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Oi gentes, tudo bem com vocês?

Por aqui tudo ótimo! Estou com 34 semanas de gravidez (olha no Google quantos meses isso dá…heheheheh)… à espera do nosso querido Francisco

Nos últimos meses tenho pensado muito mais sobre gravidez e maternidade do que sobre EM. E só agora percebi que ainda não havia escrito nada aqui na AME sobre isso. 

Na verdade não tenho escrito muito sobre o tema. Principalmente porque eu e o Jota resolvemos falar, toda semana, lá no Youtube, sobre essa viagem que embarcamos quando decidimos engravidar. Já temos 28 vídeos falando sobre ter EM (nós dois) e a gravidez, as expectativas com a maternidade e a paternidade etc. Se você ainda não viu nenhum, abre lá no EM e o Bebê.

Fazer esses vídeos nos aproximou do nosso pequeno antes mesmo dele nascer. Ter que pensar sobre para falar foi um importante processo de construção das nossas identidades materna e paterna. Afinal, a gente não nasce mãe e pai, a gente vai se tornando. Pra mim, essa coisa de falar para tornar-se é importante. Não por acaso eu fiz o meu blog há 7 anos. Não por acaso eu escrevi minha tese de doutorado sobre isso (meu próximo post vai ser sobre a tese). Estar falando sobre a maternidade nos vídeos tem nos tornado pai e mãe ao longo dessa caminhada. 

Antes de eu engravidar, eu fazia (na minha cabeça apenas) uma analogia entre a gravidez a o diagnóstico. Como eu nunca tinha engravidado, não me achava no direito de falar de uma experiência por mim nunca vivida. Mas agora, que eu já tenho ela, posso falar abertamente que ter um diagnóstico é muito semelhante a gerar um filho. 

Aí você pode dizer: Bruna, sua lôca, mas ter um filho é (ou pode ser) uma escolha, já ter uma doença não! Sim, eu sei disso. Não estou dizendo que ter a doença é uma escolha. Não é aí que mora a semelhança. Mas no aprendizado da mudança, nas mudanças do corpo e no tornar-se uma coisa que não se é.

A gravidez muda a gente. Muda completamente. Desde o corpo, que vai ficando redondinho redondinho (tô amando isso gente…sério, nunca me achei tão linda quanto agora), até nossa alma, nosso ser, que passar a ser outro, passa a ser o eu mãe. Precisamos começar a conhecer um mundo que antes era só daquelas mulheres com quem convivemos, as mães. Precisamos, ainda na gravidez, ler, entender, ouvir, perguntar tudo sobre a criação desses serzinhos que vem ao mundo. Precisamos parar de comer e beber algumas coisas, mudar hábitos diários, aceitar (e ser grato a) o cuidado do outro quando necessário (eu precisei no início, quando tive pressão baixíssima e agora no final, porque estou fazendo repouso pra segurar o menino mais tempo dentro de mim). Precisamos entender esse corpo com novas curvas, com secreções antes desconhecidas (não só o colostro, que no meu caso começou a vir com 32 semanas, mas corrimentos vaginais intensos que ninguém nos conta antes de engravidar), com esse peso todo (eu ganhei 10kg até agora), com dores nas costas, azia na hora de dormir e pontadas nas costelas, na bexiga, na pepeca… A gente começa a olhar os bares e restaurantes que tem área kids, a ler sobre açucar, papinhas, fraldas, cadeirinha pra carro e descobre como é caro tudo que é de bebê. A gente aprende coisas que não precisava antes de se tornar mãe. Não porque não fossem informações úteis, mas não faziam parte da nossa vida. E não precisavam fazer. Nessa caminhada a gente conhece outras mães e outras grávidas. A gente herda conhecimento e até roupinhas e utensílios dos filhos dessas mães que nos ajudam nesse início. Parece que é muita coisa pra absorver, mas a gente vai aprendendo e vai vendo o que, da experiência dos outros é útil pra gente. A gente cria as próprias estratégias de sobrevivência e vai curtindo todo essa transformação na nossa vida. A gente entende que não é fácil, mas não é impossível e pode ser lindo. 

O diagnóstico de uma doença como a EM muda completamente nossa vida. Precisamos nos habituar com esse corpo diferente, esse corpo que tem uma doença e que precisa de muitos cuidados especiais. Esse corpo que dói, que pinica, que não obedece. Precisamos nos acostumar com um novo ritmo de vida. Precisamos nos acostumar com um novo vocabulário e siglas como RM, EM; nomes como eletroneuromiografia e liquor passam a ser palavras corriqueiras para quem antes não fazia ideia de nada disso. A gente precisa aceitar (e ser grato a) o cuidado do outro, que as vezes se torna mais que necessário. A gente começa a prestar atenção nos bares e restaurantes que tem acessibilidade, muda alimentação, hábitos de sono, toma um monte de remédios e aprende até a se dar injeção.  A gente aprende coisas que não precisava antes de ter EM. Não porque não fossem informações úteis, mas não faziam parte da nossa vida. E não precisavam fazer. Nessa caminhada a gente conhece outras pessoas com EM. A gente conversa com elas e aprende muito sobre essa experiência. Parece que é muita coisa pra absorver, mas a gente vai aprendendo e vai vendo o que, da experiência dos outros, é útil pra gente. A gente cria as próprias estratégias de sobrevivência e vai curtindo todo essa transformação na nossa vida. A gente entende que não é fácil, mas não é impossível e pode ser lindo. 

Viu só como pode ser parecido? 

A verdade é que, tanto com a EM quanto com a questão da maternidade, a gente nunca mais vai ser quem era antes desse fato. Nunquinha. Nem por um segundo. E isso não é necessariamente ruim. Ainda não tenho meus filhos nos braços, mas acredito que sim, pode ser que um dia, ou dois, ou vários, eu até pense em como seria se eu não tivesse ele comigo. Mas assim como hoje é com a EM, eu mal vou lembrar como é SER antes de sua chegada na minha vida. 

Podemos encarar as mudanças nas nossas vidas como mortes e como nascimentos. Tanto uma coisa quanto outra é passagem, é caminho que se faz. Tanto morte quanto nascimento são experiências decisivas e traumáticas. E ambas podem trazer sofrimento ou felicidade. Aí vai da gente, da forma como a gente percebe as mudanças, escolher o que vai ser. 

Eu escolhi, tanto no diagnóstico como na gravidez ver mais a grande oportunidade de vida que vem com a expectativa do nascimento, do novo, do diferente, que o luto de um eu que não sou/serei mais. Para mim foi a escolha mais leve, mais fácil e mais certa. Isso não quer dizer que seja também para você que lê.

Vou ficando por aqui, sentindo nenhum sintoma de EM (sim, é verdade isso de que a EM some na gravidez… pelo menos pra mim foi), e na expectativa de que Francisco chegue a qualquer momento.

Até mais!

Bjs

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