O conhecimento fica mais completo cada vez que é dividido em palavras e se torna acessível a muitas pessoas.
(Ivenio Hermes)
Ontem se comemorou no mundo inteiro o Dia Mundial da Esclerose Múltipla – 2015, sendo o tema da campanha a acessibilidade. Muito se fala sobre lugares acessíveis, como eu mesma escrevi no post anterior, porém, pouco se fala sobre pessoas acessíveis.
Eu tenho tido contato com muitos esclerosados depois do meu diagnóstico e posso assegurar que muitos são nada acessíveis, são pessoas que se fecharam em conchas e não permitem que ninguém as abram.
Tenho pleno entendimento que a personalidade humana é multifacetada. Ninguém é igual a ninguém e ainda bem que é assim. No entanto, a fim de que possamos sobreviver neste mundo que está cada dia mais globalizado, temos de nos inserir como gente, no meio das gentes que estão lutando e vivenciando o mesmo ou o extremamente parecido que nós. Simplesmente negar que estamos doentes ou minimizar os sintomas alheios porque nós nunca os sentimos é uma forma de nos tornar inacessíveis aos que nos buscam com a finalidade de compartilhar suas dores e angústias, ou mesmo suas vitórias e superações, na companhia da Esclerose Múltipla.
Ser alguém acessível, para mim, é respeitar opiniões, respeitar as limitações alheias, é aceitar que ninguém tem de pensar ou sentir o mesmo que eu sinto, nem muito menos ter a mesma forma de enfrentamento que eu tenho. Seres humanos são diversos e ,muitas vezes, divergentes, mesmo quando estão lutando contra o mesmo mal.
Conheci pessoas para as quais falar sobre a EM é tabu. São esclerosadas, mas se negam a dizer até mesmo para a própria família, para o chefe no emprego, para os amigos, na verdade, negam até para si mesmos que possuem a enfermidade. Daí vem a pergunta: como pessoas assim serão acessíveis aos tratamentos? Como serão acessíveis às novas condições de vida que a EM, a curto ou a longo prazo, acaba por nos impor?
Por outro lado, também conheci pessoas que estão com muitas sequelas visíveis. Problemas de marcha, de fala e tantos outros que a EM pode provocar, mas que negam isso para elas mesmas e, por essa razão, negligenciam tratamentos, se recusam a fazer terapias (como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e outras) e até mesmo às consultas neurológicas elas deixaram de ir porque acreditam mais nas terapias alternativas do que na medicina tradicional. Nada contra, cada um sabe o que é melhor pra si, no entanto, sabemos que a EM não é uma doença que vai desaparecer das nossa vidas. Ela veio pra ficar e se for negligenciada ou relegada à segundo plano, ela vai se agigantar até nos deixar inválidos. Temos de ser acessíveis aos tratamentos disponíveis e usar as terapias alternativas como complemento e não como tratamento único.
Outro ponto que faz de nós seres acessíveis é quando nos propomos a informar e conscientizar sobre a nossa doença, pois, só assim derrubaremos as fronteiras do preconceito e de todo o misticismo que cerca a EM. Não bastam as campanhas realizadas pelas organizações de apoio, precisamos nos tornar acessíveis e esclarecer a quantos pudermos sobre a diversidade de sintomas, a imprevisibilidade, as multifacetas que nossa companheira de vida possui, porém, para que façamos isso, antes de tudo, temos de ser acessíveis à receber informações para que possamos conhecer detalhadamente o que se atrelou a nós, porque temos de ter conhecimento do que falamos para sermos pessoas verdadeiramente acessíveis.E você, é acessível?
Beijos acessíveis a todos!