EM e paternidade (Parte II) – Sobre cuidados

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Há uma máxima no futebol que diz: “o medo de perder, tira a vontade de ganhar”. Acho que essa frase define bem o tema desse post. Ser pai com uma deficiência é sentir-se em falta o tempo todo. E estou convencido que essa sensação independente de gênero, idade ou da existência ou não de uma deficiência. Assim, seria melhor dizer apenas: ter filhos é sentir-se em falta.

No meu caso faltam muitas coisas. Sei das minhas limitações e sei que também necessito de cuidados. Às vezes, sinto que já ajudo se não atrapalhar. Durante anos aprendi o que é ser cuidado. Até escrevi uma série de posts aqui na AME sobre essa relação. Pra mim, foi pedagógico pensar e escrever sobre isso. Afinal, ser cuidado é um aprendizado. Exige que você pense sobre a dependência, a autonomia e a individualidade.

Ser cuidado é uma relação ainda mais profunda quando sua principal cuidadora é a sua esposa. No entanto, desde o nascimento do Francisco fui novamente convidado a refletir sobre o tema e rever minhas atitudes. Dois fatos foram essenciais para isso: a presença do Francisco e a cirurgia da minha mãe.

Com relação a esse último ponto; foi uma cirurgia simples – a retirada de nódulos inespecíficos em um dos seios –, mas que como todo procedimento cirúrgico causa preocupações e exige cuidados. Alguns deles são: não movimentar o braço esquerdo acima do ombro, não se abaixar e não pegar peso. Isso causou dois impactos principais: o primeiro se deve ao fato de não poder contar com a minha mãe, minha principal cuidadora desde a gravidez da Bruna, para me levantar, segurar ou empurrar a cadeira durante sua recuperação; e o segundo que de cuidado também passei a cuidador.

Como defendi antes, essa é uma relação fluida, em que os papéis não estão definidos de começo. Às vezes, é necessário cuidar do cuidador. E, nesse caso, me cabia não ficar solicitando sua ajuda em ocasiões que lhe podiam ser prejudiciais ou exigiam força. Também tive, muitas vezes, que chamar sua atenção a respeito de algo: não abaixa! Cuidado com esse braço! Não me segura! Ser cuidado, a aceitação da dependência, não é uma chave que se liga da noite para o dia, mas um longo processo. Ainda mais para pessoas que estão acostumadas com a independência e em cuidar, mais do que ser cuidada.

O mesmo serve na relação com o Francisco. Aliás, sua chegada me fez repensar todas as outras relações. A EM, às vezes, nos ensina a sermos mais egoístas. Não tanto no sentido ruim da palavra, mas como uma forma de proteção. Não nos preocupamos tanto em querer agradar os outros. Ao contrário, muitas vezes somos chamados a pensar em nós, nas nossas dores, nos nossos cansaços, antes de tudo. Mas o que fazemos com nós, as dores e os cansaços, quando temos ao nosso lado um serzinho que depende de nós pra tudo?

Sei das minhas limitações e sei que só conseguirei ajudá-lo se estiver bem. No entanto, às vezes, ficava tão preocupado em não atrapalhar, que deixava de lado o que podia fazer para ajudar. Sou grato pela mulher incrível que tenho ao meu lado, que não exige coisas que não consigo fazer, mas somente aquilo que consigo fazer. Às vezes, devido a esse sentimento de falta, nos sentimos culpados e acabamos caindo na armadilha do capacitismo.

No entanto, em ambas as situações, só atrapalhar não bastava. Era necessária uma postura ativa de minha parte, de tentar ajudar, mais do que não atrapalhar. Precisava de uma atitude voluntária, de autorrealização, de independência; e isso não significava ir além dos meus limites, mas atuar dentro do melhor que podia oferecer. A participação ou engajamento não exigem perfeições ou formas prontas, mas a presença.

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Assim, pensei o que poderia oferecer dentro das minhas capacidades. Francisco, já que não consigo ficar em pé te ninando, pensei em escrever a partir do próximo post sobre alguns temas, coisas que gostaria de lhe ensinar. Muitas delas aprendi com sua mãe, com sua avó, com a minha formação profissional ou com o convívio com a EM. Espero que sejam dicas úteis, não só pra você.

 

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