A vitamina D pode influenciar a tolerância do sistema imunológico a certas proteínas, alterando a forma como o DNA é “empacotado” em células imunes específicas chamadas células dendríticas, de acordo com um novo estudo.
Suas descobertas podem ter implicações no tratamento de doenças como a Esclerose Múltipla (EM), caracterizada pelo ataque do sistema imunológico ao tecido saudável.
O estudo, “O mecanismo epigenético pelo qual a vitamina D modula a tolerância do sistema imunológico”, foi publicado no Cell Reports.
Para o sistema imunológico, o mundo é preto e branco: tudo o que faz parte do corpo deve ser deixado em paz, e qualquer coisa que não faça parte do corpo é considerada uma ameaça e será atacada.
A capacidade do sistema imunológico de não atacar – ou seja, de “tolerar” – os próprios tecidos do corpo é chamada de tolerância imunológica. Na Esclerose Múltipla e outras doenças autoimunes, o que acontece é efetivamente uma quebra de tolerância à medida que o sistema imunológico ataca as células saudáveis.
As células dendríticas são uma classe de células imunes que desempenham papéis fundamentais na regulação da tolerância imune. Pesquisas anteriores haviam demonstrado que o tratamento dessas células com vitamina D as levou a assumir características mais tolerogênicas (promotoras de tolerância). No entanto, os mecanismos moleculares subjacentes a essas alterações não eram claros.
Uma equipe de cientistas na Espanha realizou uma série de experimentos usando células humanas para desvendar esses mecanismos.
Os pesquisadores primeiro analisaram como os padrões de metilação foram afetados pelo tratamento com vitamina D. A metilação é um tipo de modificação epigenética – mudanças químicas que podem alterar a forma como o DNA é “empacotado” dentro da célula, o que afeta a forma como vários genes são “lidos”. Em termos gerais, a metilação é uma modificação que “desliga” os genes.
Os resultados sugeriram que, na presença de vitamina D, vários genes importantes para regular a atividade imunológica e promover a tolerância tornam-se não metilados. Em essência, esses genes que foram “desligados” são ativados pela ação da vitamina D.
Outros experimentos confirmaram que esses genes não metilados eram de fato mais ativos.
A vitamina D atua ligando-se a um receptor de proteína nas células, apropriadamente chamado de receptor de vitamina D ou VDR. Em outros experimentos, os pesquisadores mostraram que, na presença de vitamina D, esse receptor entrou no núcleo (onde a maior parte do material genético da célula está armazenada) e se associou fisicamente a genes que se tornaram não metilados.
Eles também mostram que o VDR ativa uma via molecular chamada JAK2-STAT3, e a proteína VDR interage fisicamente com a versão ativada da proteína STAT3. Tanto o VDR quanto o STAT3, por sua vez, interagem com uma proteína chamada TET2 – que é conhecida por ser capaz de remover ativamente a metilação do DNA.
O bloqueio da via JAK2-STAT3 diminuiu os efeitos promotores de tolerância da vitamina D.
“Isso reforça a ideia de que as atividades do VDR e da via JAK2-STAT3 coordenam a aquisição de propriedades tolerogênicas de células dendríticas na presença de vitamina D”, escreveram os cientistas.
“Nossos resultados levantam a possibilidade de que as propriedades tolerogênicas possam ser revertidas, não apenas no contexto da vitamina D, mas também em outros”, concluiu a equipe. “Essas descobertas podem ser clinicamente relevantes… no contexto de situações patológicas em que as propriedades tolerogênicas não são desejadas”, como no tratamento de cânceres que evitam a destruição imunológica.
E essas propriedades promotoras de tolerância podem ser restauradas em situações de doença “onde são intencionalmente perseguidas… incluindo seu uso terapêutico no tratamento de condições inflamatórias, como Artrite Reumatóide e Esclerose Múltipla”, acrescentaram os pesquisadores.
por Marisa Wexler MS, em 26 de janeiro de 2022
Tradução e adaptação: Redação AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose