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Oi queridos, tudo bem com vocês?

Meu último post me fez pensar mais ainda sobre essa relação de cuidado e ajuda que se cria em torno de nós esclerosados. 

Há algum tempo, numa palestra sobre viver com esclerose múltipla no ambiente escolar, uma aluna, que virá a ser professora, me disse o seguinte:

– Bruna, eu sofro de síndrome de ajudolina… vejo alguém que precisa de ajuda e tô lá me oferecendo pra carregar no colo. Como eu posso ajudar alguém com EM?

A minha resposta foi: pergunte pra ela no que ela precisa de ajuda e como ela prefere ser ajudada. 

A verdade é que existem vários tipos de pessoas que nos ajudam. E muitas, na ansiedade por ser útil ou pra diminuir nosso trabalho, acabam atrapalhando. Resolvi listar os três que mais aparecem nas nossas vidas.

Tem o ajudante tirano, aquela pessoa que quer ajudar, se dispõe a ajudar mas tem que ser do jeito dela. Tipo: você precisa de ajuda, eu vou ajudar, mas deixa eu fazer do meu jeito senão não te ajudo. Esse tipo de ajudante é um mala. A gente acaba se sentindo um estorvo, meio humilhado. 

Depois tem o ajudante apressado, aquele que vê a gente fazendo as coisas devagar, com alguma dificuldade e, na ansiedade por ajudar, faz as coisas pela gente. Isso também não ajuda. Quando uma criança está começando a caminhar a gente não pega ela no colo pra ela não cair, a gente deixa ela ir experimentando e, mesmo caminhando daquele jeito que parece que vai cair a qualquer momento, temos que deixar. É o único jeito dela aprender. O mesmo acontece com a gente. Quando perdemos movimentos de mão, precisamos reaprender a servir a comida no prato, por exemplo. E isso só vai acontecer depois de derrubarmos muita massa com molho na toalha. Vamos demorar pra comer, pra tomar banho, pra fazer as atividades, mas vamos fazer no nosso tempo. Isso não quer dizer que dispensamos a ajuda. Mas ajudar, nesses casos, é acompanhar. Se a gente precisar, a gente pede. Se for cair, aí você segura. Fazer as coisas pelo outro não confere independência. Como na bicicleta, chega a hora de tirar a rodinha. 

Tem também o ajudante nervoso, aquele que quer ajudar mas entra em desespero com qualquer coisa. Quer ajudar a cuidar de quem não caminha, mas fica nervoso quando vê alguém no chão. Quer ajudar quando alguém desmaia, mas deixa a pessoa mais nervosa ainda porque não sabe o que fazer. Ou sabe, mas esquece na hora que acontece. Esse tipo é difícil porque, além de não ajudar, você precisa acalmá-la na hora. Como aqueles pais que desmaiam na hora do parto dos filhos, sabe? Esse tipo me irrita. 

Quando você quiser ajudar alguém, faz de conta que você está na casa de um amigo que te convidou pra jantar. Quando você vai num jantar na casa de alguém, você chega e se oferece pra ajudar. Se a pessoa precisar que você pegue alguma coisa, ela vai dizer: pega um pano de prato pra mim aqui nessa gaveta? E você vai lá e pega. Você não chega lá e diz: olha eu vim aqui te ajudar, mas eu não pico a cebola desse jeito… nossa, mas tu vai deixar a louça na pia… eu não deixo… fazer assim é ruim, fazer assado é errado e etc etc etc… Se você faz isso, você é um chato de galochas!

Eu gosto muito de cozinhar, por isso faço essa analogia. É difícil ter pessoas que te ajudem realmente numa cozinha, sem se meter no teu jeito ou sem ficar ali olhando que nem uma coruja pra tudo que você faz. Da mesma forma é difícil ter pessoas que ajudem nas tarefas do dia a dia, desde levantar da cama, escovar os dentes, tomar banho, se alimentar etc. sem que imponham seu jeito ou vontade ou sem que se desesperem.

Sou muito grata às pessoas que nos ajudam. E me emociona sempre que alguém se oferece pra ajudar de verdade. Mas há jeitos e jeitos de ajudar. Tratar as dificuldades do dia a dia com naturalidade é ajudar. Não fazer de cada dificuldade um espetáculo. Perguntar como a gente prefere. Conversar sobre, isso ajuda. Não fazer o que não sabe, também ajuda. 

Às vezes acho que a gente tinha que andar com o bottom dizendo "Quer ajudar? Pergunte-me como!"… hehehehe.

Não quero que as pessoas entendam esse post como um "ah, que chata, ela não quer ajuda de ninguém". É mais um tutorial para ajudar quem quer ajudar. Quem mais me ajuda nesse mundo, sem dúvida, é a minha mãe. Mas essa ajuda só funciona porque ouvimos uma a outra. E porque eu tenho a liberdade de dizer que não quero assim ou assado quando acho que tá ruim. E ela também. 

Carinho e boa vontade é importante. Mas respeito ao espaço e corpo do outro é essencial.

Até mais!

Bjs

 

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