Entre 11 e 13 de outubro, Milão sediou o 9º Encontro ECTRIMS-ACTRIMS, o maior evento de pesquisa sobre Esclerose Múltipla do mundo. O evento é promovido pelo Comitê Europeu de Pesquisa e Tratamento de Esclerose Múltipla (ECTRIMS), e reúne também o Comitê Norte Americano de Pesquisa e Tratamento de Esclerose Múltipla (ACTRIMS). O Congresso MSMilan2023 reuniu mais de 8500 participantes de 110 países discutindo sobre inovações de pesquisa e trocando experiências no tratamento de EM. A neurologista Raquel Vassão, do comitê científico AME, participou do evento e fez um relato dos principais destaques da programação.
Na primeira palestra, foi passada uma perspectiva histórica na compreensão da EM nas últimas décadas. Os protocolos para diagnóstico de EM tem evoluído muito, de forma a acelerar o início do tratamento. No entanto, mesmo sem nenhum surto, se as lesões podem ser vistas por imagem, significa que já existe uma perda neurológica. Hoje se começa a discutir uma “fase premonitória” da EM, em que a pessoa apresenta alguns sintomas não específicos, mas que já prenunciam a chegada da EM. A partir disso, se pode depreender que em algum momento será possível tratar a EM, antes mesmo dela se transformar, de fato, em Esclerose Múltipla. Raquel alerta que isto é algo ainda distante, porém quando se fala em tratar a EM de forma precoce, o pós-diagnóstico pode ser tarde, devido a quantidade de processos inflamatórios que já foram desencadeados.
Um tema muito abordado no evento foram os inibidores de TPK, a próxima geração de medicamentos para EM. TPK é uma sinalização celular que faz com que as células do sistema imune e do cérebro se tornem inflamatórias. Este tipo de tratamento teria como objetivo promover mudanças de comportamento destas células. Os inibidores de TPK ainda estão em estágio experimental, e não passaram por publicação.
Outro conceito muito discutido no congresso é o que tem sido chamado de PIRA (acrônimo que pode ser traduzido como “Atividade progressiva independente de surtos”), que traz a perspectiva de que a EM vai muito além de surtos e novas lesões, considerando que existe atividades inflamatória da doença em sintomas que frequentemente são pormenorizados. No entanto, Raquel alerta que esta discussão ainda é incipiente, e não foi protocolada uma forma de abordagem sistematizada.
A necessidade de estimular entre as pessoas com EM, a atividade física, alimentação saudável e combate à obesidade foram questões que receberam atenção especial entre as discussões do evento. Estudos mostram que o impacto, não é somente na saúde geral da pessoa com EM, mas também em impedir maior progressão da doença, e na recuperação de surtos ou fisioterapêuticas.
Outra discussão que permeou o evento foram os biomarcadores na EM, hoje existem exames que podem apontar através destes marcadores progressão da doença, piora progressiva ou futura. Eventualmente a expectativa é que eles venham a fazer parte de uma avaliação regular para as pessoas que vivem com EM.
Raquel Vassão também fala de discussões específicas às mulheres com EM. Ao contrário do que se pensava anteriormente, dados mais recentes mostram que tratamentos de indução de fertilidade podem não apresentar risco aumentado de progressão da doença para mulheres com EM em terapias de alta eficácia. Ainda no mesmo tema, o risco de surto pós-parto caiu de 30% para 11% em estudos mais recentes. Novos estudos também mostram que mulheres com Esclerose Múltipla em menopausa podem se beneficiar da mudança hormonal.
Por último, foram apresentados no congresso os resultados dos primeiros testes clínicos com o medicamento frexalimabe, que tem o potencial de tratamento de alta eficácia, mas sem causar imunossupressão nos usuários. Os resultados foram positivos tanto em exames de imagens quanto relativos à segurança da medicação e mostram potencial promissor, mas ainda são necessários mais resultados. Raquel prevê que nas próximas edições do evento devemos ouvir falar cada vez mais desta terapia, que pode vir a ser um divisor de águas no tratamento de EM.
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