Cuidar sem infantilizar

Compartilhe este post

Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter

Oi gentes, tudo bem com vocês?

Há alguns dias venho pensando sobre a autoridade que as pessoas têm pra falar/fazer sobre nós. Lá no meu blog escrevi sobre isso num texto chamado Nada sobre nós sem nós e em outro com o título Sobre teimosia e empatia. Isso porque se tem uma coisa que me incomoda, ou me deixa desconfortável é o quanto as pessoas sabem mais sobre nós do que nós mesmos. É engraçado o quanto as pessoas que não tem EM “sabem” sobre o que sentimos e o que precisamos fazer. E é por acharem que sabem muito que nos chamam de teimosos quando não entendem nossa “vontade de normalidade”. É por isso que falam de EM com uma série de certezas que nós, que sentimos ela na pele todos os dias jamais temos.

Hoje quero falar de uma coisa que complementa esses outros dois posts e que também me incomoda: a infantilização de quem tem uma doença. Bom, eu, particularmente, sou da opinião de que nem as crianças merecem ser infantilizadas. Mas esse é assunto pra outro post (que farei assim que um texto meu sobre temas tabus como morte e doença na literatura infantil for publicado – espero que logo). O que quero falar hoje é da infantilização de nós, adultos mesmos. Homens e mulheres formadas e que somos, por umas e outras pessoas, chamados e tratados como crianças pequenas apenas porque precisamos de ajuda para fazer algumas coisas.

Vou dizer um negócio: é bem difícil aceitar ajuda sem se achar menor, humilhado pela vida. É preciso tempo pra gente entender que depender não é feio. Que ninguém é infalível. Que mais dia, menos dia todo mundo precisa de ajuda pra alguma coisa. E que tudo bem!

É verdade que não é fácil, mas a dependência para algumas coisas no dia a dia acaba virando também uma rotina. E, como normalmente são sempre as mesmas pessoas que desempenham essas funções, fica mais fácil. Mas só fica mais fácil se a pessoa também leva numa boa e entende que o outro (no caso o esclerosado) não está fazendo manha, nem é algo pra ser piada, é só uma forma diferente de fazer as coisas. O que eu percebo é que, nessa relação entre cuidador e pessoa com esclerose, o cuidado acaba sendo infantilizado. Só porque precisa de ajuda pra se trocar, pra comer, pra tomar banho, pra trocar de posição no sofá, é tratada como bebê. Precisar do outro pra se virar no sofá pode ser feito como algo natural ou pode ser feito de forma a constranger a pessoa que precisa de ajuda. Quando você compara a pessoa a um bebê, por exemplo, passa a ser um constrangimento e não uma ajuda. Pensa bem, a coisa já é difícil e você ainda vai chamar a pessoa de bebê… é brochante na vida.

Isso é só um exemplo. Existem pessoas que falam com a gente como se tivéssemos cinco anos de idade, como se não tivéssemos condições de saber o que precisamos, queremos etc. E acho que um pouco do fato de nos chamarem de teimosos tem a ver com essa infantilização. Algo do tipo: “você não tem capacidade de saber sobre você, então deixa de ser teimoso que nós sabemos e decidimos…”.

É muito comum pessoas com qualquer diagnóstico serem tratadas como crianças, principalmente por seus cuidadores, pais, mães, avós, tios etc. É muito comum pessoas com doenças e deficiências serem consideradas inaptas a trabalhar, a ter filhos, a namorar, a casar, a estudar, a sairem sozinhos de casa, a viajar, a beber com os amigos, a ter amigos inclusive, enfim, a decidirem sobre suas vidas e seu dia a dia pelo fato de serem tratadas como crianças.

E aí você me pergunta, mas o que a gente faz então? Nada! Trate a pessoa como ela merece ser tratada. Não é porque ela tem uma deficiência que ela deixa de ser uma pessoa adulta. Se ela pedir ajuda, ajude-a. E ainda tenha a decência de perguntar qual a melhor forma de ajudar. Definitivamente não é fazendo piadinha e chamando de bebê. Chamar de bebê só se for namorado/namorada e esse for o apelido que vocês se deram. Senão, é, no mínimo, chato.

E essa coisa de achar que a pessoa não tem condições de escolher o que quer e como quer… nem com criança se deve fazer. Somos todos seres individuais, com gostos e vontades que devem ser respeitadas em qualquer idade e os incomodados que se incomodem.

Até mais

Bjs

Explore mais

blog

Um Natal Peculiar

Um Natal Peculiar Tempo de Natal,  de celebração. Por mais que eu queira fazer “vista grossa” para a realidade da minha condição em ser uma

blog

Sobreviver não é o bastante

Sobreviver Não É o Bastante Dezembro chegou. E com ele, aquela sensação inevitável de balanço, de revisitar os dias que ficaram para trás. Foi um