Aquele estresse, a EM e eu?

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Sempre surge o tema do estresse em consulta: eu posso passar por estresse? É prejudicial para mim? Tem real relação com minha doença? Tudo começou depois de um problema pessoal ou uma sobrecarga, foi isso que causou este problema em mim? Algumas destas perguntas tem repostas objetivas, outras não, e muitas vezes a verdade do dia-a-dia fica com um pouco de bom senso no meio do caminho.

É verdade que a intenção de todos os médicos é que seus pacientes tenham uma vida normal, ou que, pelo menos, consigam fazer tudo aquilo que lhes faz feliz, nem que para isso o façam em seu ritmo próprio. Somos e devemos ser otimistas na primeira consulta e na maioria de nossos esclarecimentos para estimular e motivar cada novo paciente. Isso às vezes faz parecer com que as coisas sejam simples, nem sempre, mas assim gostaríamos que fosse.

Sim, existe uma relação entre nossas emoções e sistema imunológico, este mesmo que ataca a mielina ou outros alvos, como no Lúpus, na artrite reumatoide e outras doenças, de uma forma geral conhecido como o eixo neuro-psico-imunológico. A relação não é direta nem tampouco de ação-reação entre cada componente deste sistema, mas, por exemplo, é por causa dele que nossa resistência baixa e ficamos gripados após longos períodos de sobrecarga, ou porque algumas doenças autoimunes afloram ou pioram após um estresse físico e emocional. Isso é bastante evidente na EM, onde alguns estudos já demonstraram que em momentos de grande estresse, como situações de ameaça a vida ou de alguém próximo, existe um aumento da tendência a desenvolver um surto.

Um estudo pequeno, de apenas 6 meses de seguimento, também demonstrou uma leve tendência a uma redução do número de lesões na ressonância de crânio em pacientes submetidos a psicoterapia contra pacientes apenas acompanhados sem terapia. A diferença não foi grande, pode até ser um viés de pouco tempo de acompanhamento, mas ficou sugerida nos resultados.

Bom, isso significa que o estresse é a causa da autoimunidade e que tenho que viver em uma bolha com logotipo de Poliana isolado de todos? Definitivamente, NÃO! O estresse é um componente agravante desta resposta imune, mas não a causa. Pode ser o estopim de algo que estava para acontecer ou, como muitas vezes, um fator agravante. Além disso, um pouco de estresse é importante. Na nossa biologia o estresse ajuda a reconstruir tecidos e um pouco dele é também importante na remielinização, pois um pouco da mesma inflamação que destrói alguns tecidos produz substâncias que estimulam a regeneração.  Ainda mais, um pouco de estresse é o que nos mantém vivo, já imaginou alguém absolutamente sem medo ou receio de nada?

Independente do eixo neuro-psico-imunológico, vale a pena lembrar que o estresse crônico agrava a fadiga, piora espasticidade, pode provocar perda de memória e desatenção e piorar a qualidade de sono. Má qualidade de sono agrava perda de memória e desatenção, piora espasticidade e provoca fadiga. O excesso de fadiga gera estresse, que gera insônia, que gera mais fadiga que te deixa desatento… ufa, estressei e cansei ;o)

Voltando lá para cima, para aquela ideia positiva de levar uma vida normal, ou pelo menos conseguir atingir meus objetivos, sim é importante manter um certo controle dos agentes estressores na nossa vida, mas impossível viver sem alguns deles. Saber reconhecer aquilo que nos faz mal, evitar o que nos angustia e saber lidar com adversidades são pontos importantes. Para alguns isso pode significar um simples ajuste na rotina, para outros a consulta constante a amigos e familiares, e para aqueles que considerarem melhor, ajuda profissional. Não que isto seja o que mais influenciará o rumo de sua EM, mas no mínimo irá prejudicar sua qualidade de vida.

 

Para aqueles interessados, recomendo o livro The balance within que trata de forma bastante acessível este tema. O livro foi transformado em exposição e pode ser visitada no site do NIH (https://www.nlm.nih.gov/exhibition/emotions/about.html).

 

 

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