também menos esperadas ou compreendidas pelas mulheres.

A principal responsável pelo comportamento que entendemos como instinto materno é a ocitocina, uma molécula considerada por muitos como o hormônio do afeto, da ligação amorosa. Sem a dose extra dessa substância, liberada no parto e durante a amamentação, o stress causado pelas noites sem dormir, choro incessante e visitas que chegam disparando palpites transformaria a maternidade em um verdadeiro tormento. A formação do vínculo com o bebê seria dificultada e menos prazerosa. E o risco de abandono materno se multiplicaria.

Sob o ponto de vista neurocientífico, a maternidade se parece muito com a paixão romântica e com o vício em drogas. Os receptores de ocitocina estão espalhados no cérebro, em regiões também ricas em dopamina – o neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa. Assim, a atividade cerebral de uma mãe quando cuida de seu bebê é semelhante a de alguém em contato com o objeto de seu vício ou de um apaixonando ao ver o rosto de seu companheiro. Para garantir a sobrevivência da espécie, a natureza criou esses circuitos de recompensa que fazem com as exigências vindas com o bebê sejam supridas com prazer.

Para quem não passou por um parto, pode ser difícil compreender o que tantas mulheres querem dizer com "amamentar é muito bom" ou quando afirmam que têm "saudade de amamentar o filho". Pode-se racionalizar e relacionar o ato à certeza de estar nutrindo o filho, por exemplo. Mas seria como justificar uma paixão: pouco a razão tem a contribuir para sua compreensão.

Na verdade, o que acontece é uma mistura de substâncias fundamentais para o sentimento do amor – como ocitocina, dopamina e endorfinas. "Essas substâncias evocam a sensação de afeto e contentamento, a sensação de estarmos no lugar certo. Isso, é óbvio, não compreende todas as nuances do amor, mas é um de seus elementos dominantes", destaca o escritor Steven Johnson no livro De Cabeça Aberta (editora Zahar).

A ocitocina também tem um papel importante no controle da ansiedade e stress. Mulheres em fase de amamentação respondem de forma diferente a estímulos estressantes. Por isso, ao invés de ativar seu circuito de luta ou fuga numa situação de perigo, evolutivamente é mais interessante que lactantes estejam mais focadas na proteção da família e busca de ajuda e formação de vínculos sociais.

As alterações trazidas pela maternidade não estão apenas no aumento do nível de certos neurotransmissores. Com o nascimento do filho, há um aumento na atividade da amígdala, região que processa respostas emocionais, como medo e ansiedade, tornando as mães mais sensíveis às necessidades do bebê. Essa região concentra muitos receptores aos hormônios liberados nessa fase, gerando uma resposta positiva a esses estímulos. Experiências negativas com relação à maternidade podem estar relacionadas a uma disfunção na amígdala.

Há também muitas evidências de que a maternidade melhora a memória (depois do nascimento), a capacidade de focar em várias tarefas ao mesmo tempo e a agilidade mental. Em experiências com ratinhas, em 2013, o biólogo de Longwood University Adam Franssen comprovou que, em comparação com as ratas virgens, as mães aprendiam mais rapidamente a sair de um labirinto. Elas também saíram-se muito melhor nos desafios que envolvem memória, como lembrar onde está a comida.

Outra vantagem das mães é sua baixa reatividade ao stress em desafios e situações novas. Há diversos estudos mostrando que animais lactantes apresentam níveis mais baixos de stress e ansiedade. Frente a sinais de perigo, as ratas protegem seus filhotes reagindo de forma mais eficiente e ágil. Experiências no laboratório do professor Craig Howard Kinsley, um grande pesquisador do comportamento maternal e professor do centro de neurociências da Universidade de Richmond, mostrou que as mães são muito mais rápidas para capturar suas presas. O tempo médio que as ratinhas virgens levaram para encontrar e apreender grilos escondidos era de 270 segundos, contra a média de apenas 50 segundos que as mães precisaram para concluir a tarefa.

Atributo importante no cuidado, proteção e criação dos filhos, a empatia, evidências indicam, ganha poderes com a maternidade. Segundo Franssen, as mães têm maior capacidade de reconhecer as emoções mais sutis nas expressões faciais. As reações emotivas e extremamente sensíveis das mães de recém-nascidos podem derivar de um ganho nas percepções e na sua maior habilidade empática e de afeto. Ainda não se comprovou quais dessas mudanças biológicas seriam permanentes, mas os cientistas que se dedicam a essas investigações acreditam que cérebro de mãe permanece diferente em muitos aspectos.

Portanto, em meio a tantos conselhos e alertas – muitos assustadores -, preparativos e anseios, fica às futuras mamães um consolo valioso, que poucos dão o destaque que merece: a maternidade tira tudo do lugar, mas compensa trazendo calma, paciência, novas habilidades, um prazer imenso e uma ligação mágica com o filho.

BrasilPost – Publicado: 04/05/2015 19:57 – Atualizado: 04/05/2015 19:57

Explore mais