No final do ano passado, numa das minhas idas à Porto Alegre, aproveitei o tempo de espera entre uma coisa e outra para dar uma caminhada e comprar minha bengala (relembre lendo aqui). Embora o local em questão fosse perto, rendeu-me uma boa caminhada. O cansaço já acumulado da noite não dormida e da viagem, acrescido do calor me sacrificou bastante, mesmo naquele pequeno trecho. Desejei muito um banco qualquer pelo trajeto, ou mesmo em frente à loja onde tive que esperar ainda por alguns minutos antes que abrisse, para sentar por alguns instantes e descansar.
Acabei escorando “meio popô” na caixa de registro de água do edifício em frente, exposta a olhares curiosos, assustados ou raivosos de quem passava pelo local.
O curioso dessa história é que por todo o trajeto, em praticamente todos os prédios havia um banco. Ou no jardim, ou no pátio, ou ao lado ou no hall de entrada, muitos bancos no meu caminho. TODOS trancados atrás de grades. Inacessíveis. Inúteis.
Pausa para memórias.
No bairro em que vivi minha infância e adolescência, somente no meu quarteirão havia três bancos na rua. Um de pedra, do outro lado da rua logo em frente à entrada do eu edifício, dois de madeira nos canteiros centrais da rua de trás e da lateral. Todos estrategicamente colocados embaixo da sombra de alguma árvore serviam de descanso pra quem andasse na rua ou pra junção da gurizada na hora da brincadeira. Um deles, em frente à parada de ônibus, era muito frequentado. Ainda lembro a indignação coletiva quando começaram a retirá-los aos poucos, um após o outro, porque os moradores mais próximos se incomodavam com o barulho das crianças ou das aglomerações noturnas, menos inocentes.
Voltando.
Não é incomum ver bancos em frente às casas ou prédios de apartamentos, geralmente em jardins enfeitados ou pátios bem cuidados. Mas todos são cercados, gradeados. Se ao menos servissem aos moradores locais, como ponto de encontro para aquele chimarrão de fim de tarde, ou pra prosa do final de semana, ou de descanso para os pais e mães que cuidam seus filhos brincando ao redor. Mas não. São só enfeites. Ou objeto de tortura para pessoas como eu, que necessitam tanto de um banco no caminho para um breve descanso antes de seguir.
São sinais dos tempos. Tempos onde a violência e a insegurança nos aprisionam cada dia mais. Tempos onde ninguém mais tem tempo para uma paradinha para a prosa com seu vizinho.