A insustentável leveza do ser

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No século VI antes de Cristo, o filósofo grego, Parmênides, levantou um problema que, a mim, retorna toda vez que faço pulso: o que poderia ser considerado o polo positivo dos opostos leveza-peso? Seria óbvio indicar o claro positivamente, em oposição ao escuro, o primeiro como a ausência de luz no segundo. O quente seria a não existência do calor no frio. Mas e na oposição peso e leveza?

Embora o que sinto no pós-pulso não tenha nada a ver com a obra do tcheco Milan Kundera, “A Insustentável Leveza do Ser”, acho que seu título descreve com perfeição algo que sinto. A leveza pode ser insustentável. Em nosso dia a dia podemos nos questionar o que seria melhor: um peso que é a ausência de leveza ou uma leveza como falta de peso?

Quem me vê caminhando sabe que às vezes minhas pernas parecem ter 300 Kg cada uma. Sob esse ponto de vista, deveria sem demora me agarrar ao primeiro termo do problema. Uma leveza sem peso seria melhor. Pelo menos, andaria mais facilmente. No entanto, é o contrário que me atrapalha e me faz pensar no título do livro do Kundera sempre que faço pulso ou estou num mal dia.

Falando de EM, prefiro o peso à leveza insustentável. É por causa dessa fraqueza que não firmo as pernas, não tenho força no abdômen para me levantar sozinho da cama, que sinto que vou cair ao caminhar, que balanço ao me sentar no vaso sanitário etc. A falta de peso não me prende ao chão e isso se revela como uma leveza insuportável.

Essa dor, que tem a característica de uma leveza insuportável, parece a ausência de uma parte, como se aquilo que deveria fazer o peso necessário para a realização de uma ação, não estivesse ali. É um peso que só pode ser experimentado como uma falta, uma ausência. Percebe-se sua importância justamente por ela não estar ali.

A oposição peso-leveza não é uma oposição simples, nem inquestionável. Prefiro a leveza das contas pagas e de um amor companheiro ao peso opressor das dívidas e de um relacionamento ciumento. No entanto, nesse caso, a leveza da sensação de voar pode ser o primeiro momento em direção à queda.

 

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