Possibilidades de medir a progressão cognitiva independente de recaídas na Esclerose Múltipla

Estabelecer protocolos regulares que mensurem a capacidade cognitiva da pessoa com EM, independente de surtos é um ponto efetivo na qualidade de vida com EM

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Na esclerose múltipla (EM), o acúmulo irreversível de incapacidade pode ocorrer em qualquer estágio da doença e através de dois mecanismos principais: o agravamento associado a surtos e a progressão independente da atividade de surtos (PIRA). Apesar das melhorias na eficácia e segurança das terapias modificadoras da doença mais recentes, o papel da PIRA no início da EM ainda permanece um desafio. Além disso, os efeitos de incapacidade a longo prazo, incluindo o impacto na cognição, de pacientes que apresentam PIRA ainda são em grande parte desconhecidos.

À medida que os surtos passaram a ser melhor gerenciados, a conversa na comunidade de EM se voltou mais para a progressão da incapacidade, especialmente para pessoas com formas mais progressivas da doença. No MSMilan 2023, a reunião conjunta ECTRIMS-ACTRIMS, realizada de 11 a 13 de outubro em Milão, Itália, o Dr. Tom Fuchs fez uma apresentação sobre os efeitos da EM na cognição, incluindo a progressão cognitiva independente da atividade de recaída ou surtos. Em sua apresentação, ele discutiu o papel do PIRA e como ele representa uma proporção maior do acúmulo de incapacidade do que inicialmente percebido.

Após sua apresentação, o pesquisador do Amsterdam University Medical Center, deu uma entrevista sobre a possibilidade de medir a deterioração cognitiva relacionada ao PIRA em ambientes clínicos. Ele falou sobre a necessidade de expandir as formas de medir cognição amplamente utilizadas e a viabilidade de monitorar os pacientes ao longo de um período de longo prazo. Além disso, ele fez comentários finais sobre a importância não apenas de estudar o PIRA, mas de ter conversas saudáveis com os pacientes sobre de onde pode estar vindo sua incapacidade e quanto dela está relacionada a recaídas.

  • Apesar de existirem ferramentas disponíveis para monitorar a cognição na EM, é preciso ter técnicas especiais adicionais que possam ser usadas clinicamente;
  • Para avaliar o declínio cognitivo, pacientes e médicos precisam entender qual a patamar inicial do paciente;
  • Diferentes instituições criaram protocolos para cognição na EM, no entanto, ainda é necessária conscientização maior dos efeitos do declínio cognitivo.

“Estamos aprendendo que até 50% da incapacidade acumulada na esclerose múltipla não tem nada a ver com recaídas e tem pouco a ver com lesões na matéria branca. São as coisas que não estamos medindo. É a atrofia cortical, a atrofia da medula espinhal e talvez não estejamos controlando as terapias modificadoras da doença utilizadas em nossos pacientes.”

Com qual frequência devemos medir o declínio cognitivo, quais as recomendações, e se temos as ferramentas adequadas para tanto?

Sim, temos as ferramentas. Os BICAMS (Sigla, em inglês que se traduz por: Avaliação internacional rápida para cognição em Esclerose múltipla). Uma bateria testes de 15 minutos que medem 3 quesitos cognitivos: velocidade de resposta, memória visual espacial e memória verbal. São muito sensíveis e bem avaliados, e são uma boa janela para algo maior. E especialmente, podem ser conduzidos por praticamente qualquer profissional de saúde, médicos generalistas, estudantes, enfermeiros etc.

Por que precisamos estabelecer um ponto de partida ou patamar específico para cada pessoa?

Se você sempre foi, por exemplo, uma pessoa muito rápida para dar respostas, e de repente por causa da EM percebe que você não está mais pensando tão rápido, ou não lembra as coisas tão bem quanto antes. É importante, pois afeta sua vida, seu cotidiano. Antes utilizávamos como baliza a média das pessoas com determinada idade, mas e se você estiver insatisfeito não porque está pior que as pessoas a sua volta, mas porque está pior em comparação com você mesmo? Por isso precisamos estabelecer qual o patamar do qual você saiu.

Com qual frequência?

O progresso para inclusão destes protocolos é lento, pois é preciso maior conscientização clínica para esta necessidade. Mas acredito que idealmente deveríamos fazer esses exames ao menos, a cada dois anos, pois ao fazer esse monitoramento podemos avaliar a progressão de perda cognitiva.

Matéria original publicada em outubro de 2023 por Neurology Live, acesse aqui.

Tradução e adaptação Redação AME

 

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