Chamam de “a mágica”, vermelha, com letras brancas. E foi motivo de uma quase briga entre Ana e Pedro. Mas acabou por ser o clique para uma história de superação inesperada, selada com lágrimas na Maratona do Porto, Portugal.
Pedro Braga, 37 anos, sabe que tem esclerose múltipla desde os 20 e poucos. É Ana Martins, já era então sua companheira fiel. O percurso parece ser o mesmo vivido por quase todos nós: o diagnóstico ouvido como um soco na boca do estômago, a negação inicial, o segredo por muitos anos. Pedro estava acabando o curso de contabilidade empresarial, e sabia que contar ao mundo que era portador de uma doença degenerativa não seria exatamente a garantia de um emprego estável. Conseguiu esconder os surtos que teve nesse meio tempo e, com isso, sofreu mais ainda com a situação vivida no silêncio. Praticava esportes, sempre o fez, basquetebol, mas ali parou. Os sintomas eram desconfortáveis, pés dormentes e outros.
“Teve sorte, pois nunca perdeu a força muscular, nunca foi incapacitante”, agradece Ana, dentro daquilo que é possível agradecer quando se fala em esclerose múltipla. E viver sozinho com a doença por alguns anos, por causa de um emprego longe de casa, o ajudou a aceitá-la e, até mesmo, a derrotar a agressividade. Até que lhe corrigiram o diagnóstico para uma versão “benigna”. Regressou ao esporte – regressaram juntos. E aí a história passa para as mãos de Ana, que foi se informando sempre de tudo o que via sobre a doença, até tropeçar na história de vida de Alexandre Dias. Ele tem esclerose múltipla e decidiu contrariar a doença correndo, correndo, correndo. Até à Maratona do Porto, há um ano.
Foi em janeiro. “Estava na hora de pedir a ‘mágica’…” – que é tão somente a camiseta da EM’força, a equipa de corrida organizada pela Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla. “Eu não corria, tive que começar a treinar. E inscrevi-me na mini maratona de Barcelos”, conta ela. Aí surge a quase briga. Pedro levou Ana para o Mundo das corridas sem falar da “mágica”. Até então não sabia. Mas quando a viu ultrapassar a chegada, de vermelho, em abril, chorou. E calçou os tênis. Dez km em Esposende, 21 em Guimarães (onde Ana não fez o percurso, mas estava na linha de chegada para abraçar Pedro), 21 no Porto e a oferta caída do céu dos 42 km do Porto.
Pedro Aceitou, correr a versão curta, de 15 km. Correu a longa, sem um cinto de suplementos, sem um bidão de isotónico, sem um pequeno-almoço de maratonista. “Chorámos nós, chorou toda a gente. Afinal, ter uma doença não é o fim do mundo”. Uma lição. “Pedro provou que temos capacidade de dar a volta por cima e… e fazer maratonas!”.
Dizem que o que nos define não é aquilo que a vida faz com você. Mas aquilo que você faz com o que foi feito pra você.
E você? O que vai fazer hoje?
http://running.jn.pt – 24/11/2015. Traduzido livremente. Imagem: Creative Commons.