Incluir é pra quem?

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Olá queridos, tudo bem?

Como já deve ser de conhecimento de todos (ou quase todos), nesse ano, o tema do Dia Mundial da EM é ACESSIBILIDADE.

Eu me vejo envolvida com essa palavra há muitos anos. Muito antes de ter EM, já que cresci com uma irmã que tem deficiência intelectual numa sociedade em que a maioria ainda acredita que pessoas como ela devem ser marginalizadas.

Quando tive o diagnóstico de EM, passei a militar pela Inclusão e Acessibilidade. Por mim e pelos outros. Por mim e por todos que convivemos nesse planeta. 

A Inclusão, ou seja, a possibilidade de todos se desenvolverem de forma plena no ambiente familiar, social, escolar ou de trabalho, só é possível a partir da acessibilidade. E quando eu falo em Acessibilidade, não é só aquela coisa de colocar rampa em calçada e elevador em prédio. É ter uma comunicação acessível a todos, sejam eles ouvintes ou surdos, cegos ou videntes, com capacidade cognitiva "normal" ou não. É ter uma educação acessível a todos, com formas de ensino, aprendizagem e avaliação coerentes com cada indivíduo. É ter arquitetura acessível a todos, para que todos possam circular por onde quiserem. É ter um mercado de trabalho que permita que todos possam exercer as profissões que escolheram, adaptando e adequando espaços, horários e prazos à necessidade de cada um. É ter acessibilidade atitudinal, porque não adianta só colocar rampa nos prédios, como diz uma amiga minha, é preciso colocar rampa na cabeça das pessoas. Enquanto a sociedade como um todo não entender que acessibilidade e inclusão não é só para quem tem deficiência, mobilidade reduzida ou doença crônica mas é algo bom pra todo mundo, as coisas não vão ser diferentes. É necessário uma mudança de atitude.

Mas como mudar? Não há uma fórmula mágica, é verdade. Eu acredito muito em educação, em informação de qualidade, em debates. E é por isso que sim, eu me exponho e digo as minhas dificuldades.

Nas últimas semanas, o tema da acessibilidade se tornou mais presente em meu lar, não só pelo Dia Mundial da EM, mas por questões pessoais e de trabalho. Na mesma semana em que eu e o Jota escrevemos uma carta aberta à universidade denunciando a precariedade da UFRGS para receber alunos com deficiência motora, fizemos um curso sobre Acessibilidade e Inclusão no Ensino Superior. Passei o curso inteiro vendo um mundo maravilhoso de possibilidades e lamentando que meus professores não tiveram acesso a esse tipo de curso para me ajudarem quando eu precisei. Como minha vida teria sido mais fácil. Como a vida de todos será mais fácil quando as pessoas entenderem que o que nós pedimos não é nenhum favor, é direito.

O fato é que há sim esperança de que melhore. Aliás, já melhorou muito. As coisas vem mudando e, com as novas tecnologias, têm mudado numa velocidade fenomenal. O problema maior é que, as tecnologias evoluem, as soluções passam a ser mais simples, mas a cabeça das pessoas demora mais a mudar. A sociedade ainda vive o momento de integração, ou seja: a gente aceita vocês que são diferentes, desde que vocês se adaptem às nossas regras. Demora pras pessoas quererem sair da sua zona de conforto e pensarem de forma inclusiva: nós incluímos vocês adaptando os processoas às suas necessidades. Demora pra saírem do discurso do "mas sempre foi assim, você que se adapte". Demora, mas muda!

A Universidade não nos respondeu. Só respondeu uma nota aos jornais. Mas muitos alunos da UFRGS nos procuraram porque têm os mesmos problemas que nós. Alguns com EM, como nós, que são desacreditados porque a fadiga crônica e a mobilidade reduzida não são aparentes. Pelo menos agora não nos sentimos sozinhos.

Se quiserem nos chamar de fiasquentos, podem chamar. Porque foi "fazendo fiasco" que muita coisa mudou. 

Deixo aqui a sugestão de um documentário/livro sobre a História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil.

Essas pessoas me inspiram, me impulsionam a continuar abrindo a boca e reclamar meus direitos. Porque se não mudar pra mim, vai mudar pros meus filhos, netos… quem sabe?!

Tem uma frase que usamos muito dentro dos estudos feministas que diz: o pessoal é político. Querer acessibilidade para mim, é querer para todos. O meu problema individual é o problema de muitos outros indivíduos. Sinto que não posso ficar de braços cruzados diante disso. E fico feliz por ter amigos que compartilham desse mesmo desejo de mudança. A AME é um espaço para discutirmos como melhorar nossas vidas com a EM, e correr (metaforicamente) atrás de soluções de acessibilidade juntos, é uma forma de conseguirmos isso.

E se você, que tem EM mas não tem nenhum sintoma incapacitante ou sequela aparente e acha que essa conversa não é com você, está na hora de você rever os seus conceitos sobre humanidade. Porque cuidar do outro é cuidar de si. A inclusão é para todos!

Até a próxima!

Bjs

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