Esperamos que cada um que se revoltou, na internet, seja uma VOZ REAL na luta pelos nossos direitos.
(Mirella Prosdócimo)
Hoje, no mundo inteiro, acontecem ações para estimularem as reflexões sobre os direitos da pessoa com deficiência, em comemoração ao Dia internacional da pessoa com deficiência, instituído pela ONU, em 1992.
No Brasil, um fato que tem despertado muitos debates aconteceu na cidade de Curitiba que amanheceu, na segunda-feira, dia 30/11/2015, com outdoor que trazia os seguintes dizeres: PELO FIM DOS PRIVILÉGIOS PARA DEFICIENTES.
Em um primeiro momento, mesmo sabendo de tantos preconceitos e, até mesmo, sentindo alguns na própria pele por possuir uma deficiência invisível , pois não tenho sequelas aparentes por conta da Esclerose Múltipla, eu fiquei chocada, pois me pus a pensar até onde foi capaz de chegar as ações discriminatórias do ser humano. Veio incredulidade, revolta, repulsa, tristeza e uma vontade enorme de dar voz aos que acabam se calando diante de situações, na maioria das vezes veladas, mas que fazem tanto mal quanto um outdoor assumindo, descaradamente, o preconceito.
No entanto, a placa era uma ação de marketing de iniciativa do Conselho municipal dos direitos da pessoa com deficiência que é vinculado à Secretaria especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, órgão da Prefeitura de Curitiba, que foi revelada na tarde da terça feira, dia 01/12/2015.
A presidente do conselho, Mirella Prosdócimo, fez uma postagem e publicou um vídeo na fanpage Movimento pela reforma de direitos, criada no mesmo dia em que o outdoor foi colocado, explicando o intuito da ação. No post ela diz que o choque provocado foi um alívio e que todos que se revoltaram não devem se calar diante do desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência.
Muito polêmica foi gerada. Discursos contra e a favor. Mas, meu objetivo aqui não é discutir se foi certa ou errada a campanha, mas falar sobre uma frase dita por Mirella que me fez refletir muito sobre o que vivienciamos todos os dias, sobremaneira quando nossas deficiências não são visíveis. Ela escreveu que "o desrespeito que aconteceu na internet durou só um dia, mas as pessoas com deficiência enfrentam essa afronta todos os dias."
Se a estratégia de marketing foi feliz ou não, esta é uma outra discussão, porém, essa frase da presidente da comissão precisa provocar uma reflexão profunda dentro de cada um de nós, tenhamos deficiências ou não, pois o que encontramos diariamente, principalmente quando temos nossa eficiência diminuída por limitações invisíveis, uma vez que a maioria das pessoas ainda tem a visão de que só possuem deficiências físicas quem necessita de apoio para se locomover, são olhares de reprovações, isso quando não somos afrontados verbalmente ao lançarmos mão dos direitos que nos são assegurados por lei, como filas e vagas preferenciais.
O desrespeito é imenso, chegando ao ponto de vagas preferenciais em frente a agências bancárias estarem sendo usadas diariamente, durante todo o expediente, por funcionários do próprio banco e, outras vagas, estarem fechadas com corrente e cadeado em uma avenida que possui corredor de ônibus e um tráfego intenso, isso só exemplificando o que acontece aqui perto de mim. Ou melhor, acontecia até segunda feira, quando eu reclamei com os gerentes das duas agências sobre o ocorrido. Eu fiscalizarei sempre que possível como está sendo a disponibilização das vagas porque, a mim, como usuária desse direito, cabe a responsabilidade de "gritar" toda vez que me sentir desrespeitada no meu direito de ir e vir assegurado pela Constituição Federal, pois, quando as vagas estão indisponíveis pela ocupação por quem não é de direito ou por outros motivos que limite a sua utilização, estou sendo tolhida na minha liberdade de locomoção até onde preciso ir.
Por isso, não se calem! Cobrem, exijam. "gritem" toda vez que se sentirem ultrajados! E você, que não possui limitação alguma, não feche os olhos aos flagrantes desrespeitos pelos quais as pessoas com deficiências passam diariamente. Vocês se chocaram com o teor do outdoor? Então, usando as palavras de Mirella Peregrino, "não se calem ao ver uma pessoa com deficiência sendo desrespeitada ou discriminada. Denunciem! Não se revoltem somente nas redes sociais".
Um beijo no coração!