Olá queridos, tudo bem com vocês? Hoje quero falar sobre um assunto sobre o qual venho refletindo a algum tempo: as oportunidades que as doenças nos trazem.
Não, ficar doente não é bom. Seja uma doença grave e fatal ou um resfriado comum. Estar doente significa sentir-se mal, fraca pra dizer o mínimo.
Devemos buscar sempre a saúde, ter hábitos e comportamentos que promovam sempre nosso bem estar e nos permitam ser saudáveis. Mas quando a doença se instala, além de buscar o melhor tratamento e a cura quando possível, podemos encarara-la com outros olhos. Como disse a Fabi no seu último post, vamos usar os limões que a vida nos dá pra fazer caipirinha.
Quando temos uma gripe, somos “obrigados” a fazer um repouso, beber mais líquidos, nos alimentar melhor, nos mantermos aquecidos para sofrer menos com os sintomas e não termos complicações. Então, a gripe vai continuar sendo chata, nos deixando mal. mas pode ser uma oportunidade de dar aquela descansada que estamos precisando mas não nos permitimos pelas exigências da vida: trabalho, estudos, filhos, etc.
Uma doença grave como a Esclerose Múltipla ou potencialmente fatal como uma câncer não são uma coisa boa em hipótese alguma, não é isso que estou querendo dizer. A reflexão que me faço e que agora proponho a vocês é de que, alguma coisa boa a gente precisa tirar dessa porcaria toda.
Uma doença terminal, por exemplo, pode permitir despedidas, conclusões, direcionamentos. Uma pessoa que sabe que irá morrer em um mês pode usar esse tempo para dizer às pessoas que ama o quanto elas lhe são importantes. Pode perdoar e pedir perdão, livrar-se de antigas mágoas. Pode cercar-se das pessoas que lhe fazem bem. Pode usar esse tempo para estudar suas possibilidades e lutar por elas. Ou pode perder o mês todo se lamentando.
Com a EM, estamos quebrados. Em maior ou menor grau, todos nós fomos partidos, com algum pedacinho de nós que permite o bom funcionamento do nosso corpo faltando . Então precisamos completar esses espaços com algo diferente.
Já falei sobre esse assunto num post intitulado Foco nas Capacidades lá no meu blog “Uma mãe esclerosada”. Mas vai além de explorar novos talentos e habilidades. Falo sobre reflexões em si. Todas as questões que a doença nos impõe, trazem com elas duas possíveis atitudes: a revolta ou a reflexão. E é disso que estou falando, sobre a oportunidade que a doença nos traz de parar e refletir sobre diversos aspectos da nossa vida. E que a reflexão, o auto conhecimento e entendimento são sempre melhores e mais produtivos que a revolta.
Independente de qual religião você siga, ou até se não segue nenhuma, esse movimento de juntar os nossos cacos vai nos trazendo mais entendimento, sabedoria e paz.
“Quando os japoneses reparam objetos quebrados, eles enaltecem a área danificada preenchendo as fissuras com o ouro.
Eles acreditam que, quando algo sofre um dano e tem uma história, torna-se mais bonito.
A arte tradicional japonesa de reparação de cerâmica quebrada com um adesivo forte e spray, imediatamente após a cola, com pó de ouro, chama-se Kintsugi.
O resultado é que as cerâmicas não são apenas reparadas mas tornam-se ainda mais fortes do que seu estado original. Em vez de tentar esconder as falhas e fissuras, estas são acentuadas e celebradas como as que se tornaram, agora, as partes mais fortes da peça.
Kintsukuroi é o termo japonês para a arte de reparar com laca de ouro ou prata, o que significa que o objeto é mais bonito por ter sido quebrado.
Levemos essa imagem para o terreno do humano, ao mundo do contato com as pessoas que amamos e que, às vezes, ferimos ou nos ferem.
Quão importante resulta a reparação!
Como é importante também entender que os vínculos fissurados ou quebrados e nossos corações machucados, podem ser reparados com os fios dourados do amor e se tornarem mais fortes.
A ideia é que quando algo valioso se quebra, um bom caminho a seguir é não esconder sua fragilidade nem sua imperfeição, e repará-lo com algo que toma o lugar do ouro – vigor, virtude… Isso mostra as imperfeições e fragilidades, mas também é uma prova de resiliência: a capacidade de recuperar-se, e são dignos de muita consideração.(Trecho de texto retirado da internet, desconheço a autoria)
Trazendo a arte do Kintsukuroi para nossa vida, isso significa não esconder nossas fragilidades e imperfeições, mas preenche-las de coisas boas, como um novo e melhor posicionamento sobre nossa vida e dos problemas que nos cercam. Juntar nossos cacos com novas virtudes e assim nos tornarmos pessoas melhores.
Não é nossa culpa estarmos doentes e se você acredita em Deus, também não é culpa dele. Ninguém “nos dá” a doença e nem nós a merecemos para que tenhamos oportunidade de nos tornarmos melhores. Mas nada nos impede de fazermos essa contingência virar oportunidade.
Cabe a nós decidirmos entre a revolta e a reflexão, entre preencher nossas fissuras com ouro ou permanecermos quebrados. E você, vai escolher o quê?