Sexualidade e Esclerose Múltipla: AME participa de mesa redonda com alunos de medicina

Estudantes de medicina do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, se reuniram para conversar sobre sexualidade e EM

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Desenvolver uma escuta mais ativa e se aprofundar em assuntos que, muitas vezes, não são trabalhados em sala de aula. Estes foram os objetivos do evento ‘Sexualidade e Esclerose Múltipla’, realizado no Centro Universitário São Camilo, na capital paulista, com apoio da Associação Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME) nesta segunda-feira, 28.

Estudantes de Medicina das Ligas de Neurologia, Imunologia e Sexualidade organizaram o evento e contaram com a participação dos médicos Rodrigo Thomaz e Mateus Boaventura, neurologistas especialistas em EM, e a vice-presidente da AME, Bruna Rocha. “Só quem pode falar sobre uma doença é aquela pessoa que tem. E isso é uma das grandes coisas que um bom médico, um bom profissional de saúde, pode ter no dia a dia: saber escutar essa pessoa, suas necessidades, seu cotidiano. Isso fará toda a diferença na adesão ao tratamento, na evolução da doença e, enfim, na qualidade de vida dessa pessoa”, afirmou Bruna aos alunos.

Vice-presidente da AME, Bruna Rocha, conversa com estudantes de Medicina do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo

A vice-presidente da AME lembrou que a Esclerose Múltipla é uma doença de adultos jovens, que querem aproveitar a vida, inclusive sexualmente: “Sexualidade não é qualidade de vida? Saúde, para a OMS, não é aquela coisa utópica do bem estar completo, geral, físico, mental, espiritual? A sexualidade faz parte disso”, disse. Bruna Rocha também deixou uma pergunta aos neurologistas convidados: “Quantas mulheres e homens chegam ao consultório e falam da sexualidade como uma questão de qualidade de vida, de suma importância, sabendo que faz parte da nossa vida, da nossa potência e da nossa energia?”.

O neurologista Rodrigo Thomaz respondeu: “Não é todo mundo que traz não. Acho que ainda tem muito tabu, apesar de nós entendermos que é um tema muito mais fluido pra gente conversar. Para as mulheres é mais tabu do que para os homens. Creio que eles se sentem mais à vontade para conversar com o médico e elas com uma médica”.

Ele ressaltou, no entanto, que alguns pacientes com Esclerose Múltipla se abrem e relatam que têm dificuldade com as sensações, a libido, ou um problema físico. “Tem situações, por exemplo, de um surto recente, que a área genital fica bem dolorida, com dificuldade de penetração, sensibilidade da pele, como se estivesse queimando. Então, não é confortável por um período. Fora a questão da notícia do próprio diagnóstico em si, que cai como uma ‘bomba’. E não há sexualidade que se mantenha em pé naquele momento. Então, você tem que ‘juntar’ (emocionalmente) a pessoa”, relatou.

Bruna Rocha e os neurologistas Mateus Boaventura e Rodrigo Thomaz com estudantes de Medicina da Universidade São Camilo

O neurologista Mateus Boaventura explicou, aos alunos da Universidade São Camilo, que algumas questões físicas da própria doença podem afetar a sexualidade dos pacientes: “Pode atrapalhar algumas sensações. Seja a sensibilidade na região perineal, no caso do homem, a sensação de redução de libido. E a gente sabe que esses problemas podem ser pelas lesões neurológicas, mas também existem aqueles que a gente chama de secundários: o paciente pode ter um distúrbio de humor, um quadro de depressão e ansiedade, usar uma medicação que atrapalha a libido, etc”.

O especialista em Esclerose Múltipla também enfatizou outras questões sociais. “Então, a pessoa pensa: ‘já que tenho Esclerose Múltipla, não preciso transar, ter sexo’, por exemplo. Tem um problema mais de ‘amarras sociais’, né? Se, no mundo sem doença, mais formal, heteronormativo, monogâmico, tudo isso já é mais cristalizado, imagine para alguém que tem uma doença? Se cristaliza mais ainda e se torna a minoria da minoria. E isso não é verdade! O paciente tem sensações e desejos”, concluiu.

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