Me considero uma pessoa privilegiada em vários aspectos, inclusive por ter sido convidada a participar deste grupo de blogueiros.
Que nova e maravilhosa experiência!
Para começar, gostaria de contar a impressionante trajetória da esclerose múltipla nos últimos anos.
Seguramente para os pacientes a impressão deve ser de que as coisas da esclerose múltipla evoluem muito lentamente e de modo pouco eficaz.
Ledo engano.
Começando pelo diagnóstico da doença: a primeira descrição oficial é de 1860 por Charcot.
A primeira tentativa de “organizar” a esclerose múltipla foi chegar em 1965 com os Critérios Diagnósticos de Schumacher. Cem anos entre um fato e outro.
Estes Critérios de Schumacher trouxeram mais uma revolução, pois sua construção ocorreu para possibilitar a realização de estudos clínicos em esclerose múltipla.
Novos Critérios Clínicos foram desenvolvidos por Poser em 1983. Apenas 18 anos após Schumacher…
Não foi pequena a revolução dos Critérios de Poser. Além de incluir ferramentas diagnósticas novas como a tomografia cerebral computadorizada e os potenciais evocados, definia vários conceitos clínicos ainda hoje válidos.
Em 2001, McDonald e um grande grupo de especialistas revisam os critérios frente às novas realidades. São 18 anos de novo…
Agora reina a ressonância magnética e a definição de diagnóstico e critérios para início do tratamento são bastante modificados.
Vejam só , em 2005 esses Critérios já são revisados! Cinco anos… e são novamente modificados em 2010.
Todo o ritmo da Esclerose Múltipla é outro!
Agora falando em tratamento.
Nos anos 1980, só havia corticoide. ACTH, dexametasona e prednisona. Altas doses continuadas, muitos efeitos colaterais, muitos problemas clínicos secundários aos tratamentos e baixa eficácia. Os pacientes pagavam um alto custo pessoal, para um ganho muito pequeno.
No início dos 1990, começamos a fazer pulsoterapia com metilprednisolona e já foi muito bom. Conseguíamos uma resposta neurológica melhor no manejo dos surtos. Pelo menos.
Em 1993, pela primeira vez, 133 anos após Charcot, surge a primeira droga específica para o tratamento da esclerose múltipla, o beta-interferon 1 b. É o início do ciclo das drogas chamadas modificadoras da doença. Na sequência vem os beta-interferons 1 a e o acetato de glatiramer.
Pude assistir a profunda diferença que a introdução destas drogas trouxeram para o dia a dia dos pacientes e para a sua evolução a longo prazo.
Ok. Nada maravilhoso, não é a cura dirão aqueles que convivem com a doença.
Estas drogas modificadoras da doença são injetáveis, tem efeitos colaterais desagradáveis. Mas nem de longe as pessoas convivem com as dificuldades e riscos do uso de altas doses de corticoide oral por meses, anos e seus pesadíssimos efeitos adversos.
Por outro lado, o impacto na incapacitação, na vida real foi enorme e positivo.
Entramos os anos 2000 ambiciosos, todos queríamos mais agora que sabíamos melhor por onde caminhar.
Em 2005, uma nova forma de controlar a doença surge com o natalizumab. A porta que se abriu foi imensa. Muitas outras formas de abordar o tratamento chegam na sequência..
Cinco anos depois, passamos a ter o fingolimod com outra abordagem da rota imunológica.
Após o fingolimod, quase enfileirados fomos apresentados a teriflunomida, ao dimetil-fumarato e ao alentuzumab todos gestados durante os anos 2000 e prontos para ajudar um pouco mais.
Quanta riqueza!
Ok, ainda são drogas complicadas, nem todos tem indicação para usar, nem todos toleram, nem todos respondem bem, não é a cura….
Mas hoje temos mais drogas eficazes, podemos ter alternativas para individualizar cada mais vez os tratamentos e obter melhores respostas terapêuticas, evoluções mais tranquilas, menos surtos, menos incapacitação e, consequentemente, uma vida mais normal e produtiva.
Eu, depois de acompanhar esses cenários (não participei do período do Charcot e do Schumacher, só para esclarecer e não parecer a matusalém da Esclerose múltipla…), sou otimista.
Estamos muito a frente e com conhecimento fortemente embasado em estudos clínicos, só coisas positivas podem vir no futuro próximo.
Eu já estou esperando, n a maior expectativa.
Até o próximo post!