Eu deveria começar os meus relatos de blogueiragem me apresentando, mas como sagitariana que sou, adoro quebrar protocolos e positivar o que nem sempre é visto de maneira positiva.
Pensando nisso, decidi que esse meu primeiro texto vai ser sobre o que a palavra múltipla significou na minha vida depois do diagnóstico da esclerose.
Imagine você, com seus 14 anos do nada sentir uma indisposição física inexplicável, sentir uns formigamentos bem loucos e do nada perder a visão do olho direito…
Para nós (e para os profissionais da saúde que acompanham quadros de EM) é compreensível e contextualizado, tem explicação, mas quando a gente é adolescente, jovem essas coisas podem parecer simplesmente aleatórias e confusas, os adultes sempre justificam o nosso comportamento com a puberdade, então parece que a gente não tem muita noção do que de fato está acontecendo com nosso corpo, tudo é aleatório… pelo menos comigo foi assim.
O interessante nisso é que eu nunca me entendi como uma pessoa padrão, com áreas da vida bem estruturadas por várias questões – isso é papo pra outra hora – mas talvez por esse mesmo motivo é que a aleatoriedade de certa forma nunca foi uma área de total desconforto pra mim, principalmente na relação com o corpo que nós mulheres negras que aprendemos a não amar e muito menos explorar ou investigar desde muito cedo. Tudo bem até aqui, né?
Pois bem, é aí que a multiplicidade entra: receber o diagnóstico da esclerose múltipla com 15 anos me proporcionou vivenciar muitas experiências de maneira diversa e diferenciada para o meu contexto geracional, social, racial, político e afetivo.
Eu sou muito feita disso, hoje com 26 anos a frase que costumava dizer “eu tenho a esclerose, mas ela não me tem” mudou para “a gente convive junta e na medida do possível, bem.”
Foi na multiplicidade dos sinais, da forma de observar, de buscar qualidade de vida, mesmo nas provações, perrengues e dificuldades que eu aprendi a lidar e não me limitar à esclerose. Um dos mantras é: foca no múltipla e vai!!!
Então, é assim que me apresento: meu nome é Jéssica Teixeira Eugenio, mas pode me chamar de Jazz. Embora não pareça, tenho 26 anos e sou esclerosada. Atualmente moro em Salvador – BA, mas sou nascida em São Paulo e criada em Osasco – SP. Já morei em Chapecó – SC, no sul do Brasil, cursei letras até o 6º semestre, sou apaixonada por literatura marginal e periférica, e artes no geral, principalmente das expressões da cultura hip-hop. Sou metida a poeta, ativista, rapper e arte educadora, intelectual… das tantas coisas que sou, o que posso dizer é que mesmo pesando um bocado saber que a aleatoriedade tinha seu sentido através do diagnostico, isso me libertou é muito para que eu pudesse descobrir a multiplicidade, com responsabilidade e cuidado para ter qualidade de vida e vivida, pra ser quem eu quisesse ser.
Então, saudando e agradecendo meus mais velhos e mais velhas, meus mais novos e mais novas, e meus e minhas iguais da AME, começo por aqui: a multiplicidade que habita em mim, saúda a multiplicidade que habita em você!!!