Temos direito ao choro

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Eis que um dia acordamos e descobrimos que, sem ao menos sermos consultados, a vida resolveu nos dar de "presente" uma companhia nada agradável. Então, neste dia, percebemos que não adianta espernear, não adianta fingir que não vimos, não adianta tentar ignorar, porque vamos ter mesmo de viver, dali em diante, acompanhados pela doença crônica que se apegou a nós, de tal forma, que por mais que queiramos não vamos nos desvencilhar dela.

Assim, seja qual for a companhia indigesta que a vida tenha nos reservado (no meu caso a Esclerose Múltipla) o certo é que nossa trajetória, a partir deste dia, nunca mais será a mesma. Por mais que ouçamos dizer que  dá para se ter uma vida normal, a verdade é que não dá para ser normal tendo um verdadeiro parasita aderido a nós. Então, nossa normalidade, a partir do momento em que a enfermidade se apossa de nós, é relativa, é uma normalidade dentro do possível para a nossa nova condição de vida.

É certo que cada um reage de uma forma. Em cada um a doença se manifesta de uma maneira, notadamente uma tão geniosa e inconstante quanto a Esclerose Múltipla. Porém, em comum, existe o fato de que ela modifica nossas vidas em alguns pontos, por mais que exitemos em reconhecer, para melhor e, em outros, para pior. 

Nossa qualidade de vida fica prejudicada em vários esferas, notadamente, pela incerteza do amanhã (dai vão me dizer que o amanhã é incerto para todos, saudáveis ou não, no que eu concordo plenamente, mas para alguém acometido por uma doença degenerativa, incurável e imprevisível, essa incerteza se torna muito mais latente e aterrorizante), pelas dores constantes, pelas fraquezas musculares, pela fadiga debilitante e por toda a gama de sintomas que ela provoca em nosso corpo e em nossa mente.

Desse modo, por mais que tenhamos grande poder de enfrentamento e aceitação, não tem como não termos momentos de angústia, medo, revolta, vontade de mandar tudo para um lugar nada agradável. Dá vontade de chutar o balde e nos rebelar contra tudo e todos. Essa é a mais pura realidade de quem convive com uma enfermidade deste porte.

Fechar os olhos e fingir que somos fortes o tempo inteiro não é a melhor solução, porque sempre haverão aqueles momentos em que vamos desabar e colocar toda nossa dor e desencanto para fora. Sempre existirão os instantes em que vamos nos revoltar e nos rebelar com a nossa realidade de pessoas acometidas por uma anomalia debilitante. Não dá para ficar negando isso o tempo inteiro. Não tem como encobrirmos que somos humanos (e como tais sujeitos a altos e baixos emocionais), disfarçando sentimentos e vestindo uma máscara de constante contentamento, porque, de verdade, ninguém é assim, nem os ditos "normais", muito menos os considerados "diferentes" pela companhia que trazem consigo.

Sendo assim, ninguém tem de ser forte o tempo inteiro, uma vez que é necessário, sim, que enfrentemos as batalhas diárias com determinação e da melhor forma que nossas condições permitam, mas, de vez em quando, perdermos as forças e nos deixarmos ficar  por um dia ou dois mergulhados em nosso descontentamento e na falta de vontade de prosseguirmos lutando, não significa fraqueza, não significa entregarmos os pontos para a nossa doença, muito pelo contrário, porque são nesses momentos em que lavamos a alma e recobramos as forças para voltarmos ao ringue e nocautear nossa oponente com todas as armas que temos guardadas dentro de nós.

Todos nós temos direito ao choro. Pensem nisso…

Um beijo no coração!

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